Fernando Baiano confirma pagamento a Cunha por achaque contra Júlio Camargo

Conselho De Etica

A título de propina, um total de R$ 4 milhões foi entregue em dinheiro vivo, em cinco ou seis parcelas, no escritório do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, a um homem de sua confiança, Altair Alves Pinto, no Rio de Janeiro. O valor pago a Cunha foi a retribuição pelo serviço de achaque contra o empresário Júlio Camargo em favor do lobista Fernando Soares – mais conhecido como Fernando Baiano. Os detalhes desse acerto foram confirmados nesta terça-feira (26) pelo próprio Fernando Soares em depoimento ao Conselho de Ética da Câmara, que julga um processo de quebra de decoro parlamentar de Cunha.

“Quando eu estava com os recursos em mão, entrava em contato com ele [Cunha] através de mensagem, aí ele falava para eu procurar o Altair no escritório e eu mesmo levava [o dinheiro] no meu próprio carro”, contou Baiano. A entrega do dinheiro em algumas parcelas foi parte do desfecho de uma “amizade” que começou casualmente, segundo o lobista, durante um café da manhã num hotel, em 2009, quando Cunha e Fernando se conheceram por intermédio de um amigo em comum. Na ocasião, conversaram um pouco e trocaram contatos.

Em seu depoimento, Baiano detalhou que a primeira “visita” formal a Eduardo Cunha ocorreu numa tentativa de firmar uma aproximação que o ajudasse em seus negócios com as empresas das quais era representante no Brasil. “A partir daí formos desenvolvendo uma relação em que conversávamos sobre diversos assuntos. Efetivamente, o negócio que eu desenvolvi com o deputado foi essa questão da dívida que o Júlio Camargo tinha comigo”, explicou Baiano. Sem saber precisar o número de encontros, disse ter visitado Cunha mais de dez vezes na casa do parlamentar e em seu escritório no Rio de Janeiro.

O “negócio” entre os dois era basicamente o seguinte: Cunha deveria pressionar o empresário Júlio Camargo a pagar uma vultosa quantia que devia a Baiano, e, em troca, receberia um percentual de 20% do valor, que depois foi aumentado para 50%. Segundo o lobista, a dívida inicial chegava a US$ 16 milhões, mas aos poucos, depois de várias negociações com Júlio Camargo, essa quantia foi sendo rebaixada para que o empresário pudesse saudá-la. Coube ao deputado um valor aproximado de R$ 4 milhões.

Uma das estratégias elaboradas por Cunha para promover o achaque contra Júlio Camargo foi apresentar, em 2011, requerimentos na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara com pedido de esclarecimentos ao Tribunal de Contas da União e ao Ministério de Minas e Energia sobre os negócios de empresas de Júlio Camargo junto à Petrobras. À época, as representações foram assinadas por uma aliada de Cunha, a ex-deputada Solange Almeida (PMDB-RJ). “O requerimento foi, sim, uma forma de pressão para fazer com que o Júlio pagasse, porque era uma dívida que se arrastava há três anos”, confirmou o lobista.

A dívida contraída por Júlio, segundo Baiano, foi como pagamento da intermediação feita pelo lobista junto à Petrobras para que os navios-sonda adquiridos pela estatal fossem das empresas representadas pelo empresário. “Eu atuei como intermediário junto à Diretoria Internacional em favor da Samsung e da Mitsui. Fui apresentado a Júlio Camargo, porque ele tinha interesse de desenvolver negócios junto à diretoria, mas não tinha o conhecimento necessário”, afirmou.

Para o deputado Leo de Brito (PT-AC), o depoimento do lobista é “contundente e cristalino”. “Ele afirma de maneira categórica que pagou a Eduardo Cunha R$ 4 milhões para que ele fizesse uma chantagem sobre o empresário Júlio Camargo. Ficou claro ainda que esse recurso foi entregue por indicação de Cunha a uma pessoa próxima em seu escritório. Não tem como negar que esse dinheiro tinha como endereço certo o deputado Eduardo Cunha”, avaliou Leo de Brito.

O deputado Zé Geraldo (PT-PA) diz não restar dúvida de que Eduardo Cunha fez parte de um esquema de recebimento de propina. “Tudo está muito claro, o problema é que Cunha reuniu força suficiente para não fazer o processo andar no Conselho de Ética, mas o Supremo Tribunal Federal tem indícios de sobra para pedir o seu afastamento. Nossa luta agora é para que o Supremo tome essa iniciativa”.

PT na Câmara

FOTO: Luís Macedo

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