Governo FHC preparou privatização da Petrobras, diz Gabrielli

gabriele-18-10-10O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, confirma que o modelo que o governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) adotou para a Petrobras previa a privatização da estatal. O modelo de gestão da empresa no governo tucano reduzia a exploração petrolífera, desmembrava a área de refino, inibia investimentos e deixava o custo para a empresa e o lucro para o setor privado. “A continuidade daquela política levaria à privatização, ao desmembramento e a um enfraquecimento da Petrobras”, afirmou Gabrielli em entrevista à Folha de S. Paulo.

Abaixo, os principais trechos da entrevista:

Que elemento concreto o sr. tem para afirmar que o governo FHC tentou desmontar e vender a Petrobras? Isso não é uma politização e partidarização da empresa?

José Sergio Gabrielli – Não acredito que seja partidarização. Respondi a uma acusação feita pelo [David] Zylbersztajn sobre a Petrobras e sobre o regime futuro [da exploração de petróleo]. Tentei mostrar que o modelo de gestão da Petrobras no período do governo FHC levaria ao desmembramento, ao risco de inanição e à possível privatização da Petrobras.
A área exploratória da Petrobras era declinante. Se você continua declinando área exploratória, morre por inanição. Na segunda atividade mais importante, o refino, o que estava sendo feito era uma gestão de desmembramento, que permitiria a venda parcial das refinarias. Na geração elétrica, os contratos firmados claramente levavam a uma repartição. Todo o custo ficava com a Petrobras, e todo o lucro, com o setor privado.

A estrutura organizacional, fazendo com que se reproduzisse todo o sistema corporativo dentro de unidades de negócio estanques, exacerbadamente, era preparação clara para uma eventual privatização.

O governo parece usar a questão da privatização do mesmo modo que setores conservadores colocaram o tema do aborto no debate eleitoral.

José Sergio Gabrielli – Não estou usando a questão da privatização. Sou presidente de uma empresa que está sendo atacada. Estou defendendo a empresa. Estou propondo a discussão do mérito. Quero saber qual o futuro da Petrobras. O que se quer fazer dela? O que fazer com o pré-sal?

Uma eventual vitória de Serra traria risco de privatização?

José Sergio Gabrielli – Se a política for a mesma [de FHC], sim. Vai levar ao desmembramento da Petrobras e, portanto, ao enfraquecimento da capacidade dela de fazer o grande investimento que ela tem.

O sr. comanda uma empresa com milhares de acionistas e tem de responder a um governo com projeto político. Não há interesses contraditórios?

José Sergio Gabrielli – Acabamos de fazer uma capitalização na qual tivemos milhares de acionistas novos e bilhões de dólares adquiridos por acionistas fora do governo. Quer maior prova da aceitação da Petrobras?

E as críticas de que não foi um processo transparente?

José Sergio Gabrielli – Não houve nenhuma ação judicial. Nenhuma. Foi um sucesso em termos de demanda. Imediatamente depois, as ações se mantiveram estáveis. A variação que ocorreu na semana passada tem muito mais a ver com ajustes do portifólio de investidores em razão do aumento no IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
Houve ajuste de investidores da Petrobras que queriam comprar títulos públicos, que venderam ações para transformar isso em reais, sem precisar pagar os 2%.

Na exploração do pré-sal, por que o sr. prefere o modelo de partilha [divisão do óleo extraído entre União e empresas vencedoras de leilões, com a Petrobras operando todos os blocos e com participação mínima de 30% nos consórcios] ao de concessão [licitação feita pelo governo pelo direito de exploração]?

José Sergio Gabrielli – Temos na Bacia de Santos, a área mais nova e a mais desconhecida, mais de 20 poços perfurados com sucesso. Temos sísmica de alta qualidade, conhecimento geológico de alta qualidade e produção contínua, desde maio de 2009. Vamos iniciar produção comercial agora no final de outubro, início de novembro. Portanto, o risco exploratório na área do pré-sal é mínimo. Em áreas de risco exploratório baixo, fazer a concessão é dar ao setor privado, às empresas que investirem, a maior rentabilidade.

A obrigatoriedade de a Petrobras ter no mínimo 30% dos blocos na definição do modelo de exploração do pré-sal, sejam rentáveis ou não, não a expõe a riscos?

José Sergio Gabrielli – Se fosse limitada a alguns projetos, poderia ter esse risco. Mas, como é para todos, é muito improvável que todos sejam ruins. O fato de você estar presente em todos, minimiza muito esse risco.

Com informações da Folha de São Paulo

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