Em 2 de abril de 1964, um dia após o golpe que submeteu o país a 21 anos de Ditadura Militar, eram poucos os brasileiros que entendiam, naquele momento, o que realmente se passava e os efeitos daqueles acontecimentos para o futuro do país. O editorial do jornal O Globo daquele dia trazia o infame título “Ressurge a Democracia”. Em sua posse, o marechal Castelo Branco falou em democracia cinco vezes. “Nossa vocação é a liberdade democrática, governo da maioria com a colaboração e respeito das minorias”, enalteceu.
A história está aí para provar o contrário. De que nos serve estudar o passado, se não para reconhecer os erros e evitar repeti-los? No Brasil e fora, todos os golpes modernos tentaram conquistar a legitimidade na sociedade, nenhum golpe se assumiu como tal.
Dizem defender justamente o que atacam: a democracia; afirmam combater justamente o que querem abafar: a corrupção, numa troca de sinais que confunde a sociedade.
Se ainda resta dúvidas se o que vivemos hoje é golpe, basta ler a imprensa internacional, distante do acirramento que vivemos. Medindo a situação do Brasil com a régua da normalidade democrática, jornais como El País (Espanha), The Economist (Reino Unido), CNN e Fortune (EUA) e Suedeutsche Zeitung (Alemanha) acusaram o golpe. Le Monde (França) e The Guardian (Reino Unido), que inicialmente defenderam a legalidade do impeachment, pediram desculpas por terem opinado baseados apenas em informações da imprensa brasileira.
Nesta guerra de enredos, em que a imprensa joga com a opinião pública, é importante desconfiar, se perguntar a quem interessa o impeachment, quem o financiou e em troca de quê. São os mesmos de 1964, a elite industrial representada pela FIESP que quer redução de direitos trabalhistas. É a velha disputa de classes que se acirra a cada crise, em que o bolo orçamentário diminuí. É quando eles tentam fazer os trabalhadores pagar o pato.
* Jorge Solla é deputado federal pelo PT-BA
Assessoria Parlamentar
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