Considerado a “inflação da porta de fábrica”, pois não considera impostos nem fretes, o Índice de Preços ao Produtor (IPP) subiu 1,86% em agosto, na comparação com julho. No ano, o aumento acumulado nos preços da indústria chegou a 23,55%. Em 12 meses, a alta é de 33,08%.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), todas as 24 atividades analisadas apresentaram alta. Isso só havia ocorrido em agosto de 2020, no auge da pandemia no mundo. Em julho de 2021, 20 atividades já haviam registrado alta.
Em julho, os preços para a indústria subiram 1,94%, e o resultado acumulado do ano chegou a 21,39%, recorde da série histórica, iniciada em dezembro de 2014, para o período até julho. A variação em sete meses já era maior do que a verificada em todo o ano passado (19,38%).
O gerente do IPP, Manuel Souza Neto, explica que a demanda aquecida do comércio internacional e a desvalorização do real frente ao dólar continuam causando impacto nos preços industriais no mercado interno.
“O movimento dos preços do minério de ferro e do óleo bruto do petróleo, por exemplo, afeta de forma quase direta os setores de químicos, de refino e de metalurgia. No setor alimentício, as exportações de commodities, como soja e milho, pressionam para cima os custos das rações para animais e, por consequência, das carnes”, afirmou.
A principal influência no IPP de agosto foi do setor de alimentos, com a contribuição de 0,51 ponto percentual para o índice. Na comparação com julho, os alimentos subiram 2,19%, a sétima taxa positiva no ano e a segunda maior de 2021, perdendo apenas para os 2,66% registrados em abril. O único mês que apresentou variação negativa foi junho (-0,14%). No ano, o segmento acumula alta de 12,47%.
“A elevação dos preços na indústria de alimentos foi impactada tanto pelo aumento de custo na criação dos animais quanto pela maior demanda. Além das exportações, também houve o impacto do mercado interno, com a volta às aulas presenciais e a tendência de substituição da carne bovina pela de frango”, observou Souza Neto.
Já o refino de petróleo e de produtos de álcool teve alta de 1,91%, a quarta consecutiva. No ano, o setor acumula inflação de 47,03%, a maior taxa da série para agosto. A maior influência foi a gasolina. Na indústria química, os preços subiram 2,82% em agosto, a maior alta desde abril (4,73%). O acumulado do ano está em 37,34% e, em 12 meses, a variação é de 50,49%.
“Esses resultados estão ligados principalmente aos preços internacionais, inclusive de diversas matérias-primas, importadas ou não, como a nafta. Um dos maiores responsáveis pelo aumento é o grupo dos fertilizantes, com alta de 6,93% no mês, acumulando 65,98% no ano e 73,63% nos últimos 12 meses. Esses dois acumulados são os maiores em toda a série”, afirma o economista.
O IPP acompanha a mudança média dos preços de venda recebidos pelos produtores domésticos. A inflação da indústria abrange as grandes categorias econômicas: bens de capital, bens intermediários e bens de consumo (duráveis, semiduráveis e não duráveis). O indicador é usado pelo IBGE para sinalizar as tendências inflacionárias de curto prazo.
Sem opção, famílias reviram lixos de supermercados em busca de alimentos. Com a alta da inflação, muitos têm que optar entre pagar a conta de luz, o aluguel e comprar comida. Este é o mais triste retrato do Brasil de Bolsonaro https://t.co/AnETmNDiB6
— Humberto Costa (@senadorhumberto) September 27, 2021
Carestia puxa juros para cima e derruba a confiança da indústria
Nesta quinta-feira (30), o Banco Central informou que subiu de 5,8% para 8,5% sua estimativa de inflação para o ano de 2021, com base no IPCA. A expectativa, que consta no relatório de inflação do terceiro trimestre deste ano, considera a trajetória estimada pelo mercado financeiro para a taxa de juros e de câmbio neste ano e no próximo.
O BC informou ainda que a probabilidade de a inflação superar o teto da meta de 5,25% para este ano passou de 74%, em junho de 2021, para 100% no documento desta quinta. Com isso, a autoridade monetária admite formalmente, pela primeira vez, que a meta não será cumprida neste ano. Quando isso ocorre, a instituição tem de escrever uma carta pública explicando as razões.
No documento, o BC indicou como causas principais para o descontrole inflacionário o aumento dos preços de “commodities” e os sucessivos aumentos das bandeiras tarifárias da energia, que causaram uma onda de choque de custos na economia.
O centro da meta de inflação fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em 2021 é de 3,75%, e seria considerada cumprida se ficasse entre 2,25% e 5,25%. Com isso, a projeção do BC está bem acima do teto. E quando as estimativas para a inflação estão acima da trajetória esperada, o BC eleva a taxa básica de juros (Selic), como tem feito.
A trajetória de alta começou em março, com a primeira elevação em quase seis anos, para 2,75% ao ano. Em maio, o Copom elevou o juro para 3,5% ao ano e, em junho, a taxa avançou para 4,25% ao ano. Em agosto, a taxa subiu para 5,25% ao ano e, na semana passada, foi elevada para 6,25% ao ano.
O Banco Central também indicou que deve promover um novo aumento de um ponto percentual na Selic em outubro, o que a levaria a 7,25% ao ano. A instituição sinalizou ainda que o ciclo de alta dos juros tende a prosseguir nos próximos meses.
Juros altos levam à paralisação de investimentos e de consumo, e ao aumento de incertezas nos setores da economia produtiva. O Índice de Confiança do Empresário Industrial, por exemplo, caiu em todos os 30 setores analisados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) entre 1º e 15 de setembro. É a primeira vez desde março de 2021 que uma forte queda de confiança atinge todos os setores da indústria.
Os setores que registraram as maiores quedas de confiança foram: Produtos de limpeza, perfumaria e higiene pessoal (62,5 para 53,4 pontos); Produtos farmoquímicos e farmacêuticos (63,4 para 54,9 pontos); Máquinas, aparelhos e materiais elétricos (65,1 para 57,2 pontos).
O indicador varia de 0 a 100, e os valores acima de 50 são positivos. No entanto, o gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo, avalia que a confiança se tornou mais fraca e menos disseminada em setembro em relação a agosto. A CNI ouviu 2.373 empresários – 948 de pequeno porte, 852 de médio porte e 573 de grande porte.
Por PT Nacional