Após 45 anos desaparecido, relatório sigiloso produzido por órgãos de investigação interna da ditadura relata atrocidades cometidas contra populações indígenas. Para petistas, regime possuía projeto de “extermínio” das populações originárias.
O chamado “Relatório Figueiredo” foi encontrado recentemente no Museu do Índio, no Rio de Janeiro, com mais de sete mil páginas preservadas e contendo 29 dos 30 tomos originais. O documento registra chacinas e matanças de tribos inteiras, bem como “caçadas”, torturas e outros tipos de crimes praticados contra indígenas em todo o País, inclusive com a participação ativa de latifundiários e funcionários do extinto Serviço de Proteção ao Índio (SPI).
Para o deputado Padre Ton (PT-RO), que preside a Frente Parlamentar de Apoio aos Povos Indígenas, o material precisa ser analisado para que os crimes sejam apurados e os responsáveis possam ser punidos. “Se hoje alguns povos indígenas já sofrem um genocídio, com esse documento fica provado que a ditadura e os ruralistas da época tinham um projeto de extermínio. Espero que a verdade venha à tona e que o Estado brasileiro possa pagar pelos seus crimes”, cobrou Padre Ton.
O deputado Nilmário Miranda (PT-MG) lembra que há algum tempo se investiga a ação dos militares em relação aos indígenas na Guerrilha do Araguaia, mas o “Relatório Figueiredo” pode mostrar que os crimes contra os índios ocorreram em todas as regiões do País. “Já tínhamos dados do Araguaia, mas agora vamos poder confirmar que na ditadura houve um projeto para acabar com os povos indígenas ou reduzi-los a um contingente minúsculo e para isso usaram tanto a violência quanto a aculturação”, afirmou Nilmário.
“Graças ao retorno da democracia e à Constituição, que assumiu o caráter multiétnico da nação brasileira, os povos indígenas foram salvos e hoje estão próximos de chegar a um milhão de habitantes”, acrescentou o parlamentar mineiro.
O documento, de 1968, foi redigido pelo então procurador Jader de Figueiredo Correia e, além da violência, relata envenenamentos, inoculações propositais de varíola em povoados isolados, uso de dinamite atirada de aviões e outras práticas que visavam dizimar as tribos.
Dentre as torturas, o “tronco” é descrito da seguinte maneira: “Consistia na trituração dos tornozelos das vítimas, colocadas entre duas estacas enterradas juntas em um ângulo agudo. As extremidades, ligadas por roldanas, eram aproximadas lenta e continuamente”.
A Comissão Nacional da Verdade já está com o material e deve se debruçar sobre ele para formular o seu relatório final, previsto para ser apresentado até maio de 2014, se não houver prorrogação dos seus trabalhos.
Rogério Tomaz Jr. com portal Rede Democrática