O presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), em entrevista neste domingo (11), confirmou que pedirá ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), prorrogação dos trabalhos da comissão por mais 90 dias. Os últimos acontecimentos – com novas revelações sobre irregularidades apontadas na compra da vacina indiana Covaxim -, levaram os membros do colegiado a pedirem a extensão do prazo de funcionamento da CPI, que se encerrará no dia 7 de agosto.
A decisão sobre a prorrogação dos trabalhos da CPI está prevista para esta terça-feira (13), durante reunião da comissão.
“Há muito ainda a ser investigado, há pelo menos três oficiais do Exército envolvidos nas denúncias de corrupção na compra de vacinas e muita história ainda mal explicada. Creio que nenhum brasileiro quer que corrupção na compra de vacina seja colocada debaixo do tapete. Só quer melar a CPI quem tem algo a perder”, afirmou o deputado Jorge Solla (PT-BA), ao comentar o assunto.
Solla disse ainda que os novos cenários que se despontam requerem aprofundamentos nas averiguações, e que a população precisa saber quem tem interesse na elucidação do caso e quem não tem.
“É preciso que fique claro que quem não quer que a CPI avance tem interesse em evitar que esses crimes sejam investigados, porque envolvem parlamentares, membros do governo, e até mesmo o presidente, que admitiu ter recebido denúncia de corrupção na compra da Covaxin, e prevaricou ao não mandar investigar”, afirmou o parlamentar, se referindo à entrevista que Bolsonaro deu à uma rádio gaúcha nesse fim de semana.
Na ocasião, o presidente da República declarou que não pode tomar providências sobre tudo que lhe é informado. “Eu não posso simplesmente, ao chegar qualquer coisa pra mim, tomar providência”, confessou Bolsonaro, sobre a reunião relatada pelo deputado Luis Miranda (DEM-DF) à CPI da Covid.
Em depoimento à CPI, Luis Miranda – que compõe a base governista no Congresso Nacional – afirmou que durante o encontro ele e o irmão Luis Ricardo Miranda, servidor de carreira do Ministério da Saúde, relataram ao presidente Bolsonaro a pressão que a pasta estava recebendo para liberar a importação da Covaxin, do laboratório indiano Bharat Biotech.
Fatos comprovados
Para Jorge Solla, o novo flanco de trabalho da CPI conclui “que está comprovado que o governo se negou a dezenas de ofertas de compra de vacinas reconhecidas mundialmente, mais baratas e com representação no Brasil, em favor de laboratórios desconhecidos, sem registro e eficácia reconhecida, e que possuem intermediários na compra – de empresários com histórico de corrupção – ligados ao líder do governo”.
Bolsonaro participou da negociação?
O pensamento do parlamentar baiano vai ao encontro do que afirmou o relator da CPI, deputado Renan Calheiros (MDB-AL), em entrevista à Globo News, nesta segunda-feira (12). “Bolsonaro sabia. A dúvida que persiste é se participou. Eu acho que essa seria a manchete, porque não há mais nenhuma dúvida com relação a prevaricação”, afirmou Calheiros respondendo à jornalista sobre um fato grave ou impactante já apontado em seu relatório, e que manchete ou frase seria essa.
Renan Calheiros reafirmou: “Não resta, do ponto de vista da CPI, nenhuma dúvida com relação a prevaricação. A dúvida que existe, é com relação a participação do presidente na negociação”.
Provas consolidadas
O deputado petista disse ainda que, nesses primeiros meses de trabalho, a CPI do Covid conseguiu consolidar, em provas e depoimentos, que a estratégia do governo Bolsonaro em 2020 foi a de tentar alcançar uma chamada imunidade de rebanho, contaminando toda a população, ainda que isso tenha como consequência a morte de milhares de brasileiros.
“Ele (Bolsonaro) achava que não valia a pena esperar a vacina. Vivemos um genocídio, reflexo desta política, uma consequência que não foi ainda maior porque o Supremo Tribunal Federal permitiu que prefeituras e governos adotassem algumas medidas para se tentar reduzir a contaminação. Infelizmente, por culpa do governo federal, nunca chegamos de fato a fazer as medidas corretas na intensidade e no tempo correto”, criticou Solla.
Benildes Rodrigues