A imprensa internacional repercute intensamente desde quarta-feira (31) o golpe parlamentar travestido de processo de impeachment que culminou com a saída definitiva de Dilma Rousseff da presidência da República. Vários veículos de comunicação destacaram a fragilidade das alegações que motivaram o afastamento e a falta de estatura moral do novo presidente, e dos acusadores da agora ex-presidenta Dilma.
Até veículos de imprensa notadamente conservadores e críticos a governos de esquerda, como o jornal argentino “Clarín”, destacaram as falhas ocorridas durante o processo de impeachment. O jornal lembrou que este é o segundo impeachment na história recente do país, e observou que as razões para os dois processos foram diferentes.
No caso de Dilma, disse o jornal, as razões “se baseiam em supostas irregularidades fiscais que, de acordo com sua defesa, não foram provadas”, enquanto no caso do ex-presidente Fernando Collor de Mello “a história foi muito diferente; sua saída obedeceu às acusações de corrupção que pesaram sobre ele”.
Um artigo do editor de política internacional do “Clarin”, Marcelo Cantelmi, afirmou que o Brasil caminha para um “buraco negro” ao “contornar as eleições”.
“O erro institucional de ter tirado Rousseff à força deste modo e o precedente inquietante de fragilidade democrática que derrama sobre a região têm um só agravante. O de não ter aprofundado o caminho para convocar eleições antecipadas, que elegeriam um governo eleito para pilotar uma tempestade que não terminará amanhã e se agravará inevitavelmente”, concluiu.
O jornal britânico “The Guardian” lembrou que Dilma enfrentou por mais de 10 meses esforços para seu impedimento por fornecer previamente fundos a programas sociais e por emitir decretos orçamentários sem a aprovação do Congresso antes de sua reeleição, em 2014.
“A oposição alegou que isso constituía um ‘crime de responsabilidade’. Rousseff nega e alega que as acusações – que nunca foram feitas a administrações anteriores que fizeram a mesma coisa – foram forjadas pelos adversários que eram incapazes de aceitar a vitória do Partido dos Trabalhadores”, disse a reportagem.
Ao também estampar a crise política brasileira, o jornal espanhol “El País” destacou que o afastamento definitivo de Dilma Rousseff ocorreu graças a fatores políticos e não jurídicos.
“No fundo, o impeachment sempre foi político”, afirmou o jornal, ressaltando o papel desempenhado pelo ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, durante todo o processo.
Em sua edição americana, o “The Guardian” também informou que a decisão do Senado fará com que Dilma Rousseff seja substituída pelos restantes dois anos e três meses de seu mandato pelo golpista Michel Temer, “um político de centro-direita, que estava entre os líderes da conspiração contra sua ex-companheira de chapa”.
Já a revista alemã “Der Spiegel”, publicou reportagem sobre a ascensão de Temer ao poder com o seguinte título: “O homem das sombras assume”. A revista também observou que o golpista do PMDB, “conduzirá o país com um programa de governo liberal-conservador até as próximas eleições em 2018”.
Falsos moralistas- O periódico argentino “Clarín” criticou a falta de autoridade moral dos acusadores de Dilma. Em um dos vários textos publicados sobre o afastamento definitivo, o jornal disse que “não deixa de ser curioso que o Congresso tenha afastado Dilma Rousseff enquanto um político acusado diretamente de corrupção pelo Supremo Tribunal Federal ainda sobrevive no cargo de deputado.
Trata-se de Eduardo Cunha”, comentou.
Já o “The Guardian” lembrou que a primeira mulher a exercer o cargo de presidente do Brasil foi tirada do poder “pelo Senado manchado de corrupção após um processo exaustivo”.
PT na Câmara com agências