Já são mais de três semanas de incêndios na floresta amazônica, em um cenário que caracteriza uma espécie de ecocídio que entristece o Brasil e o mundo. Os fatos comprovam que o governo Jair Bolsonaro é diretamente responsável, seja por omissão ou pelo estímulo aos atos criminosos que envergonham o Brasil e nos transformaram em um país que despreza a pauta ambiental.
Os números são impactantes. São mais de 70 mil focos de incêndio em 2019, quatro vezes mais do que em 2018; 26 mil focos só no mês de agosto, 82% a mais que no mesmo mês do ano passado. Só neste ano, foram 530 mil hectares de florestas desmatadas – uma área equivalente a 530 mil campos de futebol. Meio bilhão de árvores dizimadas para sempre e, junto com elas, uma biodiversidade de valor inestimável. Para recuperar a fauna e a flora perdidas, só em 300 anos.
Bolsonaro e seu ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, têm uma visão retrógrada sobre o assunto, e ao estimular ações de criminosos, madeireiros, garimpeiros, além de grandes pecuaristas e produtores de soja que só miram o lucro, esquecem que a floresta é fundamental para nosso presente e para o futuro das novas gerações. Suas ações são pautadas por interesses econômicos criminosos ou poderosos que estão por trás dos desmatamentos e dos incêndios.
Como consequência, desencadeou-se uma série de medidas controversas que levaram ao desmantelamento do aparato fiscalizatório do Ibama, ao corte do orçamento do ministério do Meio Ambiente, à redução de equipes, a questionamentos dos dados oficiais sobre desmatamento e, ainda, à extinção do Fundo Amazônia.
O capitão-presidente, deliberadamente, incentivou os crimes ambientais e, tardiamente, depois da enorme repercussão nacional e mundial, resolveu tomar providências. Nem se desculpou pela omissão diante do alerta do Ministério Público Federal de que no dia 10 de agosto haveria o Dia do Fogo, o começo de toda a tragédia.
O atual governo não entende que a Amazônia deve ser tratada como um tema prioritário, estratégico para a soberania, a segurança e o desenvolvimento nacional. A sua rica biodiversidade, sua condição de reguladora do clima, suas reservas de água doce e minerais, seus inúmeros povos e culturas deveriam ser suficientes para a garantia de políticas de proteção. Da Amazônia depende o regime de chuvas em todo o território nacional e, por consequência, a própria atividade agropecuária no país.
Depois dos inúmeros avanços obtidos pelo Brasil, especialmente nos últimos anos, com uma política ambiental fundada em uma visão de desenvolvimento sustentável, o país presencia com Bolsonaro um inaceitável retrocesso. É hora de reagir.
Devemos fortalecer os movimentos de resistência contra a destruição da Amazônia e em defesa da nossa soberania. Vamos seguir lutando para que o Brasil mantenha seus compromissos com a agenda global de sustentabilidade, preservando nossos recursos naturais da ganância de exploradores e do grande capital. A Amazônia tem um valor inquestionável para humanidade, além de ser um dos maiores patrimônios do povo brasileiro. Defendê-la é um dever de cada cidadão.
(*) Paulo Pimenta é jornalista, deputado federal (PT-RS) e líder da Bancada do PT na Câmara dos Deputados
Foto: Gustavo Bezerra