“Jamais deixarei a luta política”, afirma José Genoino

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Em entrevista ao jornalista Paulo Moreira Leite, publicada na edição deste fim de semana da revista IstoÉ, o deputado federal licenciado José Genoino (PT-SP), reafirmou sua condição de preso político, deu detalhes de seu estado de saúde, falou sobre o absurdo de ser condenado por corrupção sem nunca ter mexido com dinheiro e disse que continuará na luta.

“Jamais deixarei a luta política. Posso ter que mudar a forma, o local e o uniforme, mas o sentido da minha vida é lutar por sonhos e causas. Nunca lutei por questões pessoais. Não tenho patrimônio nem riqueza material”, afirmou.

A entrevista foi concedida antes de ele deixar o presídio da Papuda, no entorno do Distrito Federal, para receber atendimento médico de urgência num hospital de Brasília. Leia a íntegra:

P_ Qual foi sua sensação ao entrar na prisão?

R- Vieram à minha cabeça imagens terríveis de quando fui preso durante a ditadura. A primeira em 1968, a segunda em 1972. Mesmo com o tratamento digno e sério dos funcionários do sistema prisional, a sensação de estar preso injustamente é a mesma. Reafirmo que a tranquilidade da consciência dos inocentes é a mesma.

P- Por que o sr. diz que é um preso político?

R- Não cometi nenhum crime. Estou preso porque era presidente do PT. Isso faz de mim um preso político.

P- No início do julgamento, a acusação dizia que o sr. era culpado porque tinha assinado empréstimos fraudulentos. Depois, a acusação parou de falar sobre isso. O sr. poderia explicar por quê?

R- Os empréstimos estavam na contabilidade do PT apresentada ao Tribunal Superior Eleitoral. Nossas contas foram aprovadas pelo TSE. Os empréstimos foram parcelados e finalmente quitados. Eram empréstimos necessários para o partido, transparentes e verdadeiros, como demonstrou a investigação da Polícia Federal.

P – Qual foi o momento mais tenso do julgamento?

R – A dosimetria da pena me pegou de surpresa. Fui condenado por corrupção, sem nunca ter mexido com dinheiro, e por formação de quadrilha. Nós, no PT, não nos associamos para cometer crimes e sim para mudar a realidade do Brasil.

P – O sr. nunca pensou em fugir, como fez Henrique Pizzolato?

R – Não, nem na época da ditadura saí do país.

P – Sem diminuir as principais responsabilidades pelos erros do processo, muitas pessoas criticam o PT por não assumido a defesa de vocês no tempo certo. O sr. concorda com a crítica?

R – Não quero opinar sobre este assunto. Mas agradeço o apoio da militância e da bancada do PT na Câmara e no Senado. Os dirigentes também me apoiaram e a manifestação de cidadãos anônimos me emociona bastante.

P – Durante muitos anos, quando estava na oposição, o PT estimulou denúncias de caráter moral e fez acusações que nem sempre foi capaz de sustentar. O sr. acha que nesse processo o partido provou do próprio veneno?

R – Em parte sim.

P – Ocorreram erros e abusos depois que o sr. se apresentou à Polícia Federal em São Paulo?

R – Fui tratado com muito respeito pelos delegados e agentes penitenciários. Mas fiquei preso em regime fechado dois dias porque faltou a expedição da necessária carta de sentença. Depois de uma viagem de um dia inteiro, totalmente desnecessária, ficamos quatro horas em um pátio porque não sabiam onde nos colocar. Se não sabiam onde nos colocar, por que nos fizeram viajar? Acabaram nos levando para um presídio de segurança máxima sendo quem deveríamos ter sido mantidos em São Paulo, no regime de segurança máxima.

P – Entre os diversos condenados, o sr. parece ter uma imagem melhor do que os outros. A que se pode atribuir isso?

R – Prefiro não me diferenciar de nenhum dos condenados. Sou o que sou há mais de 45 anos, um militante político.

P – Quando o sr. soube que era um cardiopata grave?

R – Em 24 de julho, em Ubatuba, tive uma crise de dissecção da aorta que culminou numa cirurgia de oito horas com a colocação de uma prótese de 15 cm para substituir a principal artéria do corpo humano. Fiquei um mês internado e tive uma pequena isquemia cerebral, que exige o controle permanente de coagulação do meu sangue.

P – Como está sua condição física agora?

R – Continuo sentindo dores no peito. De manhã, o escarro parece ter cor de sangue. Tenho palpitações algumas vezes, dormência nas pernas e alterações na voz, razão pela qual devo fazer uma biópsia.

P – O sr. aguarda uma manifestação do Congresso sobre sua aposentadoria. Pode-se dizer que José Genoino está deixando a política, que ocupou 50 anos de sua vida?

R – Jamais deixarei a luta política. Posso ter que mudar a forma, o local e o uniforme, mas o sentido da minha vida é lutar por sonhos e causas. Nunca lutei por questões pessoais. Não tenho patrimônio nem riqueza material. Quem quiser pode vasculhar meus dados bancários e fiscais.

P – Como o sr. encara seu futuro?

R – Até quando puder, lutarei pela minha inocência e por um Brasil justo, soberano me democrático. Cumpro as decisões da justiça com indignação.

Rede Brasil Atual

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