Foto: Gustavo Bezerra
Durante Comissão Geral para debater a crise hídrica e suas repercussões no setor elétrico, o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, disse nesta quarta-feira (4) que, embora o Brasil registre atualmente os piores níveis de chuva dos últimos 82 anos, o País tem conseguido mitigar essa dificuldade e manter a geração e o fornecimento de energia, a partir de uma série de ações adotadas nos últimos anos para dar sustentabilidade ao sistema.
“Estamos conseguindo isso em função da robustez do setor elétrico, em função da segurança energética e da introdução de inovação tecnológica, mesmo com reservatórios na Região Sudeste com a metade praticamente do que tínhamos em alguns anos críticos”, detalhou.
Essa robustez ocorre, segundo o ministro, num cenário em que os reservatórios hídricos, no geral, estão com níveis abaixo dos identificados em 2001, quando o Brasil viveu o “apagão” elétrico.
Ele explicou que em 2001 o País identificou um risco de qualquer déficit de energia calculado pela série histórica da ordem de 14,8%, num sistema que está estruturado para admitir um risco de 5%. Atualmente, esse risco é de 6,1% – ou seja, 1,1% de risco acima do risco estrutural.
“Por isso, em 2001, não adiantava cortar 5% da carga, não adiantava cortar 10% da carga, era preciso fazer um corte mais profundo para o sistema poder responder e trazê-lo para uma base confiável. Essa é outra diferença, se compararmos o sistema elétrico brasileiro de hoje com o sistema elétrico brasileiro de então. Hoje, com um corte de 5%, podemos ter uma redução do risco”, explicou.
Segundo Eduardo Braga, o Brasil tem hoje, diferentemente do que tinha em 2001, um sistema elétrico muito mais consistente, que interliga as diversas bacias hidrográficas brasileiras, com ritmos hidrológicos distintos, “o que dá a possibilidade de administrar o setor e fazer com que o despacho de energia obedeça a essa interligação”.
Além da interligação, ele destacou que o País, nos últimos anos, direcionou investimentos para diversificar sua matriz energética, que até recentemente era focada no modelo termo-hídrico e passou a dar ênfase a outras fontes – como biomassa, eólica e fotovoltaica.
Ao todo, o País saiu de uma geração de 80 mil megawatts, em 2001 para 133 mil megawatts, em 2014, com a previsão de chegar ao fim de 2015 com 140 mil megawatts. “Portanto, tivemos um crescimento de 67% na nossa capacidade instalada de energia”, disse.
Com relação à energia térmica, passou de 5 mil megawatts para 22 mil megawatts, no mesmo período; eólica, de 21 megawatts (praticamente nula dentro da matriz) para 4.888 megawatts entre 2001 e o ano passado; e biomassa, de 1.755 megawatts, em 2005, para 10.790 megawatts, em 2014.
Para o líder do Governo na Câmara, deputado José Guimaraes (PT-CE), todas as informações repassadas pelo ministro são consistentes e resultado do planejamento feito pelos governos do PT nos últimos 12 anos.
“Temos hoje um processo de estabilização do sistema – da geração e da transmissão. Os apagões passados eram por conta da falta de transmissão. Portanto, com os investimentos que já foram feitos e com os que estão previstos, vamos ter uma situação de razoável tranquilidade até o fim do ano”, detalha Guimarães.
Para ele, o maior risco está sob a responsabilidade específica daqueles estados que não se planejaram. “Alguém tem que se responsabilizar pela crise hídrica de São Paulo. Não planejaram e agora não podem culpar o governo federal. Nós, do Nordeste, nos planejamos. Está aí o projeto de transposição do Rio São Francisco a pleno vapor”, destacou.
O deputado Nilto Tatto (PT-SP), que já fez parte do Comitê de Bacias Hidrográficas de SP, lembrou que a crise hídrica do Sudeste e mais especificamente de São Paulo é um problema anunciado desde o início dos anos 2000, sem que o governo estadual tenha tomado providências.
“Ao longo desses últimos 20 anos, não foi feita obra alguma para interligar os reservatórios. E isso é um atraso do ponto de vista de investimento. Soma-se a esse fato o modelo de gestão que foi adotado nos últimos anos, a partir do momento em que se privatizou a Sabesp, companhia responsável pelo saneamento e água em SP, perdendo o objetivo principal da companhia, que era atender à população nessas demandas, para responder a uma lógica do mercado”, comentou Tatto.
Comissão Especial – Durante a Comissão Geral, o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) assinou ato criando Comissão Especial, de iniciativa do deputado Givaldo Vieira (PT-ES), que vai estudar e debater os efeitos da crise hídrica, bem como propor medidas para minimizar os impactos da escassez da água no Brasil.
PT na Câmara