Em seu artigo semanal, no blog do jornalista Esmael Morais, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), desnuda a blindagem e a torcida que a mídia conservadora brasileira trata e lustra para dar ares à população que o interino Michel Temer é a solução de todos os problemas. Mas é por esconder a verdadeira intenção do interino que a mídia conservadora cada dia que passa fica mais desacreditada, porque o povo sente que atrás da pele de cordeiro há um especialista em retirada dos direitos do povo brasileiro.
Para Gleisi Hoffmann, a tese que tem sido construída pela mídia conservadora é de um golpe suave, totalmente ao contrário do que ocorreu na Turquia. Nesse conluio, entre os golpistas e a mídia, todas as ferramentas são usadas, inclusive fraude em pesquisas e a própria realidade do País. A senadora denuncia, ainda, o custo do golpe: uma fatura de R$ 200 bilhões para comprar votos e fidelização daqueles necessários para o impeachment sair do papel no Senado. Numa comparação, o Congresso estuda cassar o mandato legítimo de Dilma Rousseff por conta de um déficit de R$ 30 bilhões, entretanto o Ministério Público arquivou a denúncia de crime de pedalada fiscal que teria sido cometido pela presidenta eleita.
Leia, na íntegra, o artigo:
“Temer blindado e o povo enganado”
É impressionante a boa vontade, ou melhor, o apoio, a torcida da grande mídia, do mercado financeiro e da elite brasileira ao governo interino de Michel Temer. Como num passe de mágica tudo que ia de mal a pior no governo da presidenta Dilma melhorou cem por cento agora. A população apoia Temer, segundo pesquisa fraudada do Datafolha. A economia melhorou consideravelmente, inclusive o humor do mercado e da população, segundo a mesma pesquisa. A relação com o Congresso, também pudera com tantas concessões, está uma maravilha. É o governo da salvação nacional. Até o combate ao terrorismo ganhou evidência e o posicionamento heroico do ministro interino da Justiça, que espantou turistas das olimpíadas.
O noticiário, antes azedo e agourento, agora pauta temas positivos do esforço do governo em melhorar a economia do país. Aliás, a equipe econômica, coração do governo, é a motivação maior dessa blindagem.
Austeridade, equilíbrio, controle nas finanças públicas é o mantra para recuperar o crescimento econômico. Mas o que estamos vendo até agora é uma gastança desenfreada sob o nome de transparência realista.
São R$ 170 bilhões de déficit este ano e R$ 194 bilhões ano que vem. Vale lembrar que quando Dilma mandou o orçamento de 2016 com déficit de R$ 30,5 bilhões para o Congresso, foi considerado um escândalo. Devolveram! E a ironia de tudo isso é que estão fazendo o impeachment da presidenta por crime de responsabilidade fiscal!
Mas a crueldade maior é que essa tolerância deficitária, que está possibilitando pagar a conta do golpe e fidelizar aliados, é também a justificativa para as reformas estruturais, aquelas voltadas para cortar programas sociais e direitos dos trabalhadores. Porque a elite é assim, para manter os juros altos corta a previdência social, os recursos para saúde e educação, o poder de compra do salário mínimo. Tudo sob o manto da chamada responsabilidade na gestão. Todos devem fazer sacrifícios, desde que no ‘todos’ não esteja o andar de cima.
É repugnante ouvir os representantes do governo golpista e os articuladores midiáticos criticando os programas sociais, desmerecendo sua importância e mostrando-os como estorvo a melhora da economia. O SUS virou caixa de pancada do ministro da Saúde, que insiste em um plano privado de saúde popular, no fim do Mais Médicos e de que a doença está no pensamento das pessoas.
O Minha Casa Minha Vida, um dos programas de maior sucesso da habitação popular brasileira, é um peso para a Caixa Econômica Federal, empresa pública que resolveu apostar no mercado imobiliário rentável, financiando casa para os ricos. É mais fácil, seguro e menos trabalhoso.
O ensino superior público também passou a ser uma aberração para a mídia. Editorial de O Globo defende abertamente a privatização do ensino superior, depois de ter formado seis ideólogos de direita nas universidades gratuitas. Como os pobres estão indo para o ensino superior está na hora de cortar. Haja hipocrisia.
Soma-se a essa ladainha de retrocessos os ataques a CLT. Em tempos de crise, manda o manual do mercado que o trabalhador abra mão de seus direitos para manter o emprego e conservar o lucro do sistema. É o acordo da espingarda com a rolinha. Salário mínimo com poder real de compra também é um empecilho para o resgate do desenvolvimento econômico. Até quando Temer será blindado?!
Se há pessoas que gostam de ser enganadas, existem aquelas que ousam lutar. Mais do que nunca a resistência popular tem de se fazer presente. Voltar atrás nunca mais!