Em artigo publicado no jornal O Globo, o deputado Givaldo Vieira (PT-ES) discorre sobre o clima de guerra civil instaurado no Espírito Santo desde o último dia 4, quando foi iniciada a paralisação dos policiais militares, “amostra substancial do cenário de caos que pode se tornar o Brasil com o governo autoritário e ilegítimo Temer”.
Enquanto isso, no cenário nacional, estão sendo implantadas, à base de tratoradas no Congresso e mínimo debate, medidas neoliberais que atacam os direitos de trabalhadores, estudantes, aposentados e, sobretudo, servidores públicos, como a aprovação da PEC 55, que congela gastos públicos pelos próximos 20 anos.
Ele alerta que o brasileiro poderá viver penosos anos em uma atmosfera de caos, como tem sido a destes longos dias para os capixabas.
Leia a íntegra:
Calamidade e arrocho
O clima de guerra civil instaurado no Espírito Santo desde o último dia 4, quando foi iniciada a paralisação dos policiais militares, é amostra substancial do cenário de caos que pode se tornar o Brasil com o governo autoritário e ilegítimo Temer. No cenário nacional, estão sendo implantadas, à base de tratoradas no Congresso e mínimo debate, medidas neoliberais que atacam os direitos de trabalhadores, estudantes, aposentados e, sobretudo, servidores públicos, como a aprovação da PEC 55, que congela gastos públicos pelos próximos 20 anos. Já em terras capixabas, o povo é penalizado em pleno funcionamento do modelo de austeridade fiscal — assim como o adotado por Temer, que coloca em segundo plano investimentos sociais e a valorização de carreiras públicas.
Nestes casos específicos, a falta de diálogo foi catalisadora de situações extremas, como à época das ocupações de estudantes em protestos contra a PEC do Fim do Mundo e a Reforma do Ensino Médio e, neste mês, com o aquartelamento de policiais militares no Espírito Santo em movimento assumido por seus familiares. Eles reivindicam uma justa demanda: reajuste salarial, adicional de insalubridade e melhores condições de trabalho.
E, embora tenham razão ao se rebelar, escolheram uma forma desproporcional para serem ouvidos. O recorde melancólico de assassinatos já está próximo das duas centenas em pouco mais de dez dias, de acordo com o Sindicato da Polícia Civil. Com a inaceitável demora para resolver a situação, pecam governo e manifestantes, pagamos todos os capixabas.
Nesta calamidade, quando precisamos das mãos estendidas do governo federal para garantir a segurança dos cidadãos, a letargia e a ineficiência da gestão não escolhida pela maioria do eleitorado precisam ser registradas. Depois de vários pedidos feitos pelo governo estadual e por nós da bancada capixaba em reuniões com representantes do governo Temer, chegou, somente dois dias após o início da paralisação, um contingente pequeno da Força Nacional e do Exército.
Quando em dezembro passado os policiais militares de Pernambuco ameaçaram um movimento grevista, Temer disponibilizou prontamente, por meio de seu ministro da Defesa, o pernambucano Raul Jungmann, 3.500 militares para patrulhar as ruas da Região Metropolitana de Recife. E a greve não eclodiu. Recebemos, portanto, tratamento desigual.
O risco de este método se espalhar por outros estados da Federação é real, e a necessidade de se consolidar uma interlocução capaz de estabelecer uma negociação nestes momentos é urgente. E, com a aprovação de políticas agressivas aos direitos fundamentais, de puro arrocho sem comprometimento com as conquistas sociais, tais quais as reformas (que são desmontes, na verdade) da Previdência e da CLT, o brasileiro poderá viver penosos anos em uma atmosfera de caos, como tem sido a destes longos dias para os capixabas.
Givaldo Vieira é deputado federal (PT-ES)
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Foto: Gustavo Bezerra
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