O mega reajuste de preços da gasolina e do diesel, em 11 de março, causou um aumento generalizado dos indicadores econômicos. Com o Índice Geral de Preços-10 (IGP-10), anunciado nesta segunda-feira (18) pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV), não foi diferente. O IGP-10 acelerou para 2,48% em abril, mais que o dobro do resultado de março (1,18%), acumulando alta de 7,63% no ano e de 15,65% em 12 meses.
O IGP-10 é uma das versões do Índice Geral de Preços (IGP). Ele registra a inflação de preços, desde matérias-primas agrícolas e industriais até bens e serviços finais, no período entre o dia 11 do mês anterior e o dia 10 do mês atual. O indicador é formado por 60% do IPA-10 (Índice de Preços por Atacado), 30% do IPC-10 (Índice de Preços ao Consumidor) e 10% do INCC-10 (Índice Nacional de Custos da Construção).
O IPA subiu 2,81% em abril, praticamente o dobro do resultado de março (1,44%). Na análise por estágios de processamento, os preços dos Bens Finais variaram de 1,69% em março para 4,07% em abril. A principal contribuição partiu do subgrupo combustíveis para o consumo, cuja taxa passou de -0,71% para 15,92%. O índice relativo a Bens Finais, que exclui os subgrupos alimentos in natura e combustíveis para o consumo, subiu 2,34% em abril. Em março, a taxa foi de 0,90%.
A taxa do grupo Bens Intermediários avançou de 1,07% em março para 4,26% em abril. A principal contribuição veio do subgrupo combustíveis e lubrificantes para a produção, cuja taxa disparou de 2,96% para 17,65%. O índice de Bens Intermediários, medido após a exclusão do subgrupo combustíveis e lubrificantes para a produção, subiu 1,88% em abril, após variar 0,74% no mês anterior.
“A contribuição dos combustíveis foi destacada para o avanço da taxa do IPA, que passou de 1,44% em março para 2,81% em abril”, afirma André Braz, Coordenador dos Índices de Preços, destacando níveis elevados de disseminação das pressões inflacionárias por todos os campos. “Mesmo excluindo a contribuição da gasolina (0,15% para 18,73%) e do diesel (0,24% para 24,90%) no IPA, a variação média do índice ao produtor ficaria em 1,81%, superando a variação apurada pelo IPA em março”, apontou.
O IPC subiu 1,67% em abril, contra 0,47% em março. Sete das oito classes de despesa componentes do índice registraram alta: Transportes (0,16% para 3,42%), Habitação (0,49% para 1,62%), Educação, Leitura e Recreação (-0,02% para 0,95%), Alimentação (1,54% para 1,88%), Saúde e Cuidados Pessoais (-0,03% para 0,39%), Vestuário (0,41% para 1,24%) e Despesas Diversas (0,24% para 0,59%). As principais contribuições vieram da gasolina (-1,18% para 7,62%), tarifa de eletricidade residencial (-0,20% para 2,10%), passagem aérea (-1,00% para 4,73%) e aves e ovos (-0,62% para 1,78%).
O INCC subiu 1,17%, contra 0,34% em março. Os três grupos componentes do indicador dispararam de março para abril: Materiais e Equipamentos (0,27% para 1,08%), Serviços (1,08% para 0,69%) e Mão de Obra (0,27% para 1,34%).
Outro indicador divulgado nesta segunda, o Índice de Preços ao Consumidor-Semanal (IPC-S), subiu 1,84% e acumula alta de 11,45% nos últimos 12 meses. O índice mede a variação do custo de vida para famílias com renda entre 1 e 33 salários-mínimos. Apesar de a coleta ser semanal, a apuração das taxas de variação leva em conta a média das quatro últimas semanas até a data de fechamento.
Na segunda quadrissemana de abril, cinco das oito classes de despesa componentes do índice apresentaram alta. A maior contribuição veio do grupo Transportes, cuja taxa de variação passou de 3,14%, na primeira quadrissemana, para 3,60% na segunda quadrissemana. O preço do item gasolina variou 7,80%, ante 6,77% no período anterior.
Também registraram alta das taxas de variação os grupos Habitação (1,45% para 1,81%), Educação, Leitura e Recreação (0,91% para 1,35%), Saúde e Cuidados Pessoais (0,39% para 0,65%) e Comunicação (-0,07% para 0,00%).
Para economistas, população permanecerá mais pobre por anos
Ouvidos pelo portal UOL, economistas dimensionaram os efeitos negativos da inflação de dois dígitos de Jair Bolsonaro e seu ministro-banqueiro Paulo Guedes. A carestia sem fim causada pela dupla, avaliam, deixou os brasileiros mais pobres, e a perda de poder aquisitivo só irá se recuperar se a renda média avançar mais rápido que a inflação, a mais forte em duas décadas.
“O salário mínimo subiu menos que a inflação. Além disso, os produtos estão subindo muito mais que os índices de preços. Mesmo que o salário acompanhasse a inflação, não seria suficiente para repor o poder da compra. Para piorar, a renda média da população caiu 4,2% desde março de 2020”, afirma a reportagem, sem mencionar que Bolsonaro extinguiu a política de valorização do salário mínimo praticada pelos governos petistas, que garantia a recomposição salarial acima da inflação.
“A inflação que temos hoje empobrece o brasileiro, que tem seu poder de compra reduzido, pois alimentos, tarifas públicas, gás de cozinha, combustíveis, energia, tudo tem subido muito acima da inflação, e a renda não vem crescendo”, afirmou o presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Antonio Corrêa de Lacerda.
Também coordenador do programa de pós-graduação em Economia Política da PUC-SP, Lacerda afirma que a perda de poder aquisitivo das famílias será permanente se os trabalhadores não voltarem a receber aumentos reais.
“A inflação alta sempre representa menor poder aquisitivo porque as pessoas não conseguem recompor perdas. O aumento de salário que vem lá na frente não repõe o poder de compra”, reforça o coordenador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), Guilherme Moreira.
O economista da Universidade de São Paulo (USP) lembra que a inflação corrói o poder de compra principalmente dos mais pobres, porque os itens que mais estão subindo são os essenciais, que mais pesam na cesta das famílias de menor renda.
“A inflação afeta também as famílias de classes mais elevadas, mas elas conseguem de alguma forma ajustar o orçamento”, ressalta Moreira. “Além disso, essas classes que têm algum tipo de investimento financeiro conseguem se aproveitar da alta dos juros para melhorar o rendimento das aplicações.”
Fausto Augusto Júnior, diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), afirma que a desregulamentação do mercado de trabalho, o fim dos estoques reguladores dos alimentos e a descontinuidade das políticas de fortalecimento da agricultura familiar colocaram a economia brasileira em um círculo vicioso, difícil de ser revertido no curto prazo.
“Os trabalhadores formais estão com dificuldades para repor as perdas salariais, com a crise econômica e o endurecimento das negociações desde a reforma trabalhista de 2017, que desvalorizou a negociação coletiva e enfraqueceu o movimento sindical”, finaliza o economista do Dieese.
PTNacional, com Imprensa FGV