Em artigo, Bohn Gass faz reflexão sobre ódio, intolerância e golpismo

BohnGass SaluP

Em artigo, o deputado Bohn Gass (PT-RS) alerta para a necessidade de prudência num momento em que imperam a intolerância e a irracionalidade no mundo. Ele cita o episódio em que um manifestante foi pego em frente ao Congresso Nacional com armas brancas, spray de pimenta, soco inglês e um porrete de madeira e que dizia querer matar a presidenta Dilma e jogar uma bomba no Parlamento. “O ódio como arma política é o mesmo aqui, na Nigéria ou em Paris. E o terrorismo que abala o mundo em nosso tempo, encontra terreno fértil sempre que se estimulam comportamentos assim”, diz o texto. Leia a íntegra:

O ódio como arma

Elvino Bohn Gass (*)

Uma pistola de muitos tiros, armas brancas, spray de pimenta, soco inglês e um porrete de madeira. Esse pequeno arsenal foi apreendido com um homem que dizia querer matar a presidenta Dilma e jogar uma bomba no Parlamento. Esse homem, até ser preso, esteve acampado no gramado em frente ao Congresso Nacional, ao lado dos golpistas que insistem no impeachment de uma governante legitimamente eleita.

A prudência recomenda, portanto, que estejamos atentos, pois a intolerância e a irracionalidade são parentes muito próximas. O ódio como arma política é o mesmo aqui, na Nigéria ou em Paris. E o terrorismo que abala o mundo em nosso tempo, encontra terreno fértil sempre que se estimulam comportamentos assim.

Todo fascismo é terrorista. Daí que o Brasil já foi um Estado de terror na ditadura. E quantos brasileiros, em pleno ano de 2015, desfilaram com cartazes pedindo uma nova intervenção militar? Até entre parlamentares eleitos, democrática ironia, há quem defenda a volta dessa barbárie.

Então, quando nos comovemos diante de atentados como o reivindicado pelas bestas do Estado Islâmico na França, ou quando mal olhamos para os mesmos crimes praticados pelo Boko Haram na Nigéria (onde, aliás, o número de mortos chegou perto de 2 mil), é bom que reflitamos: até onde irão os intolerantes? Até onde se chega com a irracionalidade? Qual é o limite do ódio que alimenta o golpismo?

O tucano José Serra já admitiu que seu partido adotou o “quanto pior, melhor” quando apoiou as chamadas pautas-bomba. Embora seus autores não confessem, as bombas em forma de projetos de lei foram feitas unicamente na tentativa de derrotar o governo Dilma. Só que qualquer criatura com um mínimo de juízo sabe que, se aprovados, estes projetos não explodiriam apenas o governo, mas a economia do País. No entanto, a irracionalidade e o ódio os mantiveram na pauta e, em alguns casos, até os aprovaram.

Para esses, que se exploda a igualdade, pois bom mesmo seria a extinção do Bolsa Família. Esses, que defendem a proliferação das armas, pouco se importam se isso detonar qualquer chance de fraternidade. E não é coincidência o fato de que os golpistas são maioria entre os que querem reduzir a maioridade penal, mesmo que isso represente o bombardeio da liberdade.

Não digo que as bestas do Boko Haram e do EI são iguais aos golpistas brasileiros. Mas aponto a semelhança na origem do pensamento de quem defende o poder pela força, de quem semeia o ódio e de quem usa a inconsequência como meio para justificar seu fim. Estou dizendo que quem faz isso se distancia cada vez mais dos ideais civilizatórios.

Bombas podem ser feitas com os mais diferentes materiais, mas em todas elas, há os mesmos artefatos: a intolerância e o ódio. E o que as detona, em qualquer lugar, é a irracionalidade.

(*) Deputado Federal (PT-RS) e Secretário Nacional Agrário do PT

Foto: Salu Parente

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