A chegada da variante Delta ao Brasil, responsável por uma aceleração das infecções por Covid-19, pode arruinar as estratégias de autoridades de saúde para o controle da pandemia no país. De acordo com o Ministério da Saúde, o número de casos da nova cepa cresceu 84% em apenas uma semana. O Brasil ultrapassou a marca de 1.051 infecções, ante a 570 casos divulgados na terça-feira passada. O quadro acende um sinal alerta, especialmente no momento em que estados como São Paulo preparam uma reabertura completa das atividades. Nos EUA, um em cada cinco hospitais tem 95% de ocupação de leitos de UTI, indicando uma nova onda da doença.
A cepa Delta surgiu na Índia, é considerada mais contagiosa do que variantes anteriores e já foi espalhada em pelo menos 140 países. Dados reunidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que a nova variante é responsável por um aumento significativo de internações na América Latina, apesar de isso não significar necessariamente um crescimento nas mortes por Covid-19.
“A variante Delta, em todos os lugares em que é identificada, substitui rapidamente outras variantes que estão circulando”, alertou Maria Van Kerkhove, especialista em Covid-19 da agência. “Ainda não sabemos exatamente qual será o impacto da Delta nos países latino-americanos”, confirmou o gerente de incidentes da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), Sylvain Aldighieri, em uma entrevista coletiva na semana passada.
O temor é que uma nova onda causada pela Delta resulte em uma explosão de casos ao redor do mundo, afetando diretamente o sucesso dos programas de vacinação nos países. Mais de 210 milhões de pessoas já foram infectadas por Covid-19 desde o início da pandemia. Com a Delta, esse número pode saltar para 300 milhões até o início de 2022, de acordo com projeções da OMS.
“Tudo leva crer que variante delta ganhou competição com nossa variante gama”, afirmou neurocientista Miguel Nicolelis, por meio do Twitter. “Agora basta olhar para os EUA hoje e ver o que nos espera em algumas semanas”, alertou o especialista. “Ao longo da pandemia, o Brasil seguiu as ondas dos EUA e Europa. O aviso não poderia ser mais explícito e claro”.
“Com aberturas desenfreadas em São Paulo, tudo leva a crer que enfrentaremos outra tsunami no Brasil”, sentenciou Nicolelis. Nunca é demais lembrar que Nicolelis acertou outras projeções sobre o avanço da Covid-19, a exemplo da segunda onda que atingiu o país no início do ano, elevando o patamar de óbitos para mais de 3 mil mortes por dia.
O Brasil perdeu até agora 41 pessoas por causa da Delta. Oito estados registraram óbitos, sendo que o Paraná lidera a lista, com 19 vítimas fatais. Em número de casos, o Rio de Janeiro responde por quase metade dos diagnósticos, 431. Outros 15 estado e o DF também registram casos de contágio pela Delta.
O fator Delta levou especialistas a recomendarem prudência nos planos de reabertura total das atividades. “Se em uma região, a Delta começa a se tornar a variante majoritária e a gente começa a enxergar elevação de casos, será um aviso, um alerta para as autoridades para a gente avançar em determinadas medidas”, advertiu o virologista Fernando Spilk à CNN, na semana passada.
Redação da Agência PT, com informações de Estadão, NY Times, CNBC e CNN