Deputado “delegado” manipula repórteres em CPMI

CPMI-PETROBRAS

FOTO: SALU PARTENTE/PT NA CÂMARA

O deputado Fernando Francischini (SD-PR) tem se notabilizado como um dos principais vazadores de informações que constam no inquérito da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, onde ele trabalhava antes de se tornar parlamentar. Hoje se apresenta como “o delegado do Congresso”, mas seu histórico político o relaciona mais com escândalos relacionados com grampos ilegais – como aconteceu durante a CPI do Cachoeira, quando seu nome veio à tona como responsável pela coordenação de arapongas (grampeadores ilegais) que bisbilhotavam os telefones do Palácio dos Buritis, sede do governo do Distrito Federal. A revelação levou o PSDB – partido ao qual pertencia na época – a substituí-lo como representante do partido na comissão de inquérito. Magoado, meses depois aderiu ao Solidariedade. Agora, na CPMI da Petrobras, o delegado assume outras funções – sem ter se desligado das atividades anteriores, principalmente a de vazar informações incompletas que resultarão em ilações e pré-condenações nos jornais do dia seguinte.

Por conta dos vazamentos, Francischini tem uma relação mais do que incestuosa com repórteres e jornalistas. Ele assume a chefia das equipes e substitui o pauteiro, determinando quais perguntas os repórteres devem fazer. Sempre é obedecido.

O texto abaixo reproduz, na íntegra, gravação de uma dessas combinações sobre o que ele quer falar.

Fernando Franscischini  (ininteligível) …das licitações da compra de móveis do novo Cenpes com a filha do Paulo Roberto Costa, vocês podem me perguntar também do…deixa eu ver o que mais…da questão da organização criminosa dentro da Petrobras, que é o principal, que é (sic) os relatórios novos da Polícia Federal dizendo que tem uma organização criminosa lá dentro. Então, ou ela está enganando a gente, ou se esses órgãos, TCU, Polícia Federal tá todo mundo perseguindo o PT e a Petrobras.

Repórter da TV Rede Vida – Deputado, ontem o Paulo Roberto (da Costa, ex-diretor da Petrobras)  afirmou que não há organização criminosa mas a Polícia Federal, há uma investigação muito forte com relação à essa possível organização na Petrobrás aí, o que o senhor fala sobre isso?

Francischini – O Paulo Roberto Costa é um integrante da organização criminosa que atua dentro da Petrobras. Então, ele dizer que não existe essa organização é perguntar para alguém que ficou preso todo esse tempo, com os bens bloqueados, que sofreu busca e apreensão é ele é inocente ou não. O que nós tamos (sic) vendo hoje no depoimento da senhora Graça Foster é que ele (Paulo Roberto da Costa) tem razão. A refinaria de Abreu e Lima, pela explicação dela, que ela disse na audiência passada que não sabia, é conta de padeiro respeitando todos os padeiros desse País. Porque ela disse que a própria consultoria Cera, que atende a Petrobras, que com dois bilhões e meio era impossível em qualquer lugar do mundo construir uma refinaria. Ora, se a própria consultoria disse isso, é porque o senhor Paulo Roberto da Costa estava certo. E eles se aproveitam dessa fragilidade de planejamento, implementação de refinarias para superfaturar, para se aliar a empresas que estão desviando dinheiro público e por isso que o custo final de Abreu e Lima terminou em quase 18 bilhões e meio.

Repórter da Agência Estado – Uma das reclamações hoje da oposição é a respeito do relator estar ‘enrolando’ o depoimento e tornando mais cumprida esse depoimento. Como a oposição está vendo isso?

Francischini – Veja, o relator tinha que ter declinado de ser o relator dessa CPMI. Ele é do PT, é do mesmo partido do governo que está sendo investigado, da presidente Graça Foster, sendo filiada ou não, ela é uma das doadoras individuais da campanha da presidenta Dilma Rousseff, do PT, tá (sic) na prestação de contas do PT do Rio de Janeiro. Ele tinha que ter declinado de ser relator. Ele é suspeito, na terminologia técnica jurídica, para estar relatando isso e está demonstrando isso. Infelizmente há uma parceria da presidência da CPMI com o relator. Estão procrastinando o tempo das perguntas da oposição que são as perguntas verdadeiras, de quem está investigando. Estão colocando de uma forma que ultrapasse o limite do horário da própria imprensa para divulgar, para que isso não seja feito, e tentando ganhar no tapetão algo que não é político-eleitoral. É algo que é uma investigação criminal envolvendo o dinheiro do povo brasileiro.

Repórter da Agência Estado – Uma das declarações feitas pelo Paulo Roberto Costa é que os policiais federais estariam cometendo uma falácia a respeito do que estão acusando ele. O que tem a falar a respeito disso?

Francischini – Veja, daí ele estaria incluindo na Polícia Federal o Ministério Público Federal que deu o parecer pela busca e apreensão dele e pelo bloqueio de muitas coisas de seu nome. Estaria envolvendo a Justiça Federal, que decretou a prisão e autorizou todas as medidas; estaria incluindo toda essa investigação o Tribunal de Contas da União, que disse que há superfaturamento, há sobrepreço, há irregularidades nas obras que ele coordenava nos bastidores.O Ministério Público junto com o Tribunal de Contas disse que houve gestão temerária e a capacidade de contratar era totalmente inábil da Petrobras. Então, novamente, é o espernear de um membro de uma organização criminosa que está infiltrada na Petrobras, desviando dinheiro público, aparelhado por empresas que doam dinheiro para campanhas. Infelizmente a gente tá (sic) vendo hoje que seria um dia que a gente poderia fazer as perguntas verdadeiras para a presidenta Graça Foster. Uma manobra do governo nos parece que as perguntas estavam combinadas com o relator com a presidenta Graça Foster pela rapidez com que ela responde. Veja as respostas quando as perguntas são da oposição e veja a rapidez com que ela responde às perguntas do relator.

Repórter da Rádio Tupi – E a licitação ganha pela filha do Paulo Roberto Costa?

Franscischini – Estamos fazendo essa pergunta à presidenta da Petrobras para que ela faça, abra uma investigação interna com base em documentos apreendidos nos escritórios e na casa do senhor Paulo Roberto Costa para investigar. A participação da empresa, como consultoria da filha do senhor Paulo Roberto da Costa, na licitação da venda de móveis para o Cenpes do Rio de Janeiro. Outra licitação envolvendo a família do senhor Paulo Roberto Costa e sua influência nefasta dentro da Petrobras.

 Repórter Rádio Jovem Pan – Então valeu trazer ela pela quarta vez?

Francischini – Veja, até o momento valeu apenas para mostrar para o nosso País e para a opinião pública que o governo está fazendo um jogo para evitar investigação. O governo já notou que fazer a defesa de uma investigação criminal em que Justiça Federal, Polícia Federal e Ministério Público estão todos juntos nessa investigação e nós temos um fato marcante no último dia que foi o ministro do Supremo Tribunal Federal devolver à Justiça Federal do Paraná, ao doutor Sérgio Moro, oito investigações que não tinham autoridades com foro privilegiado, mostrando que a investigação foi validada pelo Supremo Tribunal Federal e que agora volta a correr na Justiça Federal. Isso quer dizer, teremos cenas dos próximos capítulos. Conforme a Polícia Federal abra os malotes e analisa novos documentos, novos HDs apreendidos, novos escândalos estão surgindo.

 PT no Senado

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