O jornal britânico ‘Financial Times’, considerada a bíblia dos liberais no mundo, publicou editorial condenando a desigualdade na América Latina, preocupado com a “terrível crise” na região por causa do coronavírus e das “respostas confusas” de governos de nações como o Brasil, pela política de negação. Outros veículos noticiosos influentes, como o inglês ‘The Guardian’, o alemão ‘Süddeutsche Zeitung’ também destacam o novo recorde de mais de 1 mil mortes por dia provocadas pela pandemia no Brasil.
O ‘Financial Times’ condena a reação do presidente Jair Bolsonaro, observando que o líder político faz um jogo arriscado com a vida de 210 milhões de brasileiros. “Bolsonaro parece estar apostando que o pico de infecções chegará em breve e que ele pode escapar da culpa pelos danos econômicos causados pelos bloqueios”, opina. “A região precisa de políticas baseadas em evidências, não de liderança excêntrica”.
Segundo o ‘FT’, o líder de direita do Brasil descartou o Covid-19 como uma “gripezinha” e disse ao povo “para enfrentar o vírus como um homem, caramba”. “Ele atacou os governadores estaduais que impuseram seus próprios bloqueios e demitiu seu respeitado ministro da Saúde (o funcionário que o substituiu renunciou após menos de um mês)”, observa. O jornal destaca o fato de o Brasil ser hoje o país mais afetado pela pandemia dentre as nações em desenvolvimento.
“Nenhum país da região escapará do impacto econômico devastador”, pontua o diário inglês. “A América Latina era a região de crescimento mais lento do mundo, mesmo antes da crise do coronavírus. Agora, o impacto da Covid-19 nos preços das commodities, no turismo e nas remessas está prejudicando a região particularmente”, pondera.
De acordo com o editorial, as finanças públicas frágeis e a fuga maciça de capital limitam o espaço dos governos para respostas fiscais. “A grande economia informal da região, cobrindo cerca de metade de todos os trabalhadores, dificulta a aplicação de bloqueios e ainda mais a sustentação”, observa.
O jornal diz que outros países da região escaparam do cenário catastrófico. A Colômbia agiu rápido, a Argentina impediu a proliferação da pandemia desde o início, e a Costa Rica e o Uruguai estão colhendo os benefícios dos investimentos em saúde pública, com casos de infecção inferiores aos da Nova Zelândia.
O ‘Financial Times’ diz, entretanto, que Bolsonaro fez uma aposta arriscada, que ainda está para ser julgada. “O que já é óbvio é o valor do investimento sustentado em saúde pública e políticas públicas baseadas em evidências. A região poderia fazer com muito mais de ambos”, conclui.
Por PT Nacional