Fotos: Lucio Bernardo Jr. / Câmara dos Deputados
A Terapia Comunitária Integrativa é uma metodologia criada há 27 anos pelo psiquiatra e antropólogo Adalberto Barreto, da Universidade Federal do Ceará, e aplicada pela primeira vez na favela de Pirambu, em Fortaleza. Além do Brasil, ela vem sendo aplicada em vários países, como França, Moçambique, Alemanha e Equador. A TCI, como é chamada, atua em diversas áreas, como social, saúde e educação.
Para discutir como esse tipo de terapia pode ajudar na elaboração de políticas públicas para essas áreas, a Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF) fez nesta quinta-feira (15) uma audiência pública. O debate foi solicitado pelos deputados Amauri Teixeira (PT-BA), presidente da CSSF, e Iara Bernardi (PT-SP).
Maria Henriqueta Camarotti, é médica neurologista e mestre em psicologia. Ela afirma que o objetivo da Terapia Comunitária é construir redes sociais solidárias e mobilizar recursos das pessoas e comunidades para resolver problemas como estresse, violência, depressão e dependência química. Ela explica que o trabalho é feito sempre em círculos e com regras precisas e que no Brasil existem 46 polos em várias regiões. Só no Distrito Federal já foram formadas 20 turmas num total de aproximadamente mil terapeutas, que já fizeram 22 mil rodas da terapia atendendo cerca de 420 mil pessoas. Muitas delas em situação de risco ou com doenças graves. Dessas pessoas, 85 por cento não precisaram procurar a rede pública para outro tratamento ou medicação.
“Nossa sociedade desaprendeu a cuidar da saúde. Mas nós temos a crença que todos os problemas e conflitos têm solução, com o resgate do conhecimento dos antepassados, por exemplo, e sem medicação”, observa Camarotti. Ela informa ainda que qualquer pessoa pode ser um terapeuta em TCI e atuar como voluntário: agentes comunitários, de saúde, curandeiros, médicos, enfermeiros, educadores e artistas. “Encontrando o problema, podemos projetar políticas públicas na área social e da saúde”, conclui a neurologista.
A TCI já foi Implantada no SUS através do Programa Saúde da Família em 253 municípios, com 2.105 terapeutas formados. São atendidos de adolescentes a mulheres vítimas de violência doméstica. Esse atendimento reduziria a demanda por mais serviços de saúde, além de diminuir a medicalização do sofrimento.
A psicóloga e mestra em psicologia social da personalidade, Miriam Barreto, apresenta a experiência de uma cidade do interior do Ceará, Pacatuba, que implantou a TCI nas escolas. A terapia é usada para tratar manifestações como violência, furtos, drogas e até casos de professores ameaçados pelos alunos. “O índice de faltas, atrasos e licenças médicas estava batendo recordes”, alerta. Com frequências que podem ser semanais ou mensais, são realizadas rodas de TCI com alunos da 4ª a 9ª séries, pais, professores e servidores. A experiência foi levada para a Escola de Saúde Pública do Ceará que passou a incluir a TCI na formação de profissionais.
O coordenador de Saúde Mental do Ministério da Saúde, Roberto Tykanori, lembra que nas últimas duas décadas houve um crescimento no número de cadastramento de comportamentos considerados como “diferentes”, em uma abordagem estritamente biomédica. Ele aponta que, dessa forma, houve também aumento da medicalização. “Sendo desvio biológico consequentemente precisa de remédio. Mas não existe um tipo correto, único, de comportamento e sim variações. Além disso temos um cultura fundada em mitos e isso é fruto de sofrimentos”, explica Tykanori.
Ainda de acordo com o especialista, a Terapia Comunitária Integrativa atua de forma diferente, buscando contato com os problemas reais de pessoas reais. Ele observa que após a TCI as pessoas ficam fortalecidas e libertas, com o firme propósito de se tornarem cidadãos. Por outro lado, afirma que há muita resistência no meio acadêmico e profissional em relação à TCI, já que a metodologia não segue os paradigmas considerados “corretos”.
Sara Souza é aposentada dos Correios e mora em Brasília. Ela relata a experiência com TCI na superintendência do órgão no Distrito Federal, que tem cinco mil servidores. “Essa forma de terapia existe há quase dez anos nos Correios e com bons resultados. Casos de afastamento por dependência química e depressão resultaram com o retorno do servidor ao trabalho com o apoio da TCI”, conclui.
Assessoria CSSF