Embaixador denuncia e detalha na Câmara a violência do Golpe de Estado na Bolívia

O golpe praticado contra o presidente democrático e popular da Bolívia, Evo Morales, pelos imperialistas e fundamentalistas que dominam a elite boliviana, com apoio dos Estados Unidos, mobilizou partidos de esquerda e movimentos sociais, nesta quarta-feira (12), em Brasília. No Congresso Nacional, com a presença da embaixadora da Nicarágua no Brasil, Lorena Martínez, e do embaixador cubano, Rolando Gómez Gonzáles, o embaixador da Bolívia no Brasil, José Kinn Franco, denunciou à comunidade internacional o golpe de estado protagonizado pela extrema direita daquele País.

O encontro foi coordenado pelo líder do PT na Câmara, deputado Paulo Pimenta (PT-RS).

“É um golpe de estado que começou em 2006 quando Evo Morales triunfa nas eleições de dezembro de 2005, toma posse em janeiro de 2006, e começa uma resistência dos grupos mais conservadores que, sem nenhum fundamento, sem nenhum respeito aos 53% de votos que Evo Morales teve, estes setores não respeitaram e tentaram dar um golpe de estado”, denunciou o embaixador a um conjunto de parlamentares de esquerda presentes na reunião que ocorreu na sala da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados.

José Kinn Franco afirmou que essa tentativa ocorreu também em 2006, 2007 e 2008 e cessou em 2009, quando os golpistas foram derrotados. Ele contou que depois de várias derrotas, entre elas, um referendo revogatório ao qual Evo, sem ter obrigação, se submeteu, e nesse referendo ele recebeu 64% dos votos, ainda assim, continuaram as ações golpistas. “E essas ações eram motivadas pelas elites que foram tiradas do poder e que não se resignaram de estar fora do poder, porque sempre estiveram no poder, mas também com um componente muito forte de racismo”, acusou.

“Esse componente racista, mais o componente de interesses das elites, sobretudo da elite mais conservadora, mais os interesses dos EUA configuraram um quadro de permanente tentativa de golpe”, explicou José Kinn Franco.

OEA

O embaixador explicou que os golpistas aproveitaram o recente processo eleitoral para dar continuidade à “ação golpista fracassada”. Segundo o representante do país vizinho, os mentores do golpe usaram o pretexto de fraude eleitoral para tentar destituir o presidente Evo Morales. A fim de serenar os ânimos, o presidente Evo Morales propôs que a Organização dos Estados Americanos (OEA) auditasse os votos.

“Isso foi o que fez o governo: convidou a OEA, e a OEA aceitou fazer a auditoria da votação. Mas o processo golpista seguiu. A oposição, principalmente os setores radicais, com perfil fascista em muitos casos, seguiu aumentando a pressão nas ruas, com atos de violências, queimaram instituições públicas, queimaram organizações do partido do governo, e essa escalada foi aumentando, enquanto o governo foi desmobilizando sua militância, esperando o resultado da auditoria da OEA”, relatou o embaixador.

A renúncia

Com o caos instalado pela oposição ao seu governo, Evo Morales acreditou que o resultado da auditoria acalmaria a situação e que não haveria enfrentamentos. No entanto, continuou o embaixador, foi crescendo a mobilização da oposição, dos grupos radicais, que com muita violência, promoveram a inviabilização de instituições, fecharam cidades, e as Forças Armadas não quiseram mais sair às ruas. A polícia, segundo Kinn Franco, já estava apoiando o golpe desde o começo. “E, no desenrolar, já com uma violência muito grande nas ruas, já com as Forças Armadas que não queriam ir para a rua, e com a polícia que já estava do outro lado, então o presidente viu que seria preciso ter muita violência para controlar isso, e que poderia haver um derramamento muito grande de sangue, ele [Evo] preferiu renunciar”.

Transição

O embaixador observou que o setor oposicionista não consegue reunir o Congresso para organizar um governo de transição que, segundo ele, teria o papel de convocar novas eleições. De acordo com ele, isso ocorre devido à perseguição que fizeram contra deputados e senadores. “Há muita violência nas ruas, que foi iniciada por eles, e agora está generalizada. Isso configura um quadro de nenhuma segurança para nossos deputados e senadores, que então não estão indo ao Congresso. Temos os dois terços, tanto em deputados quanto senadores, que são necessários, digamos, para poder estabelecer mecanismos e estabelecer um governo de transição”, esclareceu.

“É necessário que a oposição desarme seus grupos radicais. Quando desarmarem os grupos, acho que vai se tranquilizar a situação política e poderá começar uma fase de acordos políticos que permitirá então a composição de um governo de transição”, acredita.

Esperança

O embaixador relatou, esperançoso, que esse momento difícil vai passar. “Há um nível de consciência muito mais elevado e isso é o que nos permite ter esperança de que, em pouco tempo, nós estaremos novamente vitoriosos e hegemônicos na política e na construção de nosso País”, finalizou José Kinn Franco.

Veja o vídeo da reunião do embaixador boliviano com parlamentares:

 

Benildes Rodrigues

 

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