Em meio à crise política, com a queda de dois ministros de Estado – Ernesto Araújo, das Relações Exteriores; e Fernando Azevedo e Silva, da Defesa – o governo Bolsonaro se vê enredado num outro escândalo. A Federação Única dos Petroleiros recebeu nesta segunda-feira (29) uma denúncia de que o atual presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, teria operado com opções de ações da estatal no mercado financeiro, assim que soube que seria demitido. A operação teria rendido mais de R$ 11 milhões de lucro escandaloso porque fruto de uma informação privilegiada.
O líder da Minoria no Senado, Jean Paul Prates (PT-RN), que também é presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Petrobras, quer explicações de Castello Branco. “As notícias de operações suspeitas com ações da Petrobras estão se multiplicando nos últimos dias”, declarou o parlamentar.
“Medidas como a venda de refinarias, a saída de um presidente da empresa ou mudanças na política de preços dos combustíveis impactam as expectativas dos investidores. Ter acesso privilegiado a essas informações e usá-las para operar no mercado é crime”, disse. “Isso tem que ser investigado pelas autoridades. Não é possível que este governo transforme a Petrobras, que já foi uma das maiores petroleiras do mundo, em um instrumento para ganhos milionários de meia dúzia de privilegiados. Isto não é bom para ninguém. Nem para os acionistas, nem para os brasileiros obrigados a pagar uma gasolina dolarizada, nem para os funcionários da empresa que dedicaram anos de trabalho para construir esse patrimônio”.
O futuro ex-presidente da estatal será ouvido nos próximos dias pela Comissão de Assuntos Econômicos do Senado para explicar sobre a venda suspeita da Refinaria de Mataripe, na Bahia, em audiência conjunta com o ministro de Minas e Energia, Almirante Bento Albuquerque.
A suspeita sobre a operação milionária – ilegal e sob suspeita – baseada em inside information já havia vindo à tona no ínicio de março, quando O Globo revelou que nem todo mundo havia tomado prejuízo com as ações da Petrobras depois que Castello Branco foi demitido por Jair Bolsonaro. No final de fevereiro, enquanto o valor da petroleira derretia no mercado, alguém ganhou muito dinheiro com opções de venda de ações da petroleira, em operações atípicas, que sugerem o uso de informação privilegiada.
Nesta segunda-feira, a informação é que teria sido o próprio Castello Branco quem teria operado com opções de ações da estatal. Ele teria solicitado que suas assessoras Ana Paula Carta Antunes e Ângela Maria Freitas Correia, através de contas de familiares de ambas, realizassem operações financeiras na corretora Modal no tipo PUT (venda de opções) no papel PETRD249.
A operação em cada CPF foi na casa de de R$ 350 a R$ 400 mil, totalizando um lucro (ainda não realizado) de mais de R$ 11 milhões na cotação atual. Castello Branco teria aproveitado a sua própria demissão para ganhar dinheiro. E muito dinheiro. Bolsonaro decidiu demitir Castello Branco em 18 de fevereiro. A partir do dia 19 o valor da opção subiu de US$ 0,80 para cerca de US$ 4,50.
A assessora Ângela Maria foi levada para a Petrobras pelo próprio Castello Branco, desde que assumiu o cargo, no início de 2019. Após um ano, a sobrinha de Ângela, Ana Paula Carta, foi contratada como assessora do presidente, sem concurso público. As denúncias já foram feitas na Ouvidoria da Petrobras, na Comissão de Valores Mobiliários, no Tribunal de Contas da União e no Ministério Público.
Jean Paul Prates quer usar a audiência pública da CAE, aprovada para tratar da venda da refinaria de Mataripe (BA), e questionar pessoalmente o atual presidente da estatal. A comissão aprovou nesta segunda-feira ainda a realização de debate sobre suposto cartel de distribuidoras de combustíveis. Serão convidados Rodolfo Saboia, presidente da Agência Nacional de Petróleo, e Alexandre Barreto, presidente do Conselho de Administração de Defesa Econômica (Cade).