Efeito Bolsonaro: fake news ameaça vacinação infantil, alerta Fiocruz

José Cruz - Agência Brasil / Site do PT

Nota técnica da instituição adverte que “notícias falsas tem provocado resistência das famílias sobre a eficácia e segurança da imunização para a faixa etária entre 5 e 11 anos”.

As intermináveis mentiras de Jair Bolsonaro contra a ciência e a eficácia das vacinas contra a Covid-19, sobretudo para crianças de 5 a 11 anos, não param de causar prejuízos ao enfrentamento da pandemia e à saúde dos brasileiros. A constatação é do Observatório Covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz. Na quarta-feira (16), a Fiocruz divulgou uma nota técnica na qual alerta sobre como as fake news ameaçam o sucesso da cobertura vacinal dessa faixa etária no Brasil. De acordo com a instituição, “a difusão de notícias falsas tem provocado resistência das famílias sobre a eficácia e segurança da imunização para esta faixa etária, mesmo que todas as evidências científicas disponíveis atualmente sejam favoráveis a esta medida”.

O quadro preocupa a entidade, especialmente em um ambiente de volta às aulas presenciais nas escolas. No documento, que faz uma radiografia do atual momento da vacinação em todo país, a Fiocruz assinala que o ritmo de imunizações caiu a partir do final de janeiro, justamente quando Bolsonaro intensificou os ataques antivacina. “Até o dia 14 de fevereiro, o país possuía uma cobertura vacinal de primeira dose para a faixa etária entre 5 e 11 anos de apenas 21%”, ressalta a Fiocruz.

A instituição também atesta que há uma “heterogeneidade” no quadro vacinal entre os estados e capitais. “Entre as Unidades Federativas, apenas 7 possuem cobertura de primeira dose maior que a média nacional (21%): Rio Grande do Norte (32,6%), Sergipe (23,9%), Espírito Santo (21,9%), São Paulo (28,1%), Paraná (28,6 %), Rio Grande do Sul (23,2%) e o Distrito Federal (34,6%)”, observa a Fiocruz. “O pior desempenho está no Amapá, com apenas 5,3% da população na faixa etária entre 5 e 11 anos vacinada”, aponta a nota.

Ataques antivacina prejudicam campanha

A Fiocruz explica que os ataques contra a vacinação infantil têm prejudicado o trabalho do Programa Nacional de Imunizações (PNI), que, “via de regra, tem grande credibilidade junto à população”. Com a resistência das famílias e os atrasos no processo, os riscos para a campanha de vacinação são elevados, avisa a entidade.

“Quando crianças não são vacinadas, cria-se um grupo suscetível a contrair a Covid-19”, destacam os pesquisadores da Fiocruz. “Num cenário em que apenas este grupo não está imunizado, ele se torna particularmente vulnerável à infecção e à disseminação do vírus, inclusive entre outros grupos etários”, alertam.

A Fiocruz adverte ainda que o número de internações de crianças infectadas aumentou, “não apenas em números absolutos, mas notadamente em comparação às demais faixas etárias”.

Resistência às mentiras de Bolsonaro

No fim de janeiro, período coberto pela pesquisa da Fiocruz, Bolsonaro voltou a mentir sobre os riscos de contaminação por Covid-19 entre crianças. “Durante a pandemia, tivemos algum problema de UTI infantil? Pelo contrário, foram convertidas em UTIs para adultos. Raras foram as mortes”, declarou.

Em um país onde o presidente da República atua pessoalmente contra a vacinação infantil, a instituição reconhece que o desafio de esclarecer as famílias sobre a importância da imunização das crianças na estratégia de enfrentamento à disseminação do vírus no país.

“Mais do que nunca, cabe o devido esclarecimento à sociedade civil, com linguagem simples e acessível sobre a importância, efetividade e segurança das vacinas, envolvendo a responsabilidade de todos os níveis de gestão da saúde no país (federal, estadual e municipal)”, sugere a Fiocruz.

Bolsonaro estimulou ameaças à Anvisa

Na quarta-feira (16), o diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, compareceu à Comissão de Direitos Humanos (CDH), presidida pelo senador Humberto Costa (PT-PE). Aos senadores, Torres confirmou que o número de ameaças à Anvisa saltou de três para 458 após Bolsonaro ter cobrado o nome dos servidores que autorizaram o início das imunizações em crianças, em dezembro.

Me parece muito claro o sentido que o presidente quis dar [ao cobrar nomes de servidores da Anvisa]. Como se o ofício de um servidor concursado da Anvisa tivesse provocado uma contrariedade, algo nocivo no entendimento das pessoas”, disse Torres.

Entidade reforça segurança das vacinas

Na nota, a Fiocruz junta-se à Anvisa e faz questão de lembrar que as vacinas são seguras, citando dados de aplicações em outros países. “Agências de saúde de vários países continuam afirmando que as vacinas são seguras e que o número de eventos relatados é pequeno frente aos milhões de doses que já foram aplicadas nessa faixa etária”, afirma.

Desse modo, os benefícios ultrapassam os riscos e os pais e responsáveis devem ser apoiados e incentivados a levar seus lhos para serem imunizados”, conclui.

Redação da Agência PT, com Fiocruz e PT no Senado

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