Ao novas grosserias contra a França, relatadas pelo ministro-banqueiro Paulo Guedes em um evento da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), nesta quarta-feira (10), explicam por que o Brasil se tornou um pária mundial. No tabuleiro diplomático planetário, Jair Bolsonaro e seus ministros se posicionam no lado oposto ao da política de relações exteriores dos governos do PT, que transformou o Brasil no terceiro maior exportador de alimentos do mundo.
Com a usual arrogância delirante, Guedes invocou uma suposta “perda de relevância” justo do maior empregador estrangeiro no Brasil e terceiro país que mais investe em nosso território. O governo francês, no entanto, também é o maior opositor ao que seria a grande conquista diplomática bolsonarista: o acordo comercial União Europeia-Mercosul, paralisado até o desgoverno Bolsonaro apresentar sólidas salvaguardas ambientais. Por isso Guedes emula a linguagem rasteira do chefe ao mencionar o país.
Em vez de negociar soberanamente, Bolsonaro e cúmplices como Guedes atropelam a diplomacia brasileira – antes, uma das mais respeitadas do mundo – e degradam diálogos de alto nível em briga de botequim. Perdem com isso os grandes setores exportadores da economia brasileira, cada vez sob mais pressão internacional devido ao contencioso ecológico gerado pela política bolsonarista de terra arrasada – literalmente.
Se as exportações para a França crescem 18% neste ano, somando R$ 1,796 bilhão até julho, conforme reportagem do Estado de São Paulo, as relações Brasil-França já foram muito mais harmônicas e produtivas. Após um conjunto de ações bilaterais que culminaram no Ano do Brasil na França, em 2005, e no Ano da França no Brasil, em 2009, as exportações para os franceses chegaram ao pico de US$ 4,3 bilhões em 2011.
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Mérito de uma política externa que consolidou a participação do agronegócio nos mercados tradicionais e, ao mesmo tempo, buscou novos destinos para as vendas. Assim, os Governos Lula e Dilma fizeram as exportações de produtos agropecuários crescerem 478% entre 2003 e 2014. O país, que até 2003 exportava para 120 nações, passou a vender para 210 países, e até hoje o Brasil é o maior exportador mundial de soja, açúcar bruto, carne bovina congelada e aves.
A cadeia produtiva do agronegócio passou de US$ 30,65 bilhões em exportações, em 2003, para US$ 99,96 bilhões em 2013. A China, que em 2003 importou US$ 1,7 bilhão do agronegócio brasileiro, em 2013 tornou-se o principal destino das exportações do setor. Foi a primeira vez, em ano fechado, que a China superou a União Europeia como principal comprador de produtos do agronegócio brasileiro, adquirindo US$ 22,88 bilhões naquele ano.
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Entre os mercados conquistados ou consolidados pelo agronegócio nacional também despontaram a Índia, os países africanos e os 22 países árabes. Estes passaram a ser o quarto principal destino dos produtos do agronegócio brasileiro em 2013, dez anos após o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva fazer uma viagem histórica ao Oriente Médio e países árabes, com escalas na Síria, Líbano, Emirados Árabes, Egito e Líbia.
Em 2003, o agronegócio brasileiro exportava US$ 1,8 bilhão para o Oriente Médio. Em 2013, a corrente comercial havia crescido 300%, e os países da região compraram do Brasil 17 milhões de toneladas de alimentos, gerando receita de US$ 10,5 bilhões.
Primeiro chefe de governo brasileiro a visitar o Oriente Médio desde o imperador D. Pedro II, Lula provou como uma viagem e vontade política puderam superar décadas de oportunidades perdidas enquanto o Brasil concentrava as relações comerciais em poucos parceiros.
Governos do PT elevaram investimentos e ampliaram relações com parceiros
A produção nacional alimenta atualmente 10% da população mundial. E o Brasil é hoje o quarto maior produtor e terceiro maior exportador de alimentos do mundo porque o Governo Lula mudou as prioridades da política externa brasileira e trabalhou para ampliar as relações entre o Brasil e países de todas as regiões do planeta, reduzindo a dependência em relação à Europa e Estados Unidos.
Ao mesmo tempo, um conjunto de políticas de crédito, de apoio ao desenvolvimento de novas tecnologias e de abertura de mercados elevou o agronegócio ao atual patamar. Para financiar a produção, na safra 2002/2003 (última antes do Governo Lula), foram autorizados R$ 20 bilhões em crédito. Na safra 2015/2016, foram R$ 187,7 bilhões, aumento real de 302% e então maior valor da história.
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Também foram criadas linhas de crédito mais adequadas ao perfil do produtor. O Pronamp, para médios produtores, o Moderfrota e o Inovagro, para estimular investimento em máquinas e equipamentos, e o programa ABC – Agricultura de Baixo Carbono, para apoiar adoção de práticas mais sustentáveis de produção. O custo do crédito foi reduzido ao ponto de, nas três últimas safras do período do PT, as taxas de juros praticadas serem negativas.
Com mais recursos a cada ano, o agronegócio respondeu à altura: a produção de grãos cresceu 98% em 12 anos, saltando de 96 milhões de toneladas (safra 2001/2002) para 191 milhões de toneladas (2013/2014). O Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio cresceu 34% em dez anos, chegando a R$ 1,03 trilhão em 2014. O peso na balança comercial decolou, e o setor foi responsável por 41,28% das exportações em 2013.
Entre as safras 2001/2002 e 20013/2014, a produção brasileira de grãos cresceu 98%, enquanto a área cultivada aumentou apenas 40%. O aumento da produtividade se deu graças à pesquisa – que avançou com o fortalecimento da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) – e aos investimentos em tecnologia e inovação.
Na pecuária, avanços nas áreas de melhoramento genético, controle de doenças e qualidade das pastagens fizeram a atividade crescer a uma taxa de 5% ao ano. Até o Brasil passar a possuir o maior rebanho comercial bovino do mundo, com 210 milhões de cabeças.
Outra importante medida foi a criação do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), para reduzir os riscos do produtor agrícola. Com ele, o governo assumiu o compromisso de ajudar o produtor a pagar uma parte do valor da apólice do seguro, em percentual que variava conforme a cultura, a região e riscos envolvidos.
As subvenções pagas pelo governo cresceram de R$ 2 milhões, em 2005, primeiro ano de operacionalização do programa, para R$ 693 milhões em 2014, ano de maior cobertura. Durante os governos do PT, foram investidos R$ 2,8 bilhões no atendimento a 447 mil produtores rurais.
Desde 2016, esse ambiente favorável ao financiamento do agronegócio foi interrompido. O total de recursos destinados ao financiamento na safra 2019/2020, a primeira do desgoverno Bolsonaro, foi 14% menor, em termos reais, do que o último autorizado pela presidenta Dilma. O estrago também foi grande no seguro rural: o número de produtores atendidos e o montante de subvenções caíram pela metade.