Ida de comitiva da oposição à Venezuela é criticada e considerada ato de “disputa política”

ArlindoChinaglia Gustavo
 
A malfadada iniciativa de um grupo de senadores brasileiros em intervir de maneira nada diplomática em assuntos internos da Venezuela centralizou todos os debates da manhã desta quarta-feira (24) na Comissão de Relações Exteriores da Câmara. As discussões foram motivadas pela apresentação de um requerimento que convidava o embaixador brasileiro na Venezuela, Rui Pereira, a prestar esclarecimentos no colegiado sobre o episódio da visita do grupo brasileiro. 
 
Sob a liderança do ex-candidato à Presidência da República, senador Aécio Neves (PSDB-MG), a comitiva oficial viajou ao país vizinho na semana passada com o pretexto de visitar presos políticos, a convite de opositores do governo Nicolás Maduro. Deram meia volta depois que, a caminho do presídio, o veículo que os conduzia foi cercado por manifestantes que bloquearam a passagem. 
 
O deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), que atualmente responde pela Vice-Presidência do Parlamento do Mercosul pelo Brasil, analisou de maneira crítica a viagem da delegação. Ao expor seu entendimento, o parlamentar afirmou que se identifica com toda e qualquer comissão que se disponha a visitar outro país investida da responsabilidade de mediar possíveis conflitos. Entretanto, disse discordar de quem pretende fazer das disputas de outros países suas próprias disputas políticas. 
 
Chinaglia lembrou ainda que todos os senadores que estavam na comitiva fazem oposição ao governo brasileiro. “É evidente que uma sociedade polarizada, como a da Venezuela, assim como hoje é a brasileira, não aceite que alguém venha de fora, nitidamente, para manifestar apoio à parte contrária. Em minha opinião, foi de certa maneira uma atitude ingênua, pensar que não haveria manifestação popular”, falou.  
 
Arlindo também procurou dimensionar de forma mais plausível o bloqueio feito à comitiva, rechaçando a ideia de que se tratava de uma ação articulada pelo governo venezuelano contra os senadores brasileiros: “Pela foto, é perceptível que não é tanta gente assim. Um governo que conseguir mobilizar em torno de uma van somente aquela quantidade de pessoas está a um passo de cair”.
 
O parlamentar também aproveitou para derrubar os argumentos da oposição, que insiste em afirmar que o PT tem compromisso com o regime venezuelano. Para demonstrar que isso não é verdade, ele lembrou um episódio específico ocorrido em 2007, quando ocupava a Presidência da Câmara dos Deputados. Naquela ocasião, o então presidente venezuelano Hugo Chaves, já falecido, declarou que o Congresso brasileiro agia “como um papagaio do Congresso americano”. 
 
Ele recordou que respondeu oficialmente ao insulto com toda independência. Arlindo leu o fim da nota emitida como resposta: “A Presidência da Câmara manifesta seu veemente repúdio às declarações levianas e irresponsáveis do presidente da Venezuela, que não condizem com a estatura de um chefe de Estado”. 
 
Pouca relevância – Também presente à reunião, o deputado Marco Maia (PT-RS) aproveitou para criticar o destaque dado a um fato tão irrelevante em detrimento de questões internas sobre as quais os senadores da República deveriam se debruçar. 
 
O deputado também classificou de exagerada a iniciativa de usar o avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para ir à Venezuela fazer uma visita a um cidadão de conduta duvidosa e com condenação pelo judiciário daquele país. Marco Maia fez referência a Leopoldo Lopez, o suposto “preso político” da Venezuela, que foi o principal incitador de violentas manifestações em 2014, que resultaram em 43 mortes.
 
“Tenho certeza de que, se uma comissão brasileira sair daqui com o intuito de ir lá escutar, observar, consultar atores da política da esquerda e da direita com o objetivo de contribuir para a superação dos impasses que estão acontecendo, ela será muito bem recebida na Venezuela ou em qualquer outro país do mundo”, acrescentou. 
 
Marco Maia, que também já ocupou a Presidência da Câmara, avaliou ser ingenuidade entrar em outro país para fazer a disputa política e escutar apenas um lado da história, acreditando que não vai haver resistência “É como se eu, como torcedor do Grêmio, fosse para o estádio Beira Rio num dia de jogo do internacional… É óbvio que eu não seria bem recebido pela torcida”, comparou. 
 
Após toda a discussão, um dos autores do requerimento de convocação do embaixador brasileiro na Venezuela, deputado Eduardo Barbosa (PSDB-MG), pediu a retirada de pauta do requerimento. 
 
PT na Câmara

Foto: Gustavo Bezerra
Mais fotos: www.flickr.com/photos/ptnacamara

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