O deputado Henrique Fontana (PT-RS) afirmou nesta terça-feira (31), na tribuna da Câmara, que o Brasil está conhecendo com precisão os detalhes da construção do golpe parlamentar que colocou na Presidência da República um governo temporário e ilegítimo. Ele se referiu às conversas gravadas pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, com a cúpula do PMDB, nas quais eles defendem um pacto para impedir o avanço das investigações da operação Lava-Jato.
“As frases são fantásticas porque revelam toda a trama do golpe e todo o jogo do poder que esteve e está por trás dessa disputa”, enfatizou Fontana. Ele acrescentou que é daqueles que têm convicção de que, quanto mais a sociedade compreender esse golpe, a ilegitimidade do governo Temer, seus erros e seus prejuízos para o futuro do País, maior será a chance reverter votos dos senadores que apoiaram a admissibilidade do processo de afastamento da presidenta Dilma Rousseff.
“Esse quadro, somado ao fato de que não há crime de responsabilidade da presidenta Dilma, fará com que os senadores devolvam a democracia brasileira aos trilhos dos quais ela jamais deveria ter saído”, avaliou Fontana.
O deputado do PT gaúcho disse que uma frase das gravações, em particular, chama muita atenção na conversa entre Sérgio Machado e o ex-presidente José Sarney. “Chama atenção porque ela fala do PSDB e o porquê de o PSDB ter ido para o acordo do golpe, no chamado jogo do poder, jogo do vale tudo, para derrubar um governo legitimamente eleito por 54 milhões de brasileiros e brasileiras”, reforçou.
Na conversa, destacou Fontana, o ex-presidente da Transpetro diz: “Outra coisa que é importante para a gente, e eu tenho a informação, é que para o PSDB a água bateu aqui também. Eles sabem que são a próxima bola da vez”. E Sarney – homem experimentado nesses meandros da política – responde: “Eles sabem que eles não vão se safar”.
Henrique Fontana observou que, nesse diálogo, Sarney deixa claro que, em conversa com o presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL), a cúpula do PSDB acordou e foi para o caminho do golpe para colocar Temer na Presidência, já que o próprio PSDB sabe que não tem candidato para ganhar eleições. “O que, aliás, também é dito por aqueles que estão nos grampos, não dito por mim, que fui líder do governo Dilma, que sou do PT. É no próprio grampo, onde os aliados falam entre si, que é feita essa avaliação de que a única forma de estar no poder é através desse golpe parlamentar, que foi articulado à custa de muita distribuição de cargos”, criticou.
O deputado petistas também fez questão de destacar a frase na qual os “articuladores do golpe” afirmam que o grande erro da Presidente — falando a respeito de Dilma Rousseff — foi deixar essa coisa andar. “Ou seja, foi exatamente como presidenta da República que ela garantiu condições para que investigações contra a corrupção pudessem evoluir”.
Fontana concluiu afirmando que, mesmo que alguns no plenário da Câmara possam “ingenuamente ter votado nesse golpe, acreditando que seria para aumentar o combate à corrupção ou para melhorar a condição econômica do País, fica cada vez mais claro que o golpe teve dois pilares fundamentais: um acordo para proteger deputados e senadores que estão altamente comprometidos nas investigações da Lava Jato, e a mudança no programa de governo do PT para cortar investimentos sociais e direitos trabalhistas.
Vânia Rodrigues
Foto: Gustavo Bezerra/PT na Câmara
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