O Brasil está quase concluindo a repatriação de cidadãos e cidadãs em Israel, segundo o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. A afirmação foi feita durante audiência na Comissão de Relações Exteriores do Senado (CRE), nesta quarta-feira (18/10).
“A determinação do senhor presidente da República é não deixar nenhum brasileiro ou brasileira para trás”, afirma o ministro.
Ele destaca que 324 brasileiros e brasileiras em Israel aguardam atualmente o regresso ao Brasil. “Há um sexto voo que parte hoje com capacidade para 223 passageiros. Com esse voo, já serão cerca de 1.137 brasileiros e brasileiras em Israel repatriados. Esperamos concluir a primeira fase até o final desta semana”, disse.
Israel tem 14 mil residentes brasileiros, além de receber, todos os anos, cerca de 90 mil turistas que vivem no Brasil.
“Nossa prioridade foi repatriar os não residentes em primeiro lugar. Estabelecemos voos praticamente diários de repatriação de brasileiros desde o dia 10 de outubro. O Brasil foi o primeiro país a por em funcionamento uma operação desse tipo. Nossa expectativa é concluir essa primeira fase de repatriação de todos os que se registraram até o final desta semana”, explica.
A situação é muito mais complexa na Faixa de Gaza – ainda que o número de brasileiros seja bem menor. “Isso porque envolve diversos fatores e atores. Dos cerca de 40 cidadãos brasileiros em Gaza, há 32 que, até o momento, manifestaram o desejo de serem repatriados”, disse Vieira.
Deste total, segundo ele, há pelo menos 13 crianças e oito mulheres.
“O presidente Lula e eu temos mantido uma série de contatos de alto nível com o objetivo de facilitar a repatriação dos nacionais brasileiros, criar um corredor para levar ajuda humanitária, a libertação dos reféns e, de forma mais ampla, criar espaços para a retomada do processo de solução política e muita paz para a região”, explica o ministro.
Para o senador Humberto Costa (PT-PE), o povo brasileiro deve estar orgulhoso do trabalho das Forças Armadas, da diplomacia do país, mas, principalmente, do presidente da República. “Eu tenho ouvido as pessoas falarem: a FAB é maravilhosa, o Itamaraty é maravilhoso… Mas existe um chefe de Estado e de Governo que se chama Luiz Inácio Lula da Silva, que adotou essas posições”.
O petista lembra que a postura do Brasil sobre o conflito entre Israel e Palestina é a mesmo há décadas, excetuando “um período recente de triste memória”, se referindo ao governo Bolsonaro.
“A posição da diplomacia brasileira defendida aqui é a mesma até mesmo durante o período de governo militar; o governo FHC; os governos Lula e Dilma e o governo Temer. Portanto, não se está aqui criando a roda em uma posição diferenciada que o Brasil estaria adotando”, destaca.
Humberto Costa lembra que o presidente Lula tem autoridade para falar do conflito por ter sido o primeiro presidente brasileiro, no exercício do mandato, a visitar os dois países.
Apoio humanitário
Além do apoio aos brasileiros, Mauro Vieira destacou o apoio do Brasil aos que sofrem com o conflito. Segundo ele, o país já enviou equipamentos e mantimentos por meio de voos da FAB que foram repatriar brasileiros e brasileiras.
“Foram encaminhados 40 purificadores de água, com capacidade para tratar 220 mil litros de água por dia, bem como dois kits de medicamentos e insumos farmacêuticos, pesando em torno de 300 kg. Essas doações aguardam, no momento, já em território egípcio, no Sinai. Aguardam a abertura da passagem de Rafah para serem entregues em Gaza”, explica.
Veto
O ministro Mauro Vieira explicou ainda sobre a resolução apresentada pelo Brasil no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). O país, que preside o órgão no mês de outubro, elaborou o texto que seria a primeira manifestação da ONU sobre o conflito no Oriente Médio.
Ao todo, 12 países votaram a favor da resolução, dois se abstiveram e apenas os Estados Unidos se manifestaram contra. Pelas normas do conselho, qualquer um dos cinco países membros – que é o caso dos EUA – tem direito a vetar totalmente uma proposta, independente do número de votos favoráveis.
“Esses votos são muito significativos. Se não tivesse o voto [contrário dos EUA], seria aprovada. Cerca de cinco mil pessoas estão querendo sair de Gaza pela passagem de Rafah para o Egito. E essa resolução pede também ajuda humanitária, que é indispensável, e que se poupe crianças e idosos. Então, é uma grande conquista”, coloca.
“O que fazer depois do veto? Temos que esperar uma circunstância nova. Um novo momento. Se acontecer até o final do mês de outubro, nós tomaremos novamente a inciativa e consultaremos com todos para construir uma posição comum”, acrecenta.
Hamas
Tanto o ministro Vieira quanto o senador Humberto comentaram a posição brasileira sobre o Hamas. A resolução apresentada nos últimos dias no Conselho de Segurança da ONU não cita o grupo como terrorista por uma razão: o Brasil teria uma dificuldade ainda maior para evacuar brasileiros que estão na região.
“Vossa Excelência foi muito feliz ao dizer: O que adianta eu começar com uma resolução dizendo que o Hamas é terrorista? Não seria um veto só. Seriam vários. O objetivo que o Brasil teve foi o de encontrar uma solução. Encontrar uma solução para uma crise que é humanitária”, disse o parlamentar.
Por PT no Senado