Em artigo publicado no portal Brasil 247, o deputado Enio Verri (PT-PR) faz uma retrospectiva do ano de 2016, que na avaliação do parlamentar não deixará saudade. “Um dos aprendizados que 2016 deixará para toda a nação, é a clareza da urgente necessidade de restabelecer a democracia, convocar eleições diretas, já, e aprovar um profundo e duradouro projeto de politização popular”.
Enio Verri destaca o golpe de Estado que arrancou a presidenta eleita Dilma Rousseff da Presidência da República como o pior fato ocorrido em 2016. “Este ano, nada de mais terrível aconteceu a este País do que o golpe de Estado(…) O roteiro foi descrito pelo senador Romero Jucá (PMDB) e é fielmente cumprido pelo consórcio golpista cujo um dos membros é, inacreditavelmente, o Judiciário” critica.
O parlamentar lamenta ainda que de agosto a dezembro, “num país sem lei, o que se viveu foi uma sucessão de cassações de direitos seculares, conquistados com o suor e o sangue dos brasileiros. Os poucos e mais importantes 13 anos de avanços civilizatórios, dentro dos 516 anos do encontro dos três povos fundadores na nação, vêm sendo paulatinamente desconstruídos”.
Para Enio Verri, é na vivência imposta pelo aprendizado que moram a esperança e fé na luta, em 2017. “Ela é um dos meios pelos quais a esquerda, de uma forma geral, mas, também o PT, se reerguerão das cinzas (…)
“A esperança é ver, em 2017, o povo organizado o suficiente para impedir o avanço desse crime de lesa pátria. A julgar pela agenda do Temer, luta não faltará”.
Leia a seguir a integra do artigo:
2016, o ano imortal
O dia 1º de janeiro de 2017 marcará a eternidade de 2016, o ano imortal. Acaba-se com a constituição Federal de 1988, mas não se acaba este ano bisonho. Tanto no plano nacional, quanto no internacional, ele não vai deixar saudades. Desde desastres ambientais, a genocídios por interesses econômicos inconfessáveis, à usurpação da democracia e das leis, de tudo um muito aconteceu.
No que se refere ao meio ambiente, terremotos e furações, principalmente, sacudiram o planeta, deixando rastros desoladores de destruição e morte. O Brasil ainda está se organizando para combater o desastre/negligência de Mariana, de 2015, sem apresentar, em 2016, avanços ambientais, políticos, jurídicos, financeiros e criminais.
Este ano, nada de mais terrível aconteceu a este País do que o golpe de Estado. A cassação da CF1988 é o mesmo rompimento institucional ocorrido em 1964. A diferença é o método. O golpe atual é parlamentar, togado, midiático e financeiro. O roteiro foi descrito pelo senador Romero Jucá (PMDB) e é fielmente cumprido pelo consórcio golpista cujo um dos membros é, inacreditavelmente, o Judiciário.
De agosto a dezembro, num país sem lei, o que se viveu foi uma sucessão de cassações de direitos seculares, conquistados com o suor e o sangue dos brasileiros. Os poucos e mais importantes 13 anos de avanços civilizatórios, dentro dos 516 anos do encontro dos três povos fundadores na nação, vêm sendo paulatinamente desconstruídos.
Desde a interinidade, Temer não deixou dúvidas a que veio. Um de seus primeiros atos foi a extinção da Controladoria Geral da União (CGU). O gesto pulverizou o argumento dos golpistas, segundo o qual, um dos motivos do impeachment foi o de combater a corrupção “inventada e disseminada pelo PT”. Um dos últimos de seus colaboradores exonerados não vê problema pedir intervenção institucional pública para favorecer a si mesmo, com um modesto imóvel de R$ 3 milhões.
A extinção do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e do Plano Safra, por exemplo, demonstram a incapacidade do ministério de notáveis de Temer em compreender a complexidade que é tirar um país do mapa da fome. Em 126 anos de República Federativa, o PT cometeu a façanha em 12 anos.
Para 2017, Temer cortou, em média, mais de 60% dos investimentos de todas as políticas de Estado ampliado implantadas pelo Partido dos Trabalhadores. Mulheres, educação, ciência e tecnologia, criança e adolescente, clima, drogas, reforma agrária, houve cortes nessas e noutras áreas tão fundamentais quanto. Os valores para o pagamento dos juros da dívida pública, que consomem cerca de 50% do PIB, aumentaram em cerca de 20%. Alimentar banqueiros que não produzem um sabonete.
As duas mais recentes investidas contra o Estado e a nação tramitam no Congresso Nacional. Uma, já aprovada, é a PEC 55, que prevê um teto anual de gasto para o Estado, que asfixiará a economia e acentuará a concentração renda, provocando o aumento do índice de pobreza. Caminhamos, a passos largos, de volta para o mapa da fome. A outra, é PEC 287, também chamada de Reforma da Previdência. Essa é para matar de humilhação os trabalhadores.
Caso a 287 seja aprovada, em fevereiro de 2017, todos os trabalhadores, mulheres e homens, se aposentarão com 65 anos e não mais com 55 e 60. Para receber 100% do valor da aposentadoria, terão de cumprir com 49 anos de contribuição social. Viúvas e viúvos deixarão de receber 100% do valor da pensão. Receberão 50%, com direito a mais 10% do valor para cada dependente, até o limite do total da pensão.
As políticas nacional e mundial vivem uma crise sem precedentes, na história. A quebradeira financeira de 2008 desvelou a dependência do Estado ao capital estático, o de papel, cujos movimentos são de concentração e não de distribuição. Não há vida que o sensibilize, pois, para se reproduzir, faz-se necessário o uso dos recursos naturais onde há, em geral, gente pobre e desorganizada politicamente.
O BRICS surgiu como um dos principais contrapontos aos operadores FMI, Banco Mundial, entre outros. A sigla sintetiza o bloco econômico formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. O golpe coloca em risco mais de 10 anos de diálogo entre os participantes de um bloco com um fundo de reservas com mais de U$ 100 bilhões.
Quando o Partido dos Trabalhadores (PT) governava, a relação com os parceiros era de proximidade e propositiva. Após o golpe, durante reunião de cúpula do bloco, em Goa, na Índia, Michel Temer não teve audiência com os presidentes, da Rússia, Vladmir Putin e da República da China, Xi Jinping. O traidor da nação teve apenas um encontro protocolar o anfitrião, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi.
Sob todos os aspectos, no Brasil, 2016 não deixará saudade alguma. A não ser para os que torcem contra o sucesso da nação. Para mentalidades colonizadas, que veem nobreza na subordinação, desde que essa condição afete apenas os pobres e não mexa com seus privilégios. Essa mente entreguista é a maioria no Congresso Nacional.
Um dos aprendizados que 2016 deixará para toda a nação, é a clareza da urgente necessidade de restabelecer a democracia, convocar eleições diretas, já, e aprovar um profundo e duradouro projeto de politização popular. A maior parte da sociedade já percebeu a fraude, e é preciso a participação dos partidos políticos para colaborar com a organização política.
É na vivência imposta pelo aprendizado que moram a esperança e fé na luta, em 2017. Ela é um dos meios pelos quais a esquerda, de uma forma geral, mas, também o PT, se reerguerão das cinzas que a ensandecida imprensa os jogou e cremou, diuturnamente, em capítulos da novela Lava Jato.
A força da internet, alimenta pela imprensa independente, produziu recuos momentâneos dos golpistas, na PEC da Reforma da Previdência, para fevereiro. A esperança é ver, em 2017, o povo organizado o suficiente para impedir o avanço desse crime de lesa pátria. A julgar pela agenda do Temer, luta não faltará. Justamente na condição em que fomos forjados. Oxalá, que venha 2017.
Enio Verri é deputado federal, presidente do PT do Paraná e professor licenciado do departamento de Economia da Universidade Estadual do Paraná.
Foto: Gustavo Bezerra/PTnaCâmara