O resultado de um projeto pioneiro na política brasileira – a plataforma de discussões online e presenciais “O Brasil que o Povo Quer” – foi apresentado após meses de intensos debates feitos pelos participantes. O projeto lançado há quase oito meses resultou em um documento de cerca de 400 páginas, dividido em eixos temáticos, que será debatido por lideranças do PT.
Colaboraram cidadãos independentes e militantes, intelectuais, mestres e doutores, além de lideranças políticas, de maneira colaborativa e estruturada metodologicamente. A partir deste sábado (10), um grupo mais restrito começa um debate de maneira detalhada.
O objetivo central do processo foi elaborar com a participação da sociedade um Projeto de Nação que seja inclusivo, partindo da premissa de que se quer construir “A Grande Sociedade”, em oposição à nação para poucos privilegiados do governo golpista.
Durante a entrega do trabalho, que ocorreu no Fórum Nacional “Brasil que o Povo Quer”, realizado na noite desta sexta-feira (9), a presidenta do Partido dos Trabalhadores, senadora Gleisi Hoffmann, elogiou a riqueza e a diversidade dos encontros, que contou com etapas regionais e debates setoriais, como por exemplo “O Brasil que o Povo Negro Quer”.
Hoffmann também reiterou que a participação de Lula nas eleições é um direito de parcela expressiva da população brasileira, que de acordo com as pesquisas mais recentes espera poder votar mais uma vez no ex-presidente, além de criticar a destruição que vem ocorrendo do acordo social representado pela constituição de 1988.
“É um erro pensar em outras opções, porque Lula é o candidato do povo brasileiro. Ele representa as maiores conquistas desse país. Se a Constituição garantiu direitos, a cristalização desses direitos se deu nos 13 anos de governos do PT”, afirmou a presidenta do partido.
“Defendemos Lula presidente, porque falar em outra possibilidade é jogar Lula para os leões, e sabemos que ele é a grande liderança popular e política desse país”, disse Gleisi, acrescentando que “A prisão de Lula não será aceita com normalidade”.
“Nós, enquanto partido e militância não vamos aceitar calmamente, podemos ser vencidos, mas eles vão pagar o preço. A história vai cobrar seu preço, porque não é normal prender o maior líder popular que esse país já teve”, concluiu.
O debate sobre o Brasil que o Povo Quer
Ao apresentar o resultado das discussões, o presidente da Fundação Perseu Abramo Marcio Pochmann afirmou que “esse é um projeto ousado, que partiu de uma crítica profunda na forma de fazer política tradicional, a forma que separa o plano de governo do conjunto da sociedade. É um programa construído de maneira transparente, com uma plataforma própria na internet, que buscou ouvir a sociedade e ao mesmo tempo organizar a reflexão e diagnóstico do saber intelectual especializado”.
“Esse documento que a partir de amanhã vamos detalhar e analisar criticamente, incorporando sugestões e proposições, revela uma sociedade viva, que demarca uma transição que poucas sociedades tiveram oportunidade de participar”.
Pochmann defendeu que o momento atual representa uma transição na forma de produção e organização tão intensa para a sociedade brasileira quanto foi o fim da escravidão e a modernização industrial no início dos anos 1900.
“Estamos sendo desafiados a compreender a sociedade”, admitiu ele em tom otimista, explicando que “ciência sem ideologia é uma tragédia, assim como ideologia sem ciência. Aqui tentamos juntar as duas coisas”.
O ex-prefeito Fernando Haddad garantiu que o resultado do projeto “O Brasil que o Povo Quer” será analisado por um grupo representativo das diferentes regiões e grupos sociais do país e que deve se materializar, com outros debates, no programa de governo a ser apresentado nas eleições.
“Tenho certeza de que todo esse processo vai nos garantir uma quinta vitória nas urnas, contra o golpe, que não foi contra o PT, mas contra o país”.
A coordenadora geral, Iole ilíada, relembrou que o projeto deveria ser uma “contribuição progressista, de esquerda, pensada pela população e pelo PT”, e que ainda deveria pensar a longo prazo, ousando em suas propostas. Ela explicou a abordagem, “articulando a sociedade brasileira em sua totalidade” e disse que nas próximas fases devem trazer “debates riquíssimos”
O ex-ministro Celso Amorim destacou que a abordagem foi “extrema original”, destacando perguntas diferentes dos padrões habituais de pesquisas, como por exemplo “O que é qualidade de vida para você?”.
Ele se mostrou otimista com a sequência nas discussões e defendeu que é preciso enfrentar o racismo de maneira determinada, com ações afirmativas. “Acho que não diminuiremos a desigualdade no Brasil sem ações na área de gênero, mas principalmente na questão racial”.