Governo Bolsonaro insiste em falar na privatização dos bancos públicos. Miriam Belchior explica como essas instituições são fundamentais para o desenvolvimento econômico e social do Brasil.
No último dia 11, em Juiz de Fora, ao encerrar viagem por Minas Gerais, Lula fez uma defesa veemente das empresas e dos bancos públicos. “Parem de tentar privatizar as nossas empresas públicas”, disse, dirigindo-se ao atual governo, que insiste em falar na venda do patrimônio nacional. E completou: “Não tentem privatizar o Banco do Brasil, a Caixa Econômica, o BNDES, o BNB e o Basa. Aprendam a trabalhar, aprendam a investir. Aprendam a fazer política econômica ao invés de vender as coisas que já estão prontas”.
Por que Lula se coloca com tanta força contra a privatização dos bancos públicos? Porque eles sempre foram fundamentais para o desenvolvimento do país. E serão ainda mais agora, quando o Brasil precisa ser reconstruído, gerando empregos, ajudando os mais pobres a se recuperar e controlando a inflação. Foi o que explicou, nesta terça-feira (17), a ex-presidenta da Caixa e ex-ministra do Planejamento Miriam Belchior, em entrevista à TvPT (veja trecho abaixo e assista à íntegra no fim da matéria).
Miriam mostrou que, sem os bancos públicos, muitos dos programas criados nos governos do PT e que melhoraram a vida da população e ajudaram o Brasil a crescer não teriam existido. Alguns exemplos são o Bolsa Família e o Fies, totalmente gerenciados pela Caixa Econômica, e o Minha Casa Minha Vida, que garantiu moradia para 10 milhões de brasileiros, a maior parte pessoas de baixa renda que nunca conseguiriam financiar um imóvel em um banco privado.
“Nos nossos governos, tivemos a maior preocupação em garantir o acesso da população de baixa renda a direitos que ela, tradicionalmente, não tinha. Habitação foi um deles. Por isso foi lançado o Minha Casa Minha Vida, que tinha como principal diferencial garantir subsídios maiores para famílias com renda até R$ 1.800. Sem essa ajuda, elas não conseguem adquirir a moradia. Elas não têm renda suficiente para pagar as prestações no período que é normal nos contratos de financiamento habitacional”, afirmou.
A ex-ministra lamentou que o governo Bolsonaro tenha acabado com essa política. “Hoje, foram zeradas as contratações para essa faixa de renda, que corresponde a 75% de quem precisa de casa no Brasil. Ou seja, quem mais precisa de casa foi deixado de lado pelo atual governo”, observou.
Crédito rural
Algo semelhante ocorreu com o crédito aos pequenos produtores rurais, por meio do Banco do Brasil. Miriam informou que 60% de todo o crédito rural do país é feito no Banco do Brasil, e que nos governos Lula e Dilma, ele foi muito ampliado.
Os empréstimos para os pequenos produtores foram multiplicados por sete entre a safra de 2002/2003 e a da 2016/2017, saltando de R$ 4,2 bilhões para R$ 30 bilhões, chegando a 99% dos municípios brasileiros. “E o que quase não existia nas agências passou a ser comum: o pequeno agricultor, de chinelo e roupa simples, dentro da agência, sendo atendido com muito respeito”, lembrou.
Uma clara função dos bancos públicos, portanto, é garantir direitos aos mais pobres. Porém, eles são fundamentais para que o governo estimule o crescimento da economia e coloque em prática grandes projetos de desenvolvimento.
O papel do BNDES
Para que o país volte a crescer o BNDES será fundamental, garantiu Miriam. “O BNDES é o grande financiador do investimento no Brasil. Ele é fundamental para que as empresas brasileiras tenham não só capital de giro, ou seja, os recursos que precisam no dia a dia, mas também para que elas possam fazer os investimentos de ampliação nos seus negócios.”
Ela lembrou que é o BNDES quem financia grandes obras de infraestrutura, como usinas hidrelétricas e heólicas, linhas de metrô em grandes cidades e e muitos outros investimentos. Além disso, foi o BNDES que salvou a economia do país quando houve a crise mundial de 2008. Naquela época, o governo Lula usou o banco para criar o Programa de Sustentação do Desenvolvimento, que reduziu os custos de financiamento das empresas e ajudou o país a sair da crise mais rapidamente que o resto do mundo.
Abrir mão dos bancos públicos, portanto, é o mesmo que o Brasil abrir mão da da capacidade de decidir quais projetos são importantes para seu próprio desenvolvimento e também da capacidade de estimular a economia quando ela não está indo no caminho certo. Algo que até o ministro da Economia de Bolsonaro, Paulo Guedes, foi obrigado a reconhecer recentemente.
“Paulo Guedes chegou dizendo que o crédito brasileiro precisava ser privatizado, que tinha muito crédito público, precisava ter mais crédito privado. E que os bancos públicos reduziam os juros artificialmente, entre outras críticas. Mas, desesperado porque o país não cresce no governo deles, por causa das medidas que eles adotam, ele teve que morder a língua e diminuir os juros da Caixa, como fizemos no nosso governo. Parece que estávamos certos, né?”
Da Redação da Agência PT