Fórum Social se consolida como espaço de propostas enquanto incertezas dominam Davos

fsmEnquanto o Fórum Social Mundial (FSM) se consolida como espaço de debate e construção de alternativas à hegemonia neoliberal, o Fórum Econômico Mundial, reunido em Davos (Suíça), é dominado pelo clima de dúvidas e incertezas quanto aos rumos da economia global.

O deputado Valmir Assunção (PT-BA), que participou do Fórum Social Mundial Temático, realizado em Porto Alegre (RS) de 24 a 29 de janeiro, acredita que o FSM recuperou sua “mística” de fortalecer a ideia de “um outro mundo possível”, slogan da primeira edição do encontro, em 2001. “Quando o Fórum surgiu, todo o debate de um novo mundo, de uma nova perspectiva de modelo de sociedade, se concentrou em Porto Alegre e no Brasil. Com o tempo, mudou o formato do Fórum e suas ideias também se dispersaram um pouco, mas agora a mística inicial foi recuperada e hoje ele não serve simplesmente de contraponto a Davos, mas serve para alimentar a esperança da construção de uma outra sociedade, baseada nos princípios do desenvolvimento sustentável, da solidariedade, enfim, de um mundo que não seja capitalista, neoliberal, que seja, possivelmente, socialista”, defende Valmir.

Segundo o parlamentar, o FSM, ao contrário das reuniões de Davos, é um espaço democrático de onde têm surgido propostas concretas e muito importantes. “Em qualquer processo democrático o debate é fundamental e natureza do Fórum Social Mundial é justamente essa: um espaço que reúne diversas entidades para debater e sintetizar propostas e formas de concretizá-las”, disse Valmir.

A presidenta Dilma Rousseff esteve presente ao evento em Porto Alegre e criticou as “receitas fracassadas” que estão sendo impostas à Europa como solução para a crise econômica. A ausência da presidenta no encontro de Davos foi notada pela grande mídia brasileira.

“É curioso que a Dilma não foi – o que fez alguns jornais e colunistas lamentarem – ao Fórum Econômico, mas foi ao Fórum Social e teve um ótimo desempenho. É cada vez mais útil trabalhar propostas a uma alternativa ao modelo neoliberal e o Fórum Social Mundial tem feito isso. Já Davos é o fórum dos países que faliram, cujas propostas conduziram a essa crise e cujas respostas são conservadoras e apenas mais do mesmo receituário neoliberal”, avalia Athos Pereira, assessor especial do PT na Câmara.

Em Davos, com níveis recordes de neve – atingindo um metro e meio – na cidade, as incertezas e dúvidas sobre a extensão e os desdobramentos da crise financeira na Europa e em outros países dominaram o evento. “O Fórum de Davos reconhece a severa crise que atinge o sistema capitalista e a necessidade de se realizar transformações e encontrar novos modelos”, diz o site da revista Época, que também informa que Davos será “vigiada por 5 mil soldados e centenas de policiais”.

Rio+20 – Em termos de agenda desta edição do FSM, Valmir Assunção destacou a mobilização para a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável – Rio+20, que ocorrerá em junho deste ano. “A preparação para a Rio+20 foi um dos temas mais discutidos neste Fórum Social e caberá aos governos dar o devido valor a este evento, que será muito importante”, enfatizou Valmir.

Outro parlamentar que participou do evento, o deputado Bohn Gass (PT-RS), também frisou a importância da Conferência da ONU. “O centro dos debates neste Fórum Social são as preocupação relacionadas à RIO+20, sobre sustentabilidade, mas só teremos essa sustentabilidade se tivermos a democracia econômica, social e politica, com várias reformas que precisam ser feitas. Não teremos equilíbrio ambiental se deixarmos o capitalismo avançar sobre o campo, se permitirmos que a insaciabilidade do capital continue agredindo o meio ambiente”, afirmou Bohn Gass.

Histórico – Criado em 1971, o Fórum Econômico Mundial (FEM) serviu como palco de discussões – e, nos bastidores, de decisões – que ampliaram a visibilidade das teses do modelo político-econômico que passaria a ser hegemônico na década seguinte e ainda hoje domina boa parte do mundo, o neoliberalismo. Nomes como Friedrich von Hayek, da Escola Austríaca, e Milton Friedman, da Escola de Chicago, entre outros, tiveram suas ideias amplamente difundidas – e aplicadas, a começar pelo Chile de Pinochet – a partir das reuniões anuais do FME, realizadas em Davos, Suíça.

Em 2001 nasceu o Fórum Social Mundial, fruto da parceria entre grandes ONGs brasileiras e europeias e movimentos sociais atuantes em todas as áreas, com destaque para o movimento ambientalista. Sediada em Porto Alegre (RS), referência mundial de participação popular durante as administrações petistas, a primeira edição do FSM ocorreu no mesmo período da reunião de Davos, estratégia repetida em anos posteriores.

O propósito era apresentar ao mundo um contraponto, uma alternativa ao “pensamento único” dos mercados e da globalização financeira. Naquela época, uma das propostas que mais ganharam força com o FSM foi a criação da “Taxa Tobin”, que serviria para taxar as transações financeiras e combater a especulação.

Hoje, após crises sucessivas das finanças globais, a proposta é considerada tímida demais. “Taxa Tobin já é uma questão anacrônica. A questão do controle público do sistema financeiro está posta. É preciso exercer o controle público sobre o sistema encarregado da gestão da riqueza capitalista.  As agências de risco privatizaram uma função pública. Uniram-se à sanha privatista. Falsificaram uma função necessária. O controle público do sistema financeiro está posto na agenda da crise. Temos de controlar os elementos que produzem o mercado”, disse o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, em debate promovido pela agência Carta Maior durante o Fórum Social Temático, nesta sexta-feira (27), em Porto Alegre.

Rogério Tomaz Jr.

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