A Comissão de Cultura da Câmara, presidida pela deputada Benedita da Silva (PT-RJ), foi palco na quarta-feira (9) do lançamento no Brasil do filme “Osmildo”, do diretor Pedro Daldegan, que trata da trajetória de luta do cacique Osmildo Kuntanawa pela preservação do seu povo e da floresta Amazônica. O evento é parte dos chamados “Manifestos Culturais”, homenagens promovidas pela comissão desde 2013.
O povo Kuntanawa quase foi extinto em 1911, após massacre promovido por grupos extrativistas que invadiram as cabeceiras dos rios Jorão, Tarauacá e Juruá, no Acre, local onde viviam. Houve apenas uma sobrevivente, a avó de Osmildo. Exibido em mais de 15 países, a produção começa a ser exibida no Brasil após ganhar prêmios em festivais de cinema na Croácia e na Espanha.
Com a presença de lideranças de outras etnias indígenas e de parlamentares ligados à causa, antes da apresentação do filme houve um debate sobre os ataques que os povos indígenas e o meio ambiente têm sofrido em todo o País.
Após agradecer o diretor do filme, Pedro Daldegan, pela iniciativa de ir até a aldeia conhecer a história do povo Kuntanawa, Osmildo revelou a angústia que sente ao viver o atual momento no País de desrespeito aos direitos e tradições dos povos indígenas.
“Estão violando nossos direitos, não só dos índios, que não têm escolas que respeitem nossa língua originária e nossos costumes. Eu mesmo tenho 56 anos e nunca precisei ir a hospital, porque tenho uma farmácia na natureza, e temos nossos curandeiros, nossos pajés que com as plantas ajudam a curar nosso povo igual aos médicos e enfermeiros de vocês. É triste ver que não respeitam nossa língua, não reconhecem nossas plantas sagradas, nossa floresta. É uma tristeza grande”, lamentou.
Antes de falar, o representante do povo indígena Xucurú, Toponoye Junior Xucurú, fez um ritual invocando a proteção do deus Tupã e de antepassados indígenas contra os ataques de inimigos da causa indígena dentro do Congresso Nacional. O líder indígena criticou especialmente os ataques contra os direitos indígenas incentivados pelo presidente Jair Bolsonaro.
“Estamos sendo massacrados dentro do nosso próprio território. Nós, índios, não consideramos Jair Bolsonaro nosso presidente da República, porque ele está desonrando o que muitos outros presidentes já fizeram de bom para os povos indígenas, como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva”, afirmou. Junior Xucurú ainda criticou Bolsonaro pelos ataques dirigidos ao cacique Raoni Metuktire.
O líder Xucurú disse ainda que os povos indígenas não vão tolerar agressões a seus direitos e a suas terras. “Se continuarem essas agressões, não estará longe o dia em que vamos tomar a mesma decisão dos índios equatorianos. Esta nação é de todos, dos índios, dos negros, dos ribeirinhos, dos povos da floresta, e agora estão matando a mãe natureza, e ainda dizem que são os índios que estão fazendo isso. Jamais nós faríamos isso, como vamos destruir nossa própria casa?”, indagou.
O diretor do filme, Pedro Daldegan, agradeceu a deputada Benedita da Silva pela oportunidade de lançar o filme na Comissão de Cultura da Câmara. Após revelar que todo valor arrecadado com a exibição será revertido para o povo Kuntanawa, Daldegan também fez um apelo à presidenta da comissão para interceder pelo cinema brasileiro.
“Temos que valorizar o cinema nacional. Os Estados Unidos, por exemplo, exportou carros, moda, e até sua própria língua para o mundo através do cinema. O cinema é nossa força, mas assim como os povos indígenas, também está em perigo”, ressaltou.
Defesa dos Povos Indígenas
A deputada Joenia Wapichana (Rede-RR), primeira mulher indígena eleita para a Câmara dos Deputados, também parabenizou a deputada Benedita pela abertura do espaço da comissão e disse que a luta dos povos indígenas se confunde com a de todos os segmentos marginalizados do País. “Parabenizo a deputada Benedita por estar nessa luta conosco, porque este Congresso não foi feito para nós, nem para a classe menos favorecida, mas é importante estarmos aqui para justamente lutarmos pelas pessoas que não são ouvidas”, destacou.
Após as intervenções, a deputada Benedita da Silva lembrou que é responsabilidade de toda a sociedade cuidar do bem-estar dos povos indígenas e da preservação do meio ambiente. “É impossível não se emocionar com a fala de vocês porque sentimos na pele essa verdade de defesa da natureza. Sabemos que um dia teremos a nossa passagem, mas enquanto vivermos temos que cuidar desse mundo que é o nosso jardim”, observou.
Também convidada para o evento, a líder indígena Sonia Guajajara não pode comparecer porque o avião que a traria até Brasília ficou retido no Rio de Janeiro devido às fortes chuvas.
Héber Carvalho