Ferro pede federalização da apuração do assassinato de extrativistas no Pará

FernandoFerro_plenarioO vice-líder da Bancada do PT na Câmara, Fernando Ferro (PE), pediu hoje a federalização do processo de apuração do assassinato do casal de extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, líderes do Projeto Agroextrativista Praialta-Piranheira, no Pará.

 

Ele foram mortos a tiros na manhã de terça-feira, em uma emboscada na localidade de Maçaranduba, a 50 quilômetros do município de Nova Ipixuna, no sudoeste do Pará.

Segundo Ferro, a morte dos dois defensores da floresta está ligada à conivência do governo tucano do Pará com a violência no estado. “Os latifúndio está ousado e estranhamente o assassinato ocorre num momento em que a Câmara dá um enorme retrocesso na questão ambiental, com um Código Florestal que beneficia o latifúndio e os ruralistas mais retrógrados do Pais”, disse Ferro.

Fernando Ferro justificou a federalização das investigações pelo fato de haver autoridades, no âmbito estadual, que ” são omissas e, muitas vezes, até aliadas dos processos de execução sumária”. Com a apuração no âmbito federal, os serviços de inteligência podem investigar e punir todo o esquema dos grupos de extermínio, que inclui o mandante, os protetores que resguardam os matadores e os executores. “Todo esse esquema tem de ser investigado para darmos um basta à violência no campo”, observou.

POLÍCIA FEDERAL – Ferro lembrou que o Superior Tribunal de Justiça já federalizou a apuração da morte do militante dos direitos humanos Manoel Mattos, assassinado em janeiro de 2009. Ao saber do crime, a presidente Dilma Rousseff determinou que a Polícia Federal investigue a autoria dos assassinatos.

O vice-líder petista disse que lhe causou perplexidade a reação de ruralistas no plenário da Câmara, quando foi anunciada a morte do casal pelo deputado Sarney Filho (PV-MA).”Parte dos ruralistas vaiaram, revelando uma faceta perversa e seu comprometimento ideológico com a pistolagem e a violência no campo em pleno século 21″, disse. “É a truculência do latifúndio, que usa de forma predatória os recursos naturais e não dá a menor importância à vida de de camponeses e de defensores da floresta”.

Fernando Ferro vai sugerir ainda a criação de uma comissão especial na Câmara dos Deputados para ir ao Pará. “O fato é grave. Precisamos conter a ousadia do latifúndio, que comete violência justamente contra famílias que defendem o interesse público. Isso mancha a imagem do Brasil no exterior”.

Os corpos dos ambientalistas, que denunciavam a extração irregular de madeira, foram encaminhados na tarde de ontem para o Instituto Médico Legal (IML) de Marabá. José Cláudio e Maria integravam o Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), ONG fundada pelo ambientalista Chico Mendes, também assassinado em 1988.

De acordo com o coordenador regional do CNS em Belém, Atanagildo Matos, o casal recebia ameaças desde 2008, quando começou a denunciar de forma mais ostensiva a extração irregular de madeira para a produção de carvão e a transformação de áreas de floresta em pasto. Ainda segundo Atanagildo, era comum à noite disparos contra a casa dos ambientalistas e contra animais domésticos criados por eles. Órgãos de segurança pública do Pará e a Justiça chegaram a ser comunicados sobre as intimidações.

– O Brasil não tem uma política ambiental eficiente. Eles lutavam pela preservação da floresta e contra as madeireiras e foram mortos em uma época que se discutia o novo Código Florestal. Perdemos dois guerreiros. Os assassinos ficaram de tocaia e esperaram o carro deles parar numa pinguela para atirar. O lugar é ermo, não havia ninguém para testemunhar. Foi um crime quase perfeito, porque crimes perfeitos não existem. Levaram uma orelha de José Cláudio, provavelmente para o mandante das mortes – disse.

O casal morava em Nova Ipixuna há 24 anos, onde desenvolvia um trabalho de exploração sustentável da floresta com 500 famílias – retirada de óleos vegetais, açaí e cupuaçu. Segundo a sobrinha de José Cláudio, Clara Santos, o casal era proprietário de uma área de 20 hectares, sendo 80% preservados. Eles comercializavam óleos de andiroba e castanha.

– Sabíamos que eles corriam risco, mas a gente sempre acreditava e tinha a esperança que nada aconteceria, que eles nunca seriam alvo de embosca. A morte de meu tio deixou a região em comoção. Eles lutavam pela preservação da floresta e eram queridos – afirmou Clara, também integrante da CNS.

Equipe Informes, com agências

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