A presidente Dilma Rousseff afirmou no final da tarde desta segunda-feira (18), em coletiva no Palácio do Planalto, que se sente injustiçada pela decisão da Câmara dos Deputados, que aprovou a admissibilidade do seu processo de impeachment na noite de domingo. Ela afirmou que, mesmo indignada, não vai desistir de lutar em nenhum momento e que não está em questão o seu mandato, e sim a democracia. “Estou tendo meus direitos torturados, mas não vão matar a esperança, porque eu sei que a democracia é sempre o lado certo da história”.
A presidenta lembrou que já disputou o primeiro, o segundo e o terceiro turno. E agora enfrentará o quarto turno no Senado. “Não vou me abater. Vou continuar lutando como fiz ao longo de toda a minha vida. Não vão matar em mim a esperança”, disse. E acrescentou: “Agora enfrento também um golpe de Estado”.
Injustiça – Dilma explicou porque se sente injustiçada, enfatizando que esse é um processo que não tem base de sustentação. “A injustiça sempre ocorre quando se esmaga o processo de defesa, mas também quando, de uma forma absurda se acusa alguém por algo, primeiro que não é crime, e segundo acusa e ninguém se refere qual é o problema”. A presidenta disse que assistiu ao longo da noite de domingo a todas as intervenções, e não viu uma discussão sobre o crime de responsabilidade, que é a única maneira de se julgar um presidente da República no Brasil.
A presidenta fez questão de enfatizar que não cometeu nenhum ato baseado em ilegalidades. “Os atos que me acusaram foram praticados baseados em pareceres técnicos. Nenhum deles beneficia a mim pessoalmente. Tenho certeza que todos sabem que é assim”, afirmou. Além disso, continuou, “é muito interessante que contra mim não há acusação de enriquecimento ilícito. Por isso, me sinto injustiçada, porque aqueles que praticaram atos ilícitos e têm contas no exterior presidem a sessão e conduzem sessões importantes como a do impeachment de um presidente da República”, disse, se referindo ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Dilma disse ainda que é “estarrecedor que um vice-presidente no exercício do seu mandato conspire contra a presidente abertamente”. E acrescentou que em nenhuma democracia do mundo uma pessoa que fizesse isso seria respeitada “porque a sociedade humana não gosta de traidores”.
Pauta-bomba – A presidenta também disse que se sentia injustiçada por não terem permitido que ela tivesse estabilidade política nos últimos 15 meses. “Praticam comigo o jogo do quanto pior, melhor. Pior para o Brasil, melhor para a oposição. E praticam isso por meio de pautas-bomba”, afirmou. Ela citou que projetos aprovados no Congresso geram despesas adicionais para o governo, no ano passado, que chegaram ao montante de R$ 40 bilhões.
Golpe – Dilma Rousseff enfatizou que no passado enfrentou, por convicção, a ditadura. E que agora enfrenta também um golpe de Estado. “Não o golpe tradicional da minha juventude, mas o golpe infelizmente da minha maturidade. Um golpe que usa aparência democrática”, afirmou. Para a presidenta, nenhum governo poderá ser legítimo sem ser por obra do voto secreto, direto, em eleição convocada previamente para esse fim, na qual todos os cidadãos participem.
Ela disse ter certeza de que terá a oportunidade de se defender no Senado. E afirmou está no início da luta, uma luta que será muito longa e demorada. “Ela não é simples e é muito importante para a democracia. Não é por mim, mas é pelos 54 milhões que eu tive”, afirmou.
Governo – A presidente aproveitou para informar que fará mudanças na política econômica, sem antecipar quais. “Será necessário um grande rearranjo do governo. Teremos um outro governo, um novo caminho (…) novas medidas econômicas”. Dilma concluiu enfatizando que sem democracia não há, nem haverá, crescimento econômico, nem a capacidade de criar empregos e de manter programas sociais.
Vânia Rodrigues, com agências
Foto: Roberto Stuckert Filho/PR