Os empresários Sérgio Cunha Mendes, vice-presidente da Construtora Mendes Júnior, e Dario Queiroz Galvão Filho, presidente da Galvão Engenharia, denunciados por pagamento de propina e lavagem de dinheiro, deveriam depor nesta terça-feira (2) na CPI da Petrobras, mas os dois usaram o direito de ficarem calados e foram dispensados. O relator da comissão, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), lamentou a postura dos empreiteiros que se recusaram a colaborar, mesmo em sessão fechada da CPI com a presença apenas dos parlamentares.
“Eu mesmo tenho aqui uma série de perguntas importantes que gostaria de fazer, por exemplo, ao Sérgio Cunha Mendes, que mesmo sem delação premiada confessou vários dos fatos citados na denúncia oferecida contra ele pelo Ministério Público Federal”, afirmou Luiz Sérgio. O relator fez questão de enfatizar que em 2010 a Mendes Júnior doou mais recursos ao PSDB do que ao PT. Segundo dados apresentados pelos partidos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a Mendes Júnior doou R$ 1,8 milhão ao PSDB e R$ 1,53 milhão ao PT em 2010.
Luiz Sérgio argumentou ainda que era importante ouvir o empresário da Mendes Júnior porque o juiz Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato, considerou que as empreiteiras cometeram crime de lavagem de dinheiro por meio de doações partidárias legais em 2010. “Se o juiz Moro considerou que as doações ao PT foram ilegais, e isso se mostrar verdadeiro, então as doações ao PSDB e a outros partidos também foram, não pode existir dois pesos e duas medidas”, afirmou.
O deputado Luiz Sérgio se refere ao fato do juiz Sérgio Moro ter aceitado a denúncia contra o ex-secretário de finanças do PT, João Vaccari, alegando que “a formalização da transferência não tem o condão de purgar a origem e a natureza criminosa dos valores envolvidos. (…), portanto, as doações eleitorais, ainda que registradas, com recursos provenientes de crime, configuram, em tese, crime de lavagem de dinheiro”.
Disputa Política – O sub-relator auxiliar da CPI, deputado Valmir Pracidelli (PT-SP), também lamentou o silêncio dos empreiteiros, mas considerou correta a decisão de dispensá-los. “Forçar o método de perguntas sem resposta seria criar um palco para disputa política, esse não é o papel desta CPI”, argumentou. Para Pracidelli, já está bem claro quem são os integrantes do colegiado que querem de fato apurar as denúncias e combater a corrupção e quais são os que querem apenas usar a CPI como palanque.
“Já estamos apurando com limites, com cerceamento. Nada do que aconteceu antes de 2005 pode ser apurado. E já ficou muito claro aqui, por tudo que ouvimos, que os carteis começaram a ser formado na década de 90, quando o País era comandado pelo PSDB. E eu não acredito que eles atuaram sozinhos, sem que funcionários isolados da Petrobras soubessem, ou sem conluio com políticos. Então, o resultado final não será completo”, lamentou.
Agenda – Na próxima semana a CPI volta a se reunir na segunda, terça e quarta-feira para ouvir outras 14 pessoas, entre elas o empresário Júlio Faerman, ex-representante comercial da empresa holandesa SBM Offshore no Brasil. Está prevista também reunião administrativa na quinta-feira (11) para votações de novas convocações, pedidos de acareações entre acusados que fizeram acordo de delação premiada com a Justiça, como o ex-diretor Paulo Roberto Costa e o ex-gerente de Tecnologia Pedro Barusco, além de pedidos para quebra de sigilos fiscal e telefônico.
Vânia Rodrigues
Foto: Gustavo Bezerra/PT na Câmara
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