A presidenta nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), qualificou hoje (4) o presidente Jair Bolsonaro de “criminoso” e defendeu seu impeachment em razão de vários crimes cometidos ao longo de um ano e oito meses de governo. A declaração da deputada, em tom duro, foi direcionada ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), por ter afirmado, no programa Roda Viva, da TV Cultura, que não haveria motivos para o impeachment do capitão-presidente como supostamente houve no caso da presidenta Dilma Rousseff.
“O que vai fazer esta Câmara diante de todos esses crimes praticados? Ficaremos olhando? Seremos tolerantes? Quantos mais crimes, presidente Rodrigo Maia, precisa cometer Jair Bolsonaro para que possa se abrir um dos mais de cinquenta processos de impeachment que dormitam nesta Casa?”, perguntou Gleisi. As cinco dezenas de processos demonstram, na opinião da deputada, que a sociedade quer a cassação do militar-presidente.
Presidente criminoso
Durante sessão da Câmara, presidida por Maia, Gleisi enumerou vários crimes de Bolsonaro. A começar pela responsabilidade na propagação da pandemia de Covid-19 no Brasil, a qual já matou, até agora, quase 100 mil brasileiros, “uma tragédia humana que poderia ser evitada.
Gleisi disse que viu a entrevista de Rodrigo Maia na qual disse que não se arrepende do impeachment da presidenta Dilma. “Aí eu pergunto: a Dilma cometeu crime? A pedalada fiscal é crime, um fato criado para justificar um impeachment sem crime, num golpe parlamentar que foi dado? E Bolsonaro não comete crime quando atenta contra a vida?”, questionou Gleisi Hoffmann.
Rede de criminosos
Ela assinalou que Bolsonaro comete crimes ao fazer propaganda da cloroquina, que não tem prescrição científica, usa assessores pagos com dinheiro público para disseminar fake news, através do gabinete do ódio, e também ao perseguir adversários e quando participou de atos em defesa do fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal.
“Não cometeu crime quando foi àquelas manifestações e incentivou, sim, aqueles que queriam uma ditadura militar? Comete crime, sim. Eu sei que estamos numa pandemia, mas não é justificativa para nós não discutirmos o impeachment. Há muitas coisas acontecendo neste País, inclusive as festas de Jair Bolsonaro nas inaugurações das obras dos outros, porque ele está fazendo isso, e continua aí estimulando que o vírus se espalhe. Nós devemos chegar a 200 mil mortos no País”, disse Gleisi.
Segundo ela, a conivência do Congresso Nacional, “se não tomar uma medida política dura em relação a Jair Bolsonaro, irá fazê-lo corresponsável pelo desastre que esse governo é e pelos crimes que já cometeu e continua cometendo”.
“Nós temos que cumprir o papel que a Constituição nos dá, o designo que ela nos dá, e não esperar ter as condições necessárias para agir com um presidente criminoso. É agir na adversidade para criá-las, cumprir o nosso papel. Delegar ao povo, ao voto popular, a decisão sobre o seu destino. E não entrar, senhores, em pactos macabros, em que a vida do povo passa a ser detalhe e os negócios de mercado dominam a política”, acrescentou a parlamentar.
Tragédia que podia ser evitada
Ela se solidarizou às pessoas que tiveram entes querido mortos pela Covid-19, assim como aos trabalhadores e trabalhadoras do Sistema Único de Saúde, que têm enfrentado a pandemia, mas alertou que a tragédia podia ter sido evitada.
“Nós não precisávamos estar assim, nós poderíamos ter evitado essa tragédia, faltou responsabilidade, faltou organização, faltou coordenação e sobretudo faltou comando para o capitão-presidente, que não conseguiu demonstrar que consegue comandar, deixou as coisas acontecerem e continuou fazendo política”, disse.
Gleisi observou que Bolsonaro, para se manter no cargo e evitar o impeachment , aliou-se com o que chama de velha política, mas insistiu que ele deve ser julgado pelos crimes que cometeu. “Ele é um presidente criminoso, atentou contra a Constituição Federal, contra as instituições, contra a democracia. Ele atentou contra a vida e contra a saúde pública ao dizer que era uma gripezinha, ao desdenhar da dor das pessoas: “E daí? Não sou coveiro”. Levou milhões de pessoas a se infectarem e milhares a morrerem”, lamentou Gleisi.
A presidenta do PT assinalou que Bolsonaro atenta cotidianamente contra a soberania nacional, “e comete crime continuado ao levar desinformações e notícias falsas sobre a pandemia”. Ela observou que a fala do capitão-presidente é reproduzida em dezenas de sites, de blogs, de plataformas nas redes sociais, “uma rede falsa, fake, operada por servidores” e até assessores do presidente da República, pagos “com dinheiro público”, como noticiou o Fantástico, da TV Globo.
Gleisi Hoffmann citou como exemplo Tercio Tomaz, que ganha R$ 13 mil do governo federal, é assessor de Bolsonaro e militante bolsonarista desde a campanha eleitoral de 2018, “organizando essa rede falsa e agora o gabinete do ódio”. Cobrou também explicações do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), já que tem assessores de seu gabinete envolvidos na mesma rede de fake News.
Esses assessores pagos com dinheiro público tinham páginas como se fossem páginas de notícias, de um jornal, de um blog de informação, mas na realidade se tratavam de perfis falsos. “Isso não é crime? Aliás, empresários ligados a Bolsonaro, como o ‘Véio da Havan’, tão bem conhecido, aquele sonegador, ladrão do Estado, também está proibido agora de atuar nas redes sociais”, observou Gleisi.
Gleisi alertou que o Brasil precisa “frear” Bolsonaro ou vai se arrebentar. Também condenou a venda de empresas públicas na bacia das almas, como a Eletrobras e o fatiamento da Petrobras, para favorecer sobretudo o capital estrangeiro, e criticou o comportamento de vassalo do atual governo frente aos Estados Unidos.
“Vamos deixar que o embaixador americano continue dando ordens para o Brasil, o que é uma vergonha? Que venha aqui dizer com quem nós vamos ter que comercializar o 5G ou que devemos tirar o subsídio do etanol brasileiro para que o etanol americano seja mais competitivo dentro do Brasil?”, indagou a presidenta Nacional do PT.
Assista o discurso na íntegra:
PT na Câmara