Em artigo, o deputado Jilmar Tatto (PT-SP), Líder do PT na Câmara, discorre sobre a importância histórica da CPI mista que investiga as suspeitas ligações entre o contraventor Carlos Cachoeira com as esferas dos três poderes, o Ministério Público e empresas privadas, inclusive da mídia.
“O desafio é aprofundar o trabalho feito pela Polícia Federal, indo além da investigação da contravenção, procurando criar uma estrutura institucional sólida e blindada contra a marginalidade”, diz o texto.
Leia a íntegra.
A CPI do Carlos Cachoeira
O Brasil está diante de uma oportunidade para aprofundar sua democracia e estabelecer padrões civilizados de relações entre o público e o privado. A ocasião vem com a CPI mista para investigar as suspeitas ligações entre o contraventor goiano Carlos Cachoeira com as esferas dos três poderes, o Ministério Público e empresas privadas, inclusive da mídia.
O desafio é aprofundar o trabalho feito pela Polícia Federal, indo além da investigação da contravenção, procurando criar uma estrutura institucional sólida e blindada contra a marginalidade, além de aprofundar os processos de transparência que vêm sendo adotados nos últimos anos.
Não se trata de uma CPI a favor ou contra governo ou oposição. Iludem-se os que acreditam que este será o norte da CPI para tirar vantagens políticas e eleitorais. Até porque os escândalos que ensejam a criação da CPI desmascararam os discursos oportunistas, do udenismo pseudomoralista, que mal disfarçam a vocação de seus autores para o crime e para o golpe. Isso está ilustrado de modo cabal pela atuação superlativamente cínica de personagens que agem num mundo obscuro, como o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) e o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), como indicam as investigações.
A CPI deve agir dentro dos limites legais e não precisa repetir experiências de golpismo e oportunismo, como na chamada CPI do Fim do Mundo, ocorrida durante o governo Lula.
A CPI mista do Cachoeira não precisa dar espetáculo, ela tem fato determinado, os investigados pela Polícia Federal (PF) nas operações Vegas e Monte Carlo.
Os seus integrantes podem documentar também que grande parte dos escândalos de corrupção nos últimos vinte anos decorrem do modelo de financiamento privado de campanha. Este modelo é antidemocrático, impede que as disputas eleitorais sejam travadas em condições de igualdade, pois favorece quem tem maior poder econômico. Está fazendo com que a política torne-se cada vez mais refém dos financiadores de campanhas. É tarefa desta CPI mista recomendar ao Congresso Nacional a aprovação de uma reforma política que estabeleça o financiamento público de campanhas, acabando assim com o flagelo do financiamento privado.
A CPI do Cachoeira pode expor também as entranhas de certos segmentos da mídia, que nos últimos anos utilizaram gravações clandestinas, feitas por arapongas a serviço do contraventor, para criar factoides e agredir o governo do PT e aliados. O vinculo com marginais não foi uma prática esporádica, para circunstancialmente cumprir uma pauta jornalística. Há indícios de que houve prática cotidiana de contato entre a organização criminosa e setores da mídia, mostrando que a marginalidade serviu-se de seus grampos para alcançar seus objetivos, com a conivência de setores da imprensa. Na Inglaterra, por muito menos, jornalistas que se valeram de fontes policiais para promover grampos clandestinos foram parar na cadeia.
A CPI mostra-se, portanto, como iniciativa que poderá oxigenar a democracia brasileira, livrando-a de esquemas de tráfico de influências e negociatas.
Não há motivos para que todos os poderes e a própria imprensa brasileira deixem de fortalecer a transparência diante de um momento incomum de nossa história.
Vamos à luta.
Jilmar Tatto é Deputado federal pelo PT-SP e líder do partido na Câmara
(Artigo publicado originalmente no jornal Brasil Econômico, edição do dia 27 de abril de 2012)