Deputados da Bancada do PT na Câmara se revezaram na tribuna nesta terça-feira (14), para comemorar a decisão do Conselho de Ética que aprovou o parecer pela cassação do mandato do presidente afastado da Casa e réu no STF, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Eles aproveitaram também para alertar para a pressão que o presidente interino e ilegítimo Michel Temer fará para tentar salvar o mandato de Cunha na votação que ocorrerá no plenário da Câmara. O conselho considerou que Cunha quebrou o decoro parlamentar ao mentir sobre contas secretas no exterior e recebimento de propinas.
O deputado Henrique Fontana (PT-RS) disse que o embate nesse processo para a cassação de Cunha tem sido muito grande. “Cassar um dos políticos mais corruptos da história do Brasil, com todas as ramificações, com o governo Temer atuando na defesa de Cunha, não é tarefa fácil”, reforçou. Ele avaliou que a pressão popular, a mobilização das ruas e das redes sociais, o volume de denúncias de crimes e de provas robustas quanto a esses crimes cometidos por Eduardo Cunha, começam a se impor também no Parlamento. “Infelizmente, é um Parlamento muito atrás da sociedade, infelizmente esta Casa, em grande parte, está dissociada da vontade popular. Mas antes tarde do que nunca”, afirmou.
Henrique Fontana alertou que nas próximas semanas os parlamentares sofrerão pressão do presidente interino Michel Temer, “que tem colocado toda a força do governo para pagar a conta para Eduardo Cunha que, ilegitimamente, conduziu o golpe parlamentar que alguns insistem em chamar de impeachment”. Para Fontana, se não fosse Cunha, por vingança para tentar obstruir a sua própria questão na justiça, “jamais teria andado aqui aquele processo ilegítimo de impeachment”.
O deputado do PT gaúcho disse que é muito importante pedir para ouvir publicamente qual é a opinião de Michel Temer sobre a cassação de Eduardo Cunha. “O Presidente temporário e ilegítimo das mesóclises não nos fala o que pensa sobre Cunha. Ao contrário, organiza reuniões de ministros seus com partidos da sua base de sustentação ilegítima do golpe para obstruir. E basta ver que todos os votos a favor da proteção de Cunha do Conselho de Ética foram de quem votou a favor do golpe e de quem sustenta Temer ilegitimamente na Presidência”, argumentou.
O deputado Assis Carvalho (PT-PI) destacou que, mesmo diante de toda “a chantagem feita pelo presidente interino e golpista, Temer, para salvar o seu pupilo, Eduardo Cunha”, o Conselho de Ética, por 11 a 9, aprovou o parecer que pede a cassação do político. “Eu tenho certeza que, neste Plenário, com a força popular, com a manifestação das ruas, Eduardo Cunha perderá o mandato e, logo depois, será preso por todo o mal que vem fazendo ao Brasil, por envergonhar o Brasil em relação ao mundo”, afirmou.
Indefensável – A deputada Moema Gramacho (PT-BA) lembrou que Cunha teve amplo direito de defesa, “mas era indefensável”, ironizou. Ela também citou que havia uma conspiração entre Temer e Cunha para um assumir o Executivo e o outro salvar o seu mandato. “E ainda há esse conspiração, eu não sei até quando isso continuará, porque muitos deputados no Conselho de Ética fizeram questão de afirmar que, se não fosse Eduardo Cunha, Dilma não teria saído naquela sessão do dia 17”, citou. “Temer e Cunha estão juntos. Não há como fazer diferença dos dois. Eles fizeram tudo, o tempo inteiro, juntos”, criticou.
Credibilidade – O deputado Givaldo Vieira (PT-ES) destacou que o Conselho de Ética tomou uma decisão extremamente importante para o resgate da credibilidade da Casa em relação à questão ética, depois de um processo longo, que sofreu diversas intervenções do próprio Eduardo Cunha. “Ele usou todos os poderes envoltos na condição de presidente para procrastinar, atrasar, protelar, dificultar, e mudar decisões, e integrantes do Conselho, para constranger deputados e testemunhas. Mas, hoje se deu o primeiro passo para se estabelecer nesta Casa um limite, uma linha divisória entre o que pode e o que não pode na vida pública”.
O deputado Wadih Damous (PT-RJ) considerou a decisão do Conselho de Ética importante para a democracia e para o saneamento dos costumes político aqui no Brasil. “Mas é fundamental que essa cassação seja confirmada por este plenário. Essa é uma tarefa da Câmara dos Deputados, que nós não podemos deixar à mercê da tutela da Procuradoria-Geral da República ou do Supremo Tribunal Federal”, afirmou. E alertou que não basta simplesmente cassar Eduardo Cunha. “Há uma agenda proposta por ele, pela base do governo golpista, a proposta da agenda reacionária, a proposta da agenda da revogação de direitos que não podemos admitir que isso aconteça. Esta luta continua”.
Vânia Rodrigues
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