De uma indústria em vias de extinção a um setor que deverá empregar cerca de 100 mil pessoas até 2017 e faturar 17 bilhões de dólares anualmente até 2020, segundo dados das entidades da área. Este é o retrato da década de renascimento da indústria naval brasileira, que saltou de 14 embarcações encomendadas em 2002 para 108 em 2012. O desafio agora, em vez de sobreviver, é alcançar a competitividade no mercado global.
Esta semana, durante a abertura de um importante evento do setor, a Marintec South America / Navalshore, o presidente da Petrobras Transporte (Transpetro), Sergio Machado, garantiu que não haverá retrocessos. “No passado, quando deu carrapato no boi, ao invés de matar o carrapato, matamos o boi. Isso não vai voltar a acontecer”, afirmou Machado, segundo o portal Petronotícias.
A avaliação de parlamentares do PT é semelhante. O deputado Edson Santos (PT-RJ), presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Indústria Marítima, também participou da mesa de abertura do Marintec. “A história contemporânea mostra que nenhuma nação é capaz de se desenvolver sem a participação do Estado na indução do desenvolvimento. Estamos atentos para a criação dos incentivos e das pré-condições necessárias para que o setor naval se consolide e se desenvolva. Neste sentido, temos compromisso com a política de conteúdo nacional, que estende a toda a sociedade os ganhos com a exploração do petróleo e a indústria naval”, disse.
Para o deputado Bohn Gass (PT-RS), o setor foi “abandonado” pela gestão tucana de Fernando Henrique Cardoso. “Antes dos governos Lula e Dilma, o governo não pensava no País. As compras de embarcações e plataformas eram feitas em Cingapura e outros países da Ásia, o que gerou emprego e avanço em ciência e tecnologia lá fora, quando poderia gerar estes benefícios aqui no Brasil”, diz o deputado gaúcho.
Tendo exercido seu primeiro mandato na Câmara ainda na era FHC, o deputado Fernando Ferro (PT-PE) lembra que a indústria naval “foi quase à extinção” sob o governo do PSDB, mas hoje passa por um momento completamente distinto. “A política de destruição da indústria naval aplicada pelos tucanos foi revertida a partir do governo Lula. Hoje, em vez de exportarmos emprego para Ásia, Europa e Estados Unidos, recuperamos a capacidade de participar do restrito clube da construção naval e estamos formando uma nova geração de engenheiros e de outros profissionais que estão atendendo à nova demanda da nossa indústria naval, que está conectada com as descobertas do pré-sal”, ressalta Ferro.
O deputado José Guimarães (PT-CE) destaca que a recuperação da indústria naval foi “uma decisão política baseada num outro modelo de Estado” que os governos do PT implantaram. “O governo colocou o BNDES e os demais bancos públicos para garantirem o financiamento de novas plataformas, embarcações, estaleiros e maquinário que surgiram como demanda do pré-sal e do modelo de partilha que adotamos. Se tivéssemos entregado o pré-sal para as multinacionais, como queriam os tucanos, não teríamos a indústria naval recuperada e vários outros setores alavancados. Nós entendemos que o Estado deve ser indutor da economia e do desenvolvimento social e econômico. Não acreditamos na visão do Estado mínimo, passivo, a serviço do mercado”, argumenta Guimarães, que presidiu a comissão mista do Congresso Nacional que debateu a Medida Provisória (MP 595/12) destinada a modernizar a legislação e o funcionamento dos portos brasileiros.
Citando números, o deputado Newton Lima (PT-SP) ilustra a recuperação do setor. “Em 2003, o setor empregava 7.465 pessoas e hoje emprega mais de 75 mil. Até 2017, serão gerados mais 25 mil novos empregos, segundo estimativa do Sindicato Nacional da Indústria de Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval). Quem reergueu a indústria naval brasileira, falida nos anos 80 e 90, foi o governo do ex-presidente Lula. Hoje o ritmo de investimentos em portos, navios e novos serviços mantém crescimento acelerado da ordem de 20% ao ano”, comemora Newton Lima.
Desafio – Na opinião dos petistas, a indústria naval dispõe de todos os elementos para superar seus desafios e seguir avançando. A priorização do conteúdo nacional, a diminuição da burocracia e a meta de disputar o mercado internacional são alguns destes desafios.
“Temos que não apenas manter o nível de conteúdo nacional, mas ampliar, e não só na indústria naval, mas nos demais setores da indústria, pois é isso que faz a diferença para o País. Com forte investimento dos agentes financeiros, poderemos gerar mais empregos e promover o desenvolvimento da inovação, da ciência e da tecnologia de ponta”, defende Guimarães.
“Devemos lembrar que na década passada esse setor foi completamente abandonado. E hoje ele está se reorganizando e fazendo as adequações necessárias para continuar avançando. Estamos dando passos largos para a modernização e a desburocratização e isso vai fortalecer muito essa indústria”, acrescenta Bohn Gass.
“Temos uma série de universidades que abriram cursos de engenharia naval, como a Universidade Federal de Pernambuco, que vão prover mão de obra qualificada para a demanda da indústria naval gerada pelo pré-sal e pelas necessidades da Petrobras. Estamos vivendo um boom de crescimento que precisa ser compatibilizado com a nossa capacidade fabril, com a reestruturação das cadeias produtivas agregadas à indústria naval, como a infraestrutura básica, a metalurgia, a eletrônica, a química, o transporte, a segurança, a produção de embarcações de pequeno e médio porte, inclusive para lazer e esporte, enfim, a dinâmica do setor hoje é muito grande”, explica Fernando Ferro, que defende a manutenção da exigência dos altos índices de conteúdo nacional na área.
No tocante à competitividade no mercado mundial, o coordenador executivo do Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (Prominp), Paulo Sergio Rodrigues Alonso, considera que a indústria naval do Brasil alcançará excelência internacional em até dez anos. “Os benefícios da consolidação de uma indústria naval forte, moderna e produtiva são permanentes. A indústria está avançando e realizando parcerias com sócios internacionais importantes. Dentro de sete a dez anos, o país poderá ter o mesmo grau de excelência dos melhores estaleiros da Coreia do Sul e do Japão desde que sejam superados desafios como a melhoria do planejamento e gestão e da produtividade, a integração das cadeias de suprimento, o investimento em pessoal, a modernização da construção e montagem e o resgate da engenharia industrial” afirmou o executivo, que também é e assessor da presidência da Petrobras para Conteúdo Local.
No momento, o setor naval possui 400 projetos com financiamento aprovado, de acordo com o jornal Valor Econômico. O BNDES é o maior financiador. Só de navios da Transpetro são 30 unidades financiadas pelo banco, em recursos do Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef 1 e 2). No primeiro semestre deste ano, as operações contratadas pelo BNDES somam R$ 8,02 bilhões para as embarcações da Transpetro, além de R$ 3,41 bilhões destinados aos estaleiros onde serão construídos os navios da empresa.
Rogério Tomaz Jr. com agências