As recentes revelações sobre como o procurador Deltan Dallagnol usou o marketing da Lava Jato para ganhar milhões de reais além do seu milionário salário pago pelo contribuinte brasileiro mostram o pântano que se tornou a República de Curitiba.
A Lava Jato tornou-se um projeto de poder mafioso que viola as leis, age de acordo com os interesses dos Estados Unidos e utiliza práticas seletivas, parciais, políticas e ideológicas, com o auxílio de parte da mídia brasileira que durante anos atuou como peça central do esquema criminoso montado em Curitiba. O conjunto de revelações do site The Intercept Brasil e seus parceiros na imprensa mostra que a casa caiu.
Matéria publicada no último fim de semana pelo Intercept e o jornal Folha de S. Paulo revela que, ao longo dos últimos tempos, Dallagnol, junto com seu colega Roberson Pozzobon, discutiam estratégias para ganhar dinheiro fazendo eventos e lucrar com fama da Lava Jato.
Ambos, segundo a matéria, montaram plano de negócios de eventos e palestras para lucrar com a fama e contatos obtidos durante as investigações da Lava Jato. “Dallagnol discutiu criar empresa sem ser sócio, para evitar questionamentos legais e críticas, para arrecadar com palestras, que segundo ele iam “promover cidadania”, conformes diálogos obtidas pelo The Intercept Brasil.
A denúncia revela algo grave: num esquema mafioso liderado à margem das leis e da Constituição pelo ex-juiz Sérgio Moro, com a participação dos dois procuradores e outros agentes de Estado, agiu-se criminosamente contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, utilizado como troféu pelos lavajateiros. Manipularam processos, forjaram provas, atuaram de maneira pirotécnica a fim de dar visibilidade à operação para, com isso, transformar o tribunal inquisitorial em máquina de ganhar dinheiro.
Dallagnol é chegado também a jabás para a sua família. Outra matéria publicada nesta terça-feira (16) pela Folha, com base em material do Intercept, denuncia que Dallagnol pediu passagem e hospedagem no parque aquático Beach Park para ele, a mulher e os dois filhos como condição para dar palestra sobre “combate à corrupção” na Federação das Indústrias do Ceará (Fiec), em julho de 2017. E ainda cobrou cachê.
E um mês depois o procurador fez propaganda da Fiec para convencer o então juiz Sérgio Moro a aceitar um convite da entidade, citando que cobrou “30K” (R$30 mil ) para dar a palestra, afora a mordomia para a família.
Nesta semana, as bancadas do PT no Congresso Nacional ingressaram no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) com Reclamação Disciplinar contra Deltan Dallagnol e Roberson Pozzobon, em razão do uso da Lava Jato para elaborar um “plano de negócios para lucrar com a fama” da operação baseada em Curitiba.
Assinada por mim, juntamente com a presidenta nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), e o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), a peça aponta a gravidade dos fatos e requer o afastamento dos procuradores por 120 dias para a apuração das denúncias.
Além da instauração do processo administrativo disciplinar contra Dallagnol e Pozzobon, a PGR precisa investigar também as empresas Star Palestras e Eventos, Polyndia e Conquer. Essas empresas precisam informar a respeito de suas relações com os procuradores, em especial no tocante a reuniões e contatos mantidos sobre os eventos e tratativas para estabelecimento de parceria comercial com Dallagnol e Pozzebon.
É extremamente importante a averiguação da existência de contratos de prestação de serviços entre eles, os termos do contratos, valores, datas e descrições de serviços, além da apresentação de cópias dos contratos e comprovantes de pagamentos realizados em favor dos procuradores e o balanço contábil e financeiro dos últimos cinco anos.
As conversas revelam que há coisas estranhas aí.
Para um procurador que ousa cogitar, conforme as denúncias, colocar a própria esposa como laranja tudo é possível. Num dos diálogos revelados, em dezembro de 2018, Dallagnol é claro: “Vamos organizar congressos e eventos e lucrar, ok? É um bom jeito de aproveitar nosso networking e visibilidade”, escreveu o procurador.
E os dois procuradores ainda cogitaram uma estratégia para criar um instituto e obter elevados cachês.
É hora de passar a Vaza Jato a limpo. Seus integrantes contribuíram decisivamente para a destruição da economia nacional, utilizaram a operação com fins políticos e ideológicos a fim de ajudar na eleição fraudulenta de Jair Bolsonaro e ainda miraram o enriquecimento pessoal, com uma indústria de palestras.
O CNMP não pode mais se silenciar. Em 2017, junto com o ex-deputado Wadih Damous (PT-RJ), protocolamos uma denúncia no mesmo conselho contra Dallagnol, que já naquele ano chamava a atenção da imprensa pela quantidade de palestras que dava. Estranhamente, a denúncia foi arquivada. Agora, reapresentada, esperamos as providências cabíveis. As conversas entre Dallagnol e Pozzobon agora reveladas mostram que o único objetivo era faturar – e muito – às custas da Lava Jato, embolsando a vultuosas quantias.
(*) Paulo Pimenta é Deputado Federal, líder da Bancada do PT na Câmara dos Deputados