O líder do PT na Câmara, Carlos Zarattini (PT-SP), e o deputado João Daniel (PT-SE), repudiaram, na quinta-feira (4), o relatório da CPI da Funai e Incra que tenta criminalizar as lutas de indígenas, sem terra e outros segmentos sociais do campo, ao propor o indiciamento de 88 pessoas que são consideradas pelos ruralistas obstáculos no caminho do grande agronegócio.
Para Zarattini, o relatório do tucano Nilson Leitão (PSDB-MT) é “um verdadeiro absurdo” e só “aumenta a radicalização no campo”. O líder garantiu que a bancada petista “fará de tudo” para impedir a aprovação do parecer.
“Os setores ruralistas mais radicalizados resolveram desencadear violência de todos os tipos contra os trabalhadores rurais, indígenas e quilombolas. E aqui na Câmara fizeram um relatório que, além de falar mal de toda a política indigenista, de reforma agraria e quilombola nos últimos 30 anos, indicia mais de 30 índios, lideranças sindicais do campo, funcionários com uma vida inteira nesses órgãos [Funai e Incra], 15 procuradores do Ministério Público Federal, 16 padres e 2 bispos. É um negócio absolutamente maluco que só vai incentivar esse clima de violência no campo”, avalia o parlamentar paulista, que listou graves ataques aos povos do campo ocorridos recentemente, como a chacina em Colniza (MT), o massacre dos índios Gamela no Maranhão e os assassinatos de lideranças dos movimentos de luta por terra.
Na tribuna da Câmara, o deputado João Daniel manifestou o seu repúdio ao relatório. “É uma vergonha! Essa CPI não atendeu nenhum pedido, nenhum requerimento por parte dos partidos que defendem os índios, os posseiros e quilombolas. Ela envergonha esta Casa e defende a grilagem e a violência no campo”, criticou.
Segundo João Daniel, a CPI atuou “de uma forma brutal, no sentido de manipular o regimento e impedir que a bancada de oposição aprovasse um requerimento sequer”. Para ele, o colegiado foi feita “sem ouvir ninguém, sem nenhum compromisso com o regimento. Um preconceito aberto contra os povos indígenas, quilombolas, a reforma agrária, a agricultura familiar, uma postura arrogante e sem limite”.
A Associação Brasileira de Antropologia (ABA) emitiu nota oficial afirmando que a CPI funciona “em nome de interesses de setores políticos e grupos econômicos” e diz que acompanhará atenta o seu desenrolar.
Rogério Tomaz Jr.