Como já era previsto, o mega reajuste de 18,8% para a gasolina e de 24,9% para o diesel que vigora desde 11 de março gerou um efeito em cadeia na já descontrolada carestia dos dois dígitos de Jair Bolsonaro e seu ministro-banqueiro Paulo Guedes. Um dos dois índices inflacionários anunciados nesta quinta-feira (30) – a “inflação do aluguel” – reflete diretamente a dolarização de preços adotada pela Petrobras a partir de 2016.
Referência nas negociações entre inquilinos e imobiliárias, o Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) subiu 1,74% em março. O indicador superou a expectativa de pesquisa da Reuters com analistas do mercado, que estimava avanço de 1,37%, após a variação de 1,83% em fevereiro. Com isso, a alta acumulada em 12 meses chegou a 14,77%.
“O indicador do IBGE soma no ano variação de 1,77%, o terceiro maior resultado já registrado em fevereiro desde o início da série histórica, em 2014. No acumulado em 12 meses, o IPP chega a 20,05%.
“Nesta apuração, os combustíveis começaram a influenciar os resultados da inflação ao produtor e ao consumidor. O preço do diesel avançou para 8,89% ao produtor, e o da gasolina subiu 1,36% ao consumidor”, afirma o Coordenador dos Índices de Preços da FGV, André Braz.
“Os preços do trigo (de 1,69% para 4,90%), da farinha de trigo (de 2,68% para 6,25%) e dos pães e bolos industrializados (de 1,11% para 1,20%) também começaram a registrar aceleração no índice ao produtor”, completou o pesquisador, destacando as consequências das sanções econômicas à Rússia sobre o preço da comodity.
“Um dos dois índices inflacionários anunciados nesta quinta-feira (30) – a “inflação do aluguel” – reflete diretamente a dolarização de preços adotada pela Petrobras a partir de 2016.
O IGP-M calcula os preços ao produtor, consumidor e construção civil entre os dias 21 do mês anterior e 20 do mês de referência. O Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que responde por 60% do índice geral e apura a variação dos preços no atacado, teve alta de 2,07%, após subir 2,36% em fevereiro. Reflexo da alta dos Bens Intermediários, que acelerou de 1,50% em fevereiro para 2,06% em março, como resultado do aumento do custo, de 5,40% para 8,02%, de combustíveis e lubrificantes para a produção.
O Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que tem peso de 30% no índice geral, também acelerou a alta – de 0,33% em fevereiro para 0,86% em março. Da mesma forma, a principal contribuição partiu do grupo Transportes, cujo aumento de preços acelerou de 0,26% para 1,15%, com alta de 1,36% da gasolina. E com o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), que variou 0,73% em março, ante 0,48% em fevereiro.
“Brasil precisa saber a verdade: dolarização é forma perversa de extorquir o povo para favorecer acionistas privados, na maioria estrangeiros. Petrobras tem de voltar a ser dos brasileiros”, comentou a presidenta nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), em postagem no Twitter.
O brasileiro já começou a ver que Bolsonaro mente sobre quem é responsável pelo preço dos combustíveis. DataFolha mostrou que 68% veem o presidente como culpado e não os governadores. Nesse governo, a gasolina subiu 157% nas refinarias, segundo o Dieese.
— Gleisi Hoffmann (@gleisi) March 29, 2022
IBGE vê preços subindo na indústria
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por sua vez, estima que os preços de 15 das 24 atividades industriais sofreram alta em fevereiro, comparativamente a janeiro. Considerado a “inflação na porta de fábrica”, o Índice de Preços ao Produtor (IPP) das Indústrias Extrativas e de Transformação subiu 0,56% no mês.
Com isso, o indicador do IBGE soma no ano variação de 1,77%, o terceiro maior resultado já registrado em fevereiro desde o início da série histórica, em 2014. No acumulado em 12 meses, o IPP chega a 20,05%.
O indicador mede os preços de produtos para a indústria, sem impostos e fretes, e abrange as grandes categorias econômicas: bens de capital, bens intermediários e bens de consumo (duráveis, semiduráveis e não duráveis). As quatro atividades com maiores variações, em termos absolutos, em fevereiro, foram indústrias extrativas (8,34%); fumo (-2,92%); madeira (-2,73%); e metalurgia (-2,55%).
Indústrias extrativas foi o setor de maior destaque na composição do resultado agregado, sendo responsável por 0,44 ponto percentual (p.p.) de influência na variação da indústria geral. Outras atividades que também sobressaíram foram refino de petróleo e biocombustíveis, com 0,19 p.p. de influência, e alimentos (0,16 p.p.).
Entre atividades com maiores variações no acumulado no ano em fevereiro estão indústrias extrativas (18,68%), bebidas (4,90%), fumo (-4,39%) e impressão (4,04%). As principais influências foram indústrias extrativas (0,91 p.p.), refino de petróleo e biocombustíveis (0,44 p.p.), metalurgia (-0,29 p.p) e veículos automotores (0,17 p.p).
“As consequências da guerra entre a Rússia e a Ucrânia não tiveram um impacto claro no resultado do IPP. O início da invasão na Ucrânia aconteceu no fim de fevereiro, e as principais sanções econômicas contra a Rússia ocorreram a partir de março” explica o analista da pesquisa, Murilo Lemos Alvim. “O que provocou a alta das commodities foi a redução da oferta, junto com uma demanda aquecida.”
PTNacional, com Imprensa FGV e IBGE