Relatório do Centro de Análise da Sociedade Brasileira (CASB) aponta que a nova economia digital via plataformas (delivery, Uber, redes sociais e outros), tende a estimular trabalhadores desses meios a buscarem dicas e orientações para progredirem em suas atividades econômicas no universo digital da extrema direita. Segundo o estudo, ao procurarem orientação na internet sobre “uma vida melhor” o trabalhador é direcionado pelos algoritmos para uma rede de influenciadores motivacionais (que dão dicas sobre “como ser empreendedores” ou “como chegar ao primeiro milhão”), religiosos, entre outros perfis alinhados ao bolsonarismo.
“Assim, num ambiente em que se estima que 88% dos influenciadores brasileiros são alinhados a Bolsonaro, quanto mais inseridos no mundo digital, mais inclinados a aderir a projetos autoritários os trabalhadores estarão”, destaca o levantamento.
Segundo o CASB, para enfrentar esse problema é preciso primeiro entender as razões que levam muitos trabalhadores a defenderem o trabalho informal ou sem vínculo empregatício. Pesquisa qualitativa realizada pela Fundação Perseu Abramo aponta que, as principais razões giram em torno das percepções de cumprirem um horário mais flexível que no regime da CLT, de renda mais elevada que o valor do salário mínimo e da ausência da figura hierárquica do chefe, controlando horários, hábitos e comportamento.
Os relatos encontrados em campo pela pesquisa apontam que entre opiniões colhidas sobre as “vantagens” do trabalho por conta própria estão a ausência de assédio por parte do superior hierárquico no ambiente laboral e, principalmente entre trabalhadores de baixa e média renda das periferias, aumento na sensação de autoestima pelo “status” conferidos ao trabalho autônomo e/ao empreendedorismo, mesmo que precarizado.
“O que mostra que a negação não é em direção ao trabalho em si, mas às condições em que o trabalho formal se dá”, diz o trabalho.
Desinformação
Outro problema detectado no relatório é a desinformação que ronda os trabalhadores sem vínculo empregatício, principalmente os ligados às plataformas digitais. O estudo aponta que esse “medo” pode ser verificado em fake news que circulam pela internet com manchetes como “Lula vai expulsar Uber do Brasil”, que repercutem muito entre motoristas e entregadores ligados a este tipo de serviço.
Cenário atual
O estudo aponta ainda que este cenário de decepção de parte dos trabalhadores com o vínculo formal de emprego pode ter relação com a falta de postos de trabalho decentes e a redução do poder de compra dos salários. Entre 2012 e 2022, o número de trabalhadores por conta própria cresceu de 20,5 para 25,3 milhões, acompanhando as condições da economia.
Neste período de dez anos, o rendimento médio mensal também caiu de R$ 2.013 para R$ 1.991. E para piorar a situação, a Reforma Trabalhista de 2017 estabeleceu mecanismos que estimulam a negociação individual entre patrões e empregados, reduzindo o poder de barganha destes últimos ao enfraquecer a negociação coletiva.
Segundo o CASB, baseados em dados do IBGE e Dieese, existem atualmente no Brasil 175,1 milhões de pessoas em idade ativa, sendo que 19% estão subutilizados. Os trabalhadores do setor público e privado somam 30,6 milhões com carteira assinada, apenas 31% do total. Já os sindicalizados não chegam a 11% da classe trabalhadora brasileira. Ainda de acordo com o relatório, 41,8% dos trabalhadores informais estão totalmente expostos e descobertos de proteções legais.
Fruto de um Grupo de Trabalho que reúne técnicos e acadêmicos especialistas no tema, o relatório é uma iniciativa das Fundações Perseu Abramo (PT), Maurício Grabois (PCdoB), Lauro Campos e Marielle Franco (PSOL) e Rosa Luxemburgo (partido alemão Die Linke – A Esquerda).
Leia abaixo a integra do relatório:
file:///C:/Users/P_115444/Downloads/relatorio-executivo-classes-trabalhadoras.pdf
Héber Carvalho