Em sua coluna semanal na Folha de S. Paulo, Haddad afirmou que Bolsonaro devolveu a educação ao centro do debate pelo piores motivos.
Se a educação básica é tratada com descaso pelo atual governo, a educação superior é vista como verdadeira inimiga.
A afirmação de que é preciso priorizar a educação básica sempre serviu de pretexto para sufocar a educação superior sem que nada, em geral, fosse feito por ambas.
As eficazes medidas tomadas pelo MEC para facilitar o acesso à graduação, no período 2004-2012, fizeram crer que a prioridade, então, fosse a educação superior. A criação do Prouni, dos Institutos Federais e da Universidade Aberta do Brasil (UAB), a expansão das universidades federais (Reuni) e o Fies sem fiador permitiram ao Brasil dobrar o número de matrículas, de 3,5 milhões em 2002 para 7 milhões em 2012.
Mas o recurso à velha ladainha de que chegou a hora da educação básica desconhece que nunca como naquele período o investimento por aluno deste nível teve um incremento tão substancial.
Procurei seguir a lapidar recomendação de Anísio Teixeira: “Nenhum país do mundo, até hoje, julgou possível construir uma cultura de baixo para cima, dos pés para a cabeça; para haver ensino primário, é necessário que exista antes o secundário, e para que o secundário funcione é preciso que existam universidades”.
Minha concepção de educação sempre foi sistêmica e integral, da creche à pós-graduação.
Não espanta que, enquanto se abriam as portas das universidades para todas as classes sociais, os indicadores de qualidade da educação básica começassem a reagir de forma inédita.
Enquanto estive à frente do MEC, todas as metas de qualidade, segundo o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), foram rigorosamente cumpridas e o Brasil, entre 2003 e 2012, foi o terceiro país que mais evoluiu no Pisa.
Nos últimos anos, a agenda da educação perdeu impulso. Inclusive na sociedade, outras pautas parecem ter ocupado seu lugar momentaneamente. Isto se refletiu na evolução dos indicadores educacionais recentes.
Pelos piores motivos, Bolsonaro a devolve ao centro do debate. O temor social é que, com ele, tudo venha a piorar e que aquelas conquistas incipientes sejam colocadas em risco.
Que esta ameaça provoque um despertar que recoloque a educação no alto das prioridades nacionais mais uma vez e para sempre.
Fernando Haddad, professor universitário, ex-ministro da Educação (governos Lula e Dilma) e ex-prefeito de São Paulo.