Desemprego: 38,7 milhões vivem em lares sem renda do trabalho

Desespero: pessoas sem renda nenhuma representavam 17,9% da população em 2021, o segundo maior patamar já registrado desde 2012 (Felipe Nyland - Site do PT)

Enquanto Jair Bolsonaro mente dizendo que a economia “está bombando”, o percentual de pessoas que vivem em lares sem qualquer renda do trabalho chega ao maior patamar desde 2020. Naquele ano, a pandemia impediu os trabalhadores, principalmente informais, de irem às ruas para garantir o sustento, enquanto o Planalto protelava a adoção do auxílio emergencial. Dois anos depois, os problemas são outros, mas a origem deles ainda é a ação nefasta do desgoverno Bolsonaro.

Um levantamento do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Iesp/Uerj) estima que 38,7 milhões de pessoas vivem em lares sem qualquer renda do trabalho, nem mesmo o informal. Elas representavam 17,9% da população em 2021, o segundo maior patamar já registrado desde 2012, início da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE.

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Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística fundamentam o levantamento do sociólogo Rogério Barbosa, para quem “nunca se trabalhou tão pouco assim”. “Isso significa que uma série de pessoas está vivendo exclusivamente de rendas assistenciais, estratégias precárias e previdência de baixa remuneração”, explica Barbosa em reportagem do Jornal O Globo.

Entre as famílias brasileiras, a remuneração do trabalho costuma corresponder a 75% da renda familiar. Elas também podem receber aposentadorias, pensões, benefícios sociais, aluguéis, juros e dividendos. Mas 2% da população, ou 4 milhões de pessoas, não recebem qualquer tipo de remuneração. O percentual dobrou em relação a 2012 e representa a maior parcela já registrada de brasileiros sem qualquer tipo de renda.

Embora a precarização do trabalho tenha atingido níveis recordes no país nesses anos de Bolsonaro e seu ministro-mascate Paulo Guedes, a renda informal não retornou para as famílias no mesmo nível de antes da pandemia, atesta o sociólogo. “São menos recebedores, com renda menor e vínculos mais frágeis”, afirma.

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Trabalhadores informais ainda não recuperaram renda pré-pandemia

“Muitas pessoas perderam o pouco capital que tinham, coisas simples, como uma barraca, um carrinho de pipoca, para conseguir se manter ou pelo menos alugar. Durante a pandemia, sem fonte de recurso, tiveram que vender esse capital”, lembra o professor da Universidade de São Paulo (USP) Naercio Menezes Filho. “Essas famílias estão vivendo uma situação muito difícil.”

Menezes, também diretor do Centro de Pesquisa Aplicada à Primeira Infância do Insper, ressalta que a transição no mercado de trabalho inclui máquinas e inteligência artificial substituindo trabalhadores em tarefas simples e rotineiras. Os empregos formais são criados para tarefas não repetitivas, que exigem capacidade de negociação e análise.

“São pessoas que não têm essas habilidades, não tiveram formação de ensino médio, não tiveram oportunidades, não conseguiram desenvolver as habilidades cognitivas”, prossegue o professor. “Muitas perderam o pouco que tinham e, ao mesmo tempo, houve essa mudança no mercado.”

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Parte desse grupo, principalmente as pessoas mais velhas, não vai mais retornar ao mercado de trabalho, diz Menezes. Sintoma disso é o crescimento do desemprego de longa duração. No segundo trimestre deste ano, havia 3 milhões de desempregados que procuram vaga há dois anos ou mais, o que corresponde a 29,6% dos desocupados, conforme a Pnad Contínua.

Menezes cita como exemplo de transformação o uso de robôs em operadoras de call center. Isso está afetando mais o emprego no Nordeste, onde 25,7% da população vivem em domicílios sem renda do trabalho. Entre os ocupados na região, 57,1% são informais. “Há uma estratificação regional, o trabalho só tem aumentado no Sul e Sudeste. No Nordeste está estagnado. A desigualdade regional aumentou”, aponta.

“Está na contramão da tendência anterior, entre o início do século e meados de 2010, quando houve ganho de renda na base da pirâmide”, afirma o sociólogo Pedro Ferreira de Souza. “Naqueles anos, a geração de emprego formal foi em setores que absorvem mão de obra menos qualificada. Depois da recessão, essa geração de emprego na base parou. A renda dos 20% mais pobres caiu muito e nunca mais se recuperou nem voltou ao patamar que estava em 2012.”

PTNacional

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