Em artigo, o deputado Robinson Almeida (PT-BA) analisa a troca de comando na Procuradoria Geral da República (PGR) que, agora, tem à frente Raquel Dodge, empossada nesta segunda-feira (18). “A gestão Dodge nasce na mira da sociedade. O Ministério Público terá a oportunidade de se afirmar como instituição técnica, apartidária, de funcionamento equilibrado e sem arco e flecha. Vai ser testada no uso da força dos argumentos e sepultar a desconfiança das primeiras imagens”, diz o texto.
Leia a íntegra:
Encerra-se o comando de quatro anos de Rodrigo Janot à frente da Procuradoria Geral da República. Escolhido duas vezes por Dilma Rousseff por ter sido o primeiro colocado na eleição do Ministério Público, Janot passa as flechas da instituição para Raquel Dodge, segunda colocada na lista tríplice e escolhida por Temer.
Dodge assume a chefia da PGR em clima de expectativa e desconfiança da sociedade. Sua escolha foi feita no meio de intensa queda de braço entre Temer e Janot, que já denunciou duas vezes o ilegítimo ao STF. Logo após o anúncio do cargo, Dodge teve um encontro no Palácio do Jaburu quase secreto com Temer, fora da agenda oficial.
Por essas e outras, teme-se que a PGR volte aos tempos anteriores aos governos Lula e Dilma. A era conhecida como dos engavetadores gerais da república. Tempo em que o cargo, suas decisões e atuação, eram subordinadas aos interesses políticos dos ocupantes da cadeira presidencial. Dodge tem que provar a independência da PGR.
É inaceitável que a escolha de Dodge e o exercício da função de PGR sejam parte da estratégia de “estancar a sangria da Lava-Jato” nos dizeres do senador Jucá, denunciado nessa operação e braço direito de Temer. Não deve ser outra a atitude de Dodge, senão dar sequência às investigações, dentro dos limites da lei, e sem as pirotécnicas que marcaram vários momentos da gestão que se finda.
Espera-se menos power point e convicções dos procuradores e mais provas nas denúncias feitas pelo MP. A gestão Dodge não pode deixar de esclarecer o envolvimento do ex-procurador Marcelo Miller na nebulosa delação premiado da JBS. Também deve evitar o encontro com advogados em bares e em padrões não republicanas.
A gestão Dodge nasce na mira da sociedade. O Ministério Público terá a oportunidade de se afirmar como instituição técnica, apartidária, de funcionamento equilibrado e sem arco e flecha. Vai ser testada no uso da força dos argumentos e sepultar a desconfiança das primeiras imagens.
*Robinson Almeida é deputado federal pelo PT da Bahia