Corte na liberação de crédito para pequenas e médias empresas e fala do ministro Paulo Guedes deixam mulheres empreendedoras em estado de alerta.
No Brasil, cerca de 24 milhões de mulheres são empreendedoras e movimentaram, em 2019, R$ 830 milhões na economia brasileira, segundo o Sebrae. No geral, as pequenas e médias empresas são responsáveis por mais da metade dos empregos no País e pela produção de 27% do PIB brasileiro, ou seja, um quarto de toda a atividade econômica nacional.
No entanto, o governo Bolsonaro parece não estar muito preocupado com a garantia de empregos no País e a sobrevivência dessas empresas e famílias. Em 2020, o governo cortou US$ 2 bilhões de crédito para pequenas e médias empresas, totalmente na contramão de medidas internacionais de proteção da economia, por conta do Coronavírus.
Por outro lado, o sistema financeiro (bancos) recebeu, durante a pandemia, R$ 1,2 trilhão do governo federal, em torno de 240 vezes mais que o valor concedido às empresas — enquanto isso, cinco estados brasileiros estão a ponto de entrar em colapso no sistema de saúde, por conta do ajuste fiscal e dos cortes no SUS.
Nem a vida, nem a economia, muito menos as mulheres
“Nós vamos botar dinheiro, e vai dar certo e nós vamos ganhar dinheiro. Nós vamos ganhar dinheiro usando recursos públicos pra salvar grandes companhias. Agora, nós vamos perder dinheiro salvando empresas pequenininhas”, essa fala do ministro Paulo Guedes revela o descaso do governo federal com as famílias brasileiras que investem, trabalham e geram renda em seus pequenos negócios.
Cabeleireiras, manicures, doceiras, boleiras, costureiras, cozinheiras, lavadeiras, depiladoras, esteticistas, revendedoras, artesã de bijuteria, pipoqueiras, proprietárias de carrinhos de lanche, mercadinhos, lojas de materiais elétricos, artigos religiosos, entre outras, se depender da política econômica do governo, estão totalmente vulneráveis, não apenas no curto prazo por conta da pandemia, mas também com o futuro comprometido a longo e médio prazo.
“Não bastasse o corte no financiamento para as pequenas empresas e a fala de Guedes. O ministro ainda falou que quer diminuir o auxílio emergencial para R$ 200 por mês. Ele devia ter vergonha de propor isso” ressalta Anne Moura, secretária nacional de mulheres do PT.
Essa realidade preocupa ainda mais as mulheres empreendedoras nas periferias, porque a pequena empresa é a principal fonte de sustento das famílias. No país, 44% do público feminino aposta na criação de um negócio como alternativa para complementar a renda e até mesmo como única receita dentro de casa, aponta o Sebrae.
Enquanto a desigualdade de gênero e raça já imperava no mundo do empreendedorismo, mesmo antes da pandemia — com a crise se instaurando a médio e longo prazo, as mulheres negras serão ainda mais afetadas em suas fontes de geração de renda. Um levantamento de 2019 do Sebrae mostrou que mulheres negras empreendedoras ganham uma média de R$ 1.384 por mês. Esse valor equivale a cerca de metade do que as empreendedoras brancas recebem (R$ 2.691) e apenas 42% do valor recebido por homens empreendedores brancos, de R$ 3.284.
Bola de neve
Sem uma política pública de proteção econômica, sem investimento na saúde pública e ainda com o risco de cortes no auxílio emergencial, o governo vai arrastar milhares de trabalhadoras à profunda crise econômica, à beira do desemprego e da miséria.
Dentre vários fatores, essa realidade pode desencadear um fenômeno em escala. De acordo com o Sebrae, mulheres empreendedoras tendem a contratar mais mulheres na equipe. 84% dos negócios femininos têm, pelo menos, metade da equipe de mulheres contratadas — o que só ocorre em 56% dos negócios liderados por homens. Ou seja, para cada mulher que fecha um negócio, a proporção de mulheres desempregadas é ainda maior.
“Por isso que o impeachment de Bolsonaro e seu vice é uma questão de sobrevivência. Eles querem salvar os bancos, nós queremos salvar vidas”, finaliza Anne.
Da Redação, Agência Todas