Parlamentares do PT que integram a CPMI das Fake News afirmaram nesta quinta-feira (9), que a ação do Facebook que desativou 88 perfis e contas ligadas aos filhos e aliados próximos do presidente Jair Bolsonaro “é um duro golpe no gabinete do ódio”, esquema que produz e dissemina notícias falsas, desinformação e promove ataques a opositores do governo nas redes sociais. Segundo os parlamentares, a ação do Facebook também reforça a necessidade da cassação da chapa presidencial Bolsonaro-Mourão, ao comprovar que a organização criminosa atua desde as eleições de 2018.
Nesta quarta-feira (8), a rede social declarou que havia banido perfis e páginas – em vários países – que disseminavam conteúdo falso e propagavam discursos de ódio. No Brasil foram derrubados 73 perfis (35 no Facebook e 38 no Instagram), além de 14 páginas e 1 grupo no Facebook, totalizando quase 2 milhões de seguidores.
Segundo relatório do próprio Facebook, essa rede atuava desde as eleições de 2018 no Brasil, “enganando sistematicamente o público, utilizando contas duplicadas e falsas, enviando spam, e utilizando ferramentas artificiais para aumentar a presença nas plataformas sociais, o que é proibido pelas normas da rede social”.
O documento diz ainda que encontrou provas da ligação entre administradores das contas e funcionários dos gabinetes do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), e do assessor do presidente Jair Bolsonaro, Tércio Arnaud Tomaz, que tem gabinete no Palácio do Planalto. O Facebook ainda afirma que participam do esquema funcionários dos gabinetes dos deputados estaduais Anderson Moraes (PSL-RJ) e Coronel Nishikawa (PSL-SP), e da deputada estadual Alana Passos (PSL-RJ).
“O banimento dessas páginas comprova o que a Polícia Federal e a própria CPMI das Fake News já sabe, de que existe mesmo o ‘gabinete do ódio’ e que essa estrutura atua fortemente desde as eleições 2018. Aliás, foi por meio dessa rede de fake news que Bolsonaro conseguiu se eleger. Por isso temos que reforçar o pedido de cassação da chapa Bolsonaro-Mourão no TSE”, defendeu a deputada Luizianne Lins (PT-CE), integrante titular da CPMI das Fake News.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ainda vai julgar quatro ações que pedem a cassação da chapa Bolsonaro-Mourão, por uso de fake news para atacar adversários. As acusações são baseadas em denúncia publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, antes do segundo turno, que apontava a existência de um esquema de contratação de pacotes de disparos em massa, por empresários aliados de Bolsonaro, para atacar o então candidato petista Fernando Haddad. A prática é ilegal porque, desde 2015, empresas são proibidas de contribuir com campanhas eleitorais.
Gabinete do ódio e Bolsonaro
Em uma série de manifestações pelo Twitter, o líder da Minoria no Congresso e integrante da CPMI, deputado Carlos Zarattini (PT-SP), disse que a ação do Facebook “é um duro golpe no bolsonarismo e na rede de fake news” que apoia o presidente. Ele ressaltou ainda que a decisão da rede social deixa claro que “o grupo agia em conjunto e que tem relação direta com o Palácio do Planalto”.
“Alguém ainda tem dúvida que recursos públicos pagam a rede de criação e distribuição de fake news? Os donos das contas tiradas do ar pelo Facebook são de aliados ou até funcionários do Palácio. Esperamos que o WhatsApp comece a fazer o mesmo limpa. Porque essa rede também foi usada para espalhar fake news e destruir reputações pelos bolsonaristas”, acusou. Zarattini também afirmou que “é preciso punição exemplar”, tanto para o gabinete do ódio quanto para “parlamentares que se utilizaram de contas falsas e robôs para se elegerem”.
Sobre a participação do assessor do presidente Bolsonaro – Tércio Arnaud Tomaz – no esquema, o deputado Rui Falcão (PT-SP) destacou que a ação do Facebook confirma que o “gabinete do ódio é comandado e funciona no andar do Palácio de Bolsonaro”.
CPMI das Fake News
Em entrevista à Rede Brasil Atual, a deputada Natália Bonavides (PT-RN), destacou que as dezenas de contas banidas pelo Facebook comprovam as teses da CPMI das Fake News sobre a existência de um grande esquema de produção e disseminação de notícias falsas, e de conteúdo de ódio, ligado ao presidente Bolsonaro. “Não só as apurações sobre a existência de uma organização criminosa, mas da própria existência do ‘gabinete do ódio’, que é público e notório, mas que eles vinham negando”, disse a parlamentar que também é integrante da Comissão.
A deputada disse ainda que a exclusão das contas também é relevante, porque a CPMI tem apurado que “o financiamento dessa organização criminosa é empresarial, mas depois da posse de Bolsonaro se instalou no próprio poder público”. Segundo ela, essa ação da rede social também tem importância para identificar os responsáveis pelas fake news visando uma futura responsabilização.
O presidente da CPMI, senador Angelo Coronel, disse nesta quinta-feira (9), que vai solicitar ao Facebook o conteúdo das investigações sobre as contas falsas ligadas aos filhos e aliados do presidente Bolsonaro.
Héber Carvalho com agências