A presidenta Dilma Rousseff declarou-se na noite de hoje (2) “indignada” com a decisão do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de abrir processo de impeachment. Em pronunciamento no Palácio do Planalto, ela foi dura na crítica a Cunha, mesmo sem citá-lo diretamente. “Não possuo conta no exterior, nunca coagi instituições ou pessoas, nunca escondi dinheiro. Meu passado e presente atestam meu respeito à lei e à coisa pública”, disse.
Cunha é alvo de investigações pela Procuradoria-Geral da República no âmbito da Operação Lava Jato por ter contas na Suíça das quais é beneficiário. Segundo a imprensa, numa das contas ocultas teria R$ 60,8 milhões, nunca declarados à Receita Federal.
A presidenta afirmou ainda que “não podemos deixar conveniências abalarem a democracia do país”. “Devemos ter tranquilidade”, frisou. “Meu passado e meu presente atestam a minha idoneidade e inquestionável compromisso com as leis e as coisas públicas”, disse Dilma.
Leia a íntegra do discurso:
“Dirijo uma palavra de esclarecimento a todas as brasileiras e brasileiros.
No dia de hoje, foi aprovado pelo Congresso Nacional o projeto de lei que atualiza a meta fiscal, permitindo a continuidade da prestação dos serviços públicos fundamentais para todos os brasileiros.
Ainda hoje, recebi com indignação a decisão do Sr. Presidente da Câmara dos Deputados de processar pedido de impeachment contra mandato democraticamente conferido a mim pelo povo brasileiro.
São inconsistentes e improcedentes as razões que fundamentam este pedido.
Não existe nenhum ato ilícito praticado por mim.
Não paira contra mim nenhuma suspeita de desvio de dinheiro público.
Não possuo conta no exterior, nem ocultei do conhecimento público a existência de bens pessoais.
Nunca coagi ou tentei coagir instituições ou pessoas na busca de satisfazer meus interesses.
Meu passado e meu presente atestam a minha idoneidade e meu inquestionável compromisso com as leis e a coisa pública.
Nos últimos tempos, e em especial, nos últimos dias, a imprensa noticiou que haveria interesse na barganha dos votos de membros da base governista no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. Em troca, haveria o arquivamento dos pedidos de impeachment.
Eu jamais aceitaria ou concordaria com quaisquer tipos de barganha.
Muito menos aquelas que atentam contra o livre funcionamento das instituições democráticas, bloqueiam a justiça ou ofendam os princípios morais e éticos que devem governar a vida pública.
Tenho convicção e absoluta tranqüilidade quanto à improcedência deste pedido, bem como quanto ao seu justo arquivamento.
Não podemos deixar as conveniências e interesses indefensáveis abalarem a democracia e a estabilidade do nosso país.
Devemos ter tranquilidade e confiar nas nossas instituições e no Estado Democrático de Direito.
Obrigada e Boa Noite!”
PT na Câmara
Foto: Agência Brasil