O deputado Afonso Florence (PT-BA) defende a redução da taxa de juros que vem sendo implementada pelo Banco Central desde o ano passado. Em artigo publicado no jornal O Globo de hoje (30/9), lembrou que juros altos reduzem o consumo, em especial dos mais pobres, e propiciam ganhos para os mais ricos com os títulos públicos, dificultando a redução das desigualdades de renda. O desafio é calibrar o aperto monetário com as politicas de combate à inflação, disse.
Ele observou que desde o governo Lula, em 2003, o Brasil vem reduzindo a taxa Selic, contrariando o figurino preconizado pelo FMI, baseado no tripé arrocho fiscal, alta dos juros e valorização cambial. “As consequências da sua aplicação incondicional em países pobres são notórias: baixo investimento, principalmente público, mas também privado; estagnação econômica; desemprego e aumento da pobreza”.
Para Afonso Florence, a política de juros tem que ter sintonia fina com o novo modelo de desenvolvimento iniciado em 2003.
Leia a íntegra do artigo, intitulado Sintonia Fina:
“O receituário clássico de gestão macroeconômica, de instituições como o FMI, baseia-se no tripé arrocho fiscal, alta dos juros e valorização cambial. As consequências da sua aplicação incondicional em países pobres são notórias: baixo investimento, principalmente público, mas também privado; estagnação econômica; desemprego e aumento da pobreza. Esse foi o cenário da década de 90 até os primeiros anos do mandato de Lula, que iniciou mudança de rota.
De 2003 para cá, o governo brasileiro passou a implementar uma política econômica para o desenvolvimento, com crescimento econômico e distribuição de renda. Trata-se de um novo modelo, com o propósito maior de promover mudanças estruturais na economia, desconcentrando a renda, tanto do ponto de vista social como regional.
Ganhamos novos instrumentais para gestar, implementar e coordenar uma política industrial; promover a melhoria da qualidade de vida das classes trabalhadoras com o aumento do nível de emprego, da massa salarial e do poder de compra; apoiar o segmento da economia solidária, fortalecendo o mercado interno; e garantir uma política externa para a expansão da nossa presença no comércio mundial, entre outras ações.
É certo que o novo modelo de desenvolvimento não dispensa o monitoramento do tripé da economia clássica, mas há novas combinações e dosagens. Porém, implementar esta política num cenário internacional de turbulência econômica ganha dificuldades adicionais. Certa hora foi a volatilidade dos preços das commodities e a alta dos alimentos que pressionaram a inflação, outra hora foi o conjunto de variáveis negativas comprimindo o PIB.
Apesar do quase consenso de que não há uma taxa básica de juros ideal, à perspectiva estratégica da nova política econômica convém uma Selic bem mais baixa do que a média histórica praticada no modelo ortodoxo de ajuste macroeconômico. Depois de uma sequência de queda, chegamos à taxa de 7%, a menor da série histórica. Porém, fatores externos e internos levaram a mudanças, fazendo o Copom elevar a taxa aos 9% ao ano.
Juros altos reduzem o consumo, em especial dos mais pobres, e, com os títulos públicos, propiciam ganhos para os mais ricos. Dificultam a redução das desigualdades de renda. O desafio é precisar o limite adequado para o aperto monetário. A política monetária está presente no instrumental da nova política econômica, sendo utilizada com suas funções clássicas para conter a inflação, missão oficial do Banco Central.
Ao mesmo tempo, deve-se buscar sintonia fina com os demais instrumentos para contribuir com o sucesso do novo modelo de desenvolvimento. Tudo indica que a Selic já está batendo no teto, que há pouca margem para muito aumento e, se der tudo certo, a tendência de redução deve ser retomada.
Afonso Florence é deputado federal (PT-BA)
Artigo publicado no jornal O Globo, edição do dia 30 de setembro de 2013