Falta de material e equipamentos médicos assombra o Brasil

Enquanto Itália e Espanha viviam o drama do aumento exponencial de mortes devido ao Covid-19, e outros países aceleravam seus procedimentos para conter a pandemia mundial, o Brasil desperdiçou tempo precioso discutindo o negacionismo sobre a gravidade da crise pelo próprio presidente a República e saiu atrasado na corrida por material médico.

A informação de que os Estados Unidos enviaram 23 aviões à China para a compra de equipamentos de proteção para profissionais da área de saúde, noticiada pelo New York Times nesta semana, foi recebida com preocupação especial no Brasil, onde aumentam relatos dramáticos de falta de materiais como luvas, máscaras, aventais e álcool em gel, entre outros.

O deputado* Alexandre Padilha(PT-SP)*, ex-ministro da Saúde no governo Dilma, avalia que o episódio dos ventiladores para leitos de UTI comprados pelos EUA da China revela dificuldades graves. “De um lado, o Ministério da Saúde está gastando energia com as irresponsabilidades e obstáculos de Bolsonaro. De outro, o isolamento do presidente da República”, critica.

“A ausência de testes, máscaras e novos leitos de UTI mostra que o ministro acreditou que seria uma gripe qualquer. Enquanto Bolsonaro titubeia, o mundo se prepara”, aponta.

Estoques baixos

O jornal O Globo publicou nesta quinta-feira (02/04) a informação de que o Ministério da Saúde não tem mais estoque de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), e que já distribuiu os 40 milhões de itens ainda disponíveis para abastecer estados e municípios por mais algumas semanas.

Em coletiva de imprensa, repórteres perguntaram sobre o status do estoque ao ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Ele admitiu que enfrenta dificuldade para adquirir os EPIs da China. O ministro afirmou que o Brasil chegou a empenhar uma compra de 200 milhões de máscaras, mas, em cima da hora, o fornecedor informou que não poderia entregar mais.

Mandetta explicou que nações mais poderosas cobrem as ofertas do Brasil, arcando com o custo da quebra de contrato e adicionando mais um valor em cima, para convencer os fornecedores a mudar a rota dos produtos. “A gente espera que a China volte a ter uma produção mais organizada, e a gente espera que os países que exercem o seu poder muito forte de compra já tenham saciado das suas necessidades para que o Brasil possa entrar e comprar a parte para proteger nosso povo”, disse.

“O nosso problema é que esse vírus foi extremamente duro. Derrubou, machucou e parou a produção dos EPIs, que os hospitais utilizam no mundo todo”, disse o ministro, referindo-se à China, maior produtora desses insumos. “Quando acabar dessa epidemia, eu espero que nunca mais o mundo cometa o desatino de fazer 95% da produção de insumos que decidem a vida das pessoas em um único país”, acrescentou.

Capacidade de testagem

O Brasil também corre contra o tempo para ampliar a sua capacidade de testagem ―um dos principais gargalos do país no enfrentamento da epidemia. É um dispositivo fundamental tanto para que o governo tenha uma dimensão mais real da disseminação do vírus quanto para que os profissionais de saúde possam determinar a quarentena a familiares de infectados.

Nos próximos dias, haverá uma explosão de casos por conta da demanda reprimida que aguarda há dias o resultado da testagem. O governo reconhece que há uma fila grande de espera, mas não mensura o seu tamanho. Avalia apenas que o Brasil começou a automatizar o processamento dos testes PCR, mais precisos e também mais caros, para dar agilidade a esse processo, e começa a utilizar os testes rápidos. Ele não detalhou a capacidade total de testagem do país com as novas medidas.

Na semana passada, o país processava 6.700 testes diários. E os próprios técnicos do Ministério da Saúde projetam que o país precisaria atingir um total de 30.000 a 50.000 testes diários para desenhar com mais precisão a curva epidemiológica do coronavírus no Brasil. No momento, o retrato dos casos confirmados do Brasil é sempre um recorte do passado, por causa da demora para o resultado dos testes.

OMS avisou

Mas a inação durante praticamente todo o mês de março, quando a pandemia já se expandia por todo o planeta, não ocorreu por falta de aviso. No começo do mês, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já alertava que a escassez dos materiais de proteção poria em risco, além dos doentes, também os profissionais de saúde, e pedia um aumento de 40% na produção global para fazer frente à demanda.
“Sem cadeias de suprimento seguras, o risco para os trabalhadores da saúde em todo mundo é real. A indústria e os governos devem agir rapidamente para aumentar a oferta, aliviar as restrições à exportação e adotar medidas para deter a especulação e o acúmulo em estoques. Não podemos deter a Covid-19 sem proteger primeiro os trabalhadores da saúde”, disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

A cada mês, os profissionais sanitários de todo o mundo envolvidos no combate ao coronavírus estão usando 2,3 milhões de máscaras com filtro, 89 milhões das cirúrgicas, 30 milhões de batas, 1,6 milhão de óculos protetores, 76 milhões de luvas e 2,9 milhões de litros de desinfetante de mãos. Mas não bastam.

O governo alemão suspendeu as exportações dos trajes de proteção médica para abastecer a rede sanitária local e a França requisitou todos os estoques de máscaras do País para reservá-las a profissionais da saúde e pacientes infectados com o coronavírus, enquanto no Brasil não foram divulgadas medidas emergenciais sobre materiais utilizados no combate à doença até o fim de março.

Com dificuldade para encontrar respiradores, estados e municípios já haviam pedido para o governo federal ir ao mercado e centralizar a aquisição do produto, mas só na quinta-feira passada, 26 de março, a pasta abriu edital para compra dos primeiros 15 mil equipamentos. Os fornecedores, no entanto, já avisaram que não têm estoque para entrega imediata.

Da agência de notícias

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