O ex-senador Delcídio do Amaral, réu em ação penal por obstrução da Justiça por suposta tentativa de impedimento da delação premiada do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, prestou depoimento na quarta-feira (15) na Justiça Federal de Brasília. Na mesma ação, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também é acusado de obstrução, por supostamente, de acordo com delação premiada de Delcídio, ter conversado com o ex-senador que trabalhasse para que Cerveró não assinasse um acordo de delação.
No depoimento desta quarta, Delcídio afirmou que já estava em contato com a família do executivo da Petrobras desde janeiro de 2015, muito antes, portanto, da reunião que teria tido com Lula em maio daquele ano, onde este assunto teria sido tratado.
Delcídio também afirmou que Lula não lhe pediu que obstruísse a delação de Nestor Cerveró. O ex-senador falou que não se lembra se foi ele ou Lula quem marcou a reunião de maio, nem a data exata da conversa, que teria acontecido em uma sexta-feira. Segundo Delcídio, só os dois estavam na sala. O assunto Cerveró teria surgido em dado momento, mas o ex-senador não sabe quem o mencionou, se ele ou Lula. “O assunto sobre a família Cerveró surgiu na conversa (com Lula). E eu disse que eles estavam enfrentando dificuldade, e que uma alternativa era tentar atendê-los de alguma maneira. Lula disse que estava muito preocupado com a família Bumlai, e disse ‘veja o que você pode fazer’ sobre a família Bumlai. E eu imediatamente contatei o Maurício Bumlai (filho de José Carlos Bumlai).”
Segundo Delcídio, o ex-senador e Maurício Bumlai acertaram pagamentos mensais de R$ 50 mil à família de Cerveró, que duraram cinco meses. Mas, ainda segundo o próprio Delcídio, ele não discutiu nada de dinheiro com o ex-presidente Lula, e que foi dele, Delcídio, a iniciativa de buscar o contato com o Maurício Bumlai. Essa seria, mesmo de acordo com o depoimento de Delcídio, a única suposta relação do ex-presidente Lula com as tratativas entre Delcídio e as famílias de Cerveró e Bumlai, que teriam acontecido entre janeiro e novembro de 2015.
Como a lei é clara ao determinar que ninguém pode ser condenado baseado apenas em delação premiada (realizada em troca de benefícios penais, o que é exatamente o caso do depoimento de Delcídio do Amaral), não há uma única prova que sustente a acusação de envolvimento do ex-presidente Lula em suposta tentativa de impedir a delação de Nestor Cerveró.
Em depoimentos anteriores como testemunha, tanto Bernardo Cerveró quanto Nestor Cerveró negaram que Delcídio tenha feito qualquer pedido de proteção em relação à José Carlos Bumlai ou Lula, e que as preocupações de Delcídio era apenas evitar citações ao próprio ex-senador. Delcídio negou essa fala de Cerveró feita na condição de testemunha, onde há a obrigação de se dizer a verdade, diferente da condição de réu de Delcídio.
Delcídio foi preso em novembro de 2015 graças à gravação de uma conversa dele com o filho de Cerveró, Bernardo. O ex-senador só deixou a cadeia ao acusar Lula em delação premiada, em processo da Operação Lava Jato.
No depoimento desta quarta, Delcídio também relatou que teve uma reunião com Lula, Edison Lobão e Renan Calheiros, e que Lula estaria preocupado com os desdobramentos da Lava Jato, não questionando a Operação em si ou fazendo qualquer tipo de obstrução à Justiça, mas manifestando “preocupação institucional”, com os efeitos dela no legado e na imagem do ex-presidente e de seu partido, o PT, após 13 anos de governo. Delcídio disse que Lula “teria razão”, inclusive pelo posterior impeachment da presidenta Dilma Rousseff.
No início do depoimento, advogados de Lula e outros réus levantaram uma questão de ordem sobre se o ex-senador seria ouvido como réu ou réu colaborador. Porque, como réu, ele teria direito de permanecer em silêncio, mas como réu colaborador, após um acordo de delação premiada, ele não teria o direito de permanecer em silêncio em nenhuma pergunta, além de ter o compromisso de dizer a verdade. Foi definido, então, que ele deporia como réu.
Site do Lula
Foto: Agência Brasil